Sentimentalismo

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Santana
Na sala de reuniões da Triple-Click, as máquinas zumbiam como um Jaguar bem regulado à espera do sinal verde. assim como eu.
Muito bem, o perfil do alvo é a nossa maior prioridade, meninas. dedicação integral, utilizem todos os meios necessários: grampos telefónicos, cartões de crédito e varredura magnética de todas as frequências civis.
— Com o quê, San? — perguntou Marley, tirei da gaveta um minúsculo microcassete, todas olharam com curiosidade mas quando apertei o play, viram que não se tratava da engenhoca high-tech que aparentava ser. "Olá, você discou para Brittany e Santana Lopez. não estamos em casa neste momento, por favor deixe seu recado logo após o sinal... Biiip!" as meninas arregalaram os olhos mas preferi ignorá-las.
E vasculhem todos os bancos de dados à procura de...
— À procura do quê? — interrompeu Camila, com sarcasmo. — De Brittany Lopez? — abri a boca para dizer alguma coisa, mas as palavras sumiram. embora me custe admitir, senti o rubor se espalhar lentamente nas minhas bochechas. Camila estava coberta de razão, Brittany Lopez... onde é que eu estava com a cabeça? de repente, me dei conta de que ignorava totalmente o nome verdadeiro da minha própria esposa. que humilhação! sem falar em todo o resto. as garotas olharam para mim com uma expressão de pena e isso me deixou fula da vida!
Encontrem a mulher — rugi. tudo bem, reconheço que não agi com minha fleuma tradicional mas dadas as circunstâncias, achei que tinha o direito.
Hmm, San — disse Marley timidamente. — Acho que já a encontrei. — meu coração saltou como o de um leopardo que acaba de localizar sua presa. a equipe inteira se virou para Marley, ela ficou pálida.
E então? — perguntei. — Onde está ela? — Marley engoliu a seco.
Está aqui. — ela pressionou algumas teclas de seu computador, ampliando sobre a tela uma das muitas imagens do nosso sistema de segurança. câmeras de vigilância apontavam para o elevador quando as portas se abriram. vazio! achei que ela pudesse estar escondida. fechei o zoom, à procura de uma sombra, uma unha, qualquer coisa invadindo o campo de visão da câmera. nada. epa... algo cintilou no chão do elevador. fechei o zoom ainda mais. um minúsculo disco dourado rebatia as luzes do elevador. uma aliança e dentro daquela promessa de amor eterno, outra promessa: uma bala solitária. o recado de Brittany estava dado.
Invasão do sensor térmico no perímetro — informou Camila de repente. a tela do computador exibia uma reprodução tridimensional dos dutos do sistema de calefação e tcharam bem como a termoimagem de uma mulher se arrastando através deles. apontei para o alto, juntas, todas nós olhamos para o teto, à espera de algum ruído. Riiiiiing! pulei de susto quando meu celular tocou, atendi sem desgrudar os olhos do teto. não precisava olhar para o identificador de chamadas para saber quem era.
Já disse um milhão de vezes que não gosto de ser importunada no escritório. — fui logo dizendo.
Primeiro e último aviso, Santana. — disse Brittany, sem nenhum preâmbulo. — Você precisa desaparecer, agora.
E por que eu faria isso?
— Porque — ela disse — eu posso apertar o botão a qualquer hora, em qualquer lugar. — não resisti.
Amor, você não acharia o botão nem com uma lupa e um mapa. — um momento de silêncio. — Britt?
— Você está cinco segundos atrasada.— ouvimos uma pancada metálica no alto e seguimos o ruído através do teto, parede abaixo, até uma saída de ar... Meu Deus, ela não estava brincando! uma granada minúscula rolou para fora e continuou deslizando pelo chão. mais parecia um brinde do McDonald's ou uma granadinha da Barbie mas eu sabia que aquilo não era brinquedo nenhum. a poucos milissegundos da morte, não havia tempo para que meu cérebro ordenasse às minhas pernas para dar o fora dali!
Bum! você está morta — berrou Brittany, as últimas palavras que eu ouviria. um pequeno estalo, e um clarão intenso iluminou a sala, fugimos para todos os lados, cedendo a um impulso derradeiro inútil e então...vi que não estava morta, a granada cuspia uma fumaça vermelha e chiava, era inofensiva. pelo menos assim esperávamos. mesmo que fosse, eu estava certa de que Brittany não mandaria outro aviso. nossa história logo chegaria a um fim, fosse de que jeito fosse. do meu jeito, de preferência.
Plano de evacuação C! — berrei para minha equipe. — Rápido! — joguei-me sobre o primeiro teclado que vi e digitei um comando: o disco rígido foi completamente esvaziado. as meninas recolheram todas as pastas de arquivo, as de papel, e jogaram-nas numa urna de incineração. sem titubear, Camila lançou na mesma urna um dispositivo incendiário e — wuuufl — adeus arquivos. nossos múltiplos planos de evacuação iam longe no alfabeto, mas quase todos especificavam que nada que pudesse nos incriminar — nenhum pedacinho de papel, nenhuma vírgula, nenhuma pegada — fosse deixado para trás. enquanto eu terminava de limpar os computadores, as meninas desviaram seus esforços para as paredes do escritório: com alguns movimentos hábeis, abriram tapumes secretos e retiraram lançadores portáteis de seus compartimentos igualmente secretos. também escondida ali, uma fileira de botões era reservada para uma fuga de última hora. pressionados estes botões, as janelas se estilhaçariam numa série de explosões centrípetas que cobririam o escritório inteiro de pedacinhos de vidro, parecidos com gelo moído. em seguida, as meninas passaram os fios de kevlar dos lançadores por âncoras presas ao teto. assestaram os dispositivos na direção das janelas e dispararam garras de metal, também atadas aos fios de kevlar, rumo aos prédios vizinhos. ouvi com prazer o barulhinho produzido pelos ganchos quando se engastaram nos telhados, tão logo os fios se retesaram, os lançadores alçaram ao teto, criando rotas de fuga firmes e seguras.

 ouvi com prazer o barulhinho produzido pelos ganchos quando se engastaram nos telhados, tão logo os fios se retesaram, os lançadores alçaram ao teto, criando rotas de fuga firmes e seguras

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Camila buscou um kit de polias e alças e atou as engenhocas às cordas por fim, uma a uma, as meninas saltaram das janelas e voaram pelo breu da noite — cinquenta andares acima da mãe Terra. foi uma linda manobra, bem planejada e bem executada, mais rápida do que toda essa longa descrição poderia sugerir. eu admirava profundamente a competência e a sensatez da minha equipe, mulheres de fibra, sem dúvida alguma.
Venha, Santana! — gritou Camila enquanto eu apagava o último disco rígido, fiz um gesto rápido com a cabeça, indicando que não iria me demorar. Camila desapareceu pela janela, fiquei sozinha. dei uma última olhada no escritório tomado de fumaça, aquele lugar tinha sido para mim uma espécie de porto seguro, uma ilusão de permanência em minha vida. tinha sido um enorme prazer trabalhar ali mas era hora de partir. dei a velha sala um emocionado adeus, peguei o meu lançador e disparei, eu havia acabado de atar a polia quando pensei ter ouvido alguma coisa. virei o rosto e vi Brittany pulando do teto, ela se virou na minha direção, arma em punho e buscou o meu olhar através da fumaça. poderia atirar a qualquer instante, "está vendo?" lembrei a mim mesma. naquele ramo, um mísero segundo de sentimentalismo muitas vezes significava morte certa. devolvi o olhar de Britt com um esgar de desafio.

 devolvi o olhar de Britt com um esgar de desafio

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ela hesitou. o suficiente para que eu desse o fora, com a adrenalina a mil, saltei pela janela.

Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora