Carro

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Brittany— Vou buscar uma toalha — disse Santana

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Brittany
Vou buscar uma toalha — disse Santana.
Deixa que eu busco — eu disse. falamos ao mesmo tempo. uma desculpa, nós duas precisávamos fugir. corri até nosso escritório e fechei a porta, arfando, a mente funcionando a mil por hora em uma única noite, em um único instante, o mundo inteiro havia mudado. nenhuma palavra dita, nenhuma bala disparada mas nossos olhos haviam confessado tudo. ela sabia, eu sabia. não havia caminho de volta, olhando nos olhos de Santana enquanto o vinho se derramava, tive um pequeno flashback, recordações de Bogotá. não tinha perguntado a ela o que fazia ali, não tinha estranhado a facilidade com que tinha caído na minha cama. apenas havia ficado feliz, muito feliz, por tê-la ao meu lado e entre um encontro e outro, quando eu dava um jeito de escapulir para cuidar das minhas missões (quatro assassinatos em uma única semana). ela escapulia para fazer a mesma coisa, a cretina vinha mentindo para mim desde o início.(n/a: - disse a santinha) já havia tentado me matar antes, agora que estava ciente de que eu sabia de tudo, não tinha outra coisa a fazer se não me eliminar, ouvi uma porta bater em algum lugar, gelei e colei o ouvido contra a porta mas não ouvi nada. tirei minha arma da coxa, peguei um pente de balas e um silenciador da gaveta secreta. três movimentos rápidos, e as partes se encaixaram. respirei fundo e saí para o corredor, varri com os olhos a sala de jantar. as chamas das velas cintilavam de maneira estranha, como se Santana tivesse acabado de passar correndo por elas.
Santana?...Sany? — chamei. — Amor...? — nenhuma resposta, talvez já não respondesse por esses nomes, então ouvi um barulho do lado de fora. imediatamente olhei pelas janelas, a porta da garagem estava se abrindo. o carro... ela estava fugindo de carro! de um pulo atravessei a sala, saí pela porta da frente, cruzei o jardim e cheguei à garagem a tempo de vê-la engatar a ré para sair. joguei-me no caminho, impedindo que ela continuasse.
Pare o carro, Santana Marie Lopez! — não parou. em vez disso, pisou fundo no acelerador, jogou a traseira do nosso lindo Mercedes station-wagon contra a mureta externa e seguiu em disparada sobre a grama do jardim. sabia que não poderia alcançá-la simplesmente correndo atrás do carro mas talvez pudesse cortar caminho pelos quintais dos vizinhos... péssima ideia, especialmente no escuro e de saia. o quintal dos Jones foi fácil mas depois, saltei por cima de uns arbustos e...merda! aterrissei sobre um brinquedinho infantil qualquer, depois de abrir caminho entre as gangorras, pulei para o quintal seguinte e dei de cara com um cachorro que não parava de latir. em seguida... bem, digamos que tive de enfrentar toda a parafernália dos quintais suburbanos até chegar ao fim da corrida. teria sido engraçado se fosse um filme. por fim, cheguei ao outro lado do quarteirão e subi numa cerca segundos antes de Santana dobrar a esquina. não é todo dia que encontramos uma latina quente capaz de dobrar uma esquina sobre duas rodas. nossos olhos se encontraram.
Alguma coisa que você queira me contar? — berrei. a expressão no olhar dela teria incendiado até mesmo um boneco de neve, e talvez por isso a cerca onde eu me encontrava tivesse escolhido justo aquele momento para desabar e lá fui eu, meter a cara numa poça de lama. o que já teria sido uma desgraça mas então... Bum! com o impacto, acidentalmente disparei minha arma.
Merda! — as balas são assim: não há como chamá-las de volta. "acidentalmente" nunca é uma coisa boa mas há algo ainda pior do que acidentalmente disparar uma arma, é quando a bala escolhe — entre uma infinidade de alvos possíveis — acertar o pára-brisa do carro da sua mulher. C A R A L H O. se Santana já não estivesse morta... decerto viria atrás de mim.

Santana
Talvez Brittany quisesse continuar em casa e brincar de polícia e ladrão. caubói e índia. espiã x espiã mas eu já estava farta de jogar e não ficaria naquela casa nem por mais um segundo, então fugi.
Seis anos... — sussurrei, enquanto atabalhoadamente tirava o carro da garagem. — Seis anos... — saí cantando pneus pela rua e dobrei uma esquina. de repente, como dois holofotes, os faróis do carro iluminaram Brittany, encrapitada no alto de uma cerca feito uma ladra em fuga. provavelmente tinha cortado caminho através dos quintais dos vizinhos. ela berrou um insulto qualquer, que não pude entender e respondi com um olhar de poucos amigos então a cerca onde ela se encontrava desabou, jogando-a na lama, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa... uma bala atravessou o pára-brisa do meu carro! mal pude acreditar. a vadia estava tentando me matar! instintivamente fechei os olhos e meti o pé no freio, já preparada para o impacto. precisei de alguns segundos para constatar que a bala havia passado raspando pela minha cabeça. suspirando de alívio, olhei através do furo no pára-brisa e lá estava ela: a assassina e nas horas vagas, minha esposa.
Brittany Susan Lopez! — gritei, Brittany ficou de pé coberta de lama.
Calma, amor, muita calma! — ela berrou, correndo como uma louca na minha direção e acenando com a arma. — Não tive a intenção de... — mas eu estava furiosa demais para raciocinar, sabia apenas que não queria mais ouvir suas mentiras. embiquei o carro dela e pisei fundo.
Isso mesmo! — Brittany gritou. — Libere a raiva! — mas depois percebeu que eu não estava brincando. — Santana! — berrou. — Pare esse carro!
Sinto muito, amor — murmurei para mim mesma. — Não dizemos mais uma a outra, o que devemos ou não fazer. — uma das muitas coisas que Brittany não sabia a meu respeito era o fato de que ao longo dos anos, eu já havia passado por toda espécie de desafio e jamais havia perdido. muitos grandalhões poderiam atestar minha coragem se já não estivessem debaixo da terra. no último segundo, Brittany saltou sobre o capo e depois para cima do teto. dei uma olhadela para trás para ver onde ela havia caído...tudo bem, para ver se ainda estava viva. nenhum sinal de Brittany, o que não poderia significar outra coisa a não ser...ela ainda estava no teto! meio segundo depois, uma das janelas de trás explodiu com um chute vigoroso de Brittany, que em seguida se jogou no banco coberto de estilhaços. uma manobra radical pra uma bailarina, devo admitir.
amor, escuta... — ela começou a dizer, inclinando-se sobre o banco da frente mas eu já estava a meio caminho da minha própria manobra radical: abri aporta do carro e pulei fora, rolando no asfalto até subir num gramado macio. Querida Brittany — eu gostaria de ter dito depois de pular — Adeus. nosso casamento acabou, pode ficar com o carro mas ela não teria ouvido, já que berrava alto demais.

Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora