Jantar?

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Santana
Ela não deu a mínima para as cortinas. nunca se importou com a casa, acho que nunca se importou com nada dentro dela, nem mesmo comigo. então por que criou tanto caso? por que teve de arruinar algo que para mim era tão importante? ela aparentemente nunca se importou com a mesmice das coisas que mal havia numa pequena mudança de vez em quando? Mudar é bom. Às vezes fico tão entediada olhando para as mesmas coisas... chego a achar que vou enlouquecer, se não pudesse me refugiar no trabalho todos os dias... "deixa pra lá", pensei. "pendure as cortinas e pronto, vão ficar ótimas. ela vai ver, a mudança será bem-vinda." Subi numa poltrona e prendi o tecido no trilho mas a poltrona era baixa demais, eu precisava alcançar mais alto para endireitar as dobras. Então apoiei um pé sobre o braço da poltrona, outro sobre o espaldar, e estiquei os braços até conseguir o que queria. graças ao meu trabalho e ao alpinismo, eu era capaz de me equilibrar como um cabrito na ponta de uma agulha. Perfeito. então ouvi Britt entrar, pulei da poltrona imediatamente, ela levantou os olhos da correspondência pouco antes de eu plantar os pés no chão, perdendo minha acrobacia perfeita por uma questão de segundos, sorri para ela e disse:
Então, o que acha? — ela olhou para as cortinas e depois para mim, um sorriso amarelo foi o máximo que conseguiu produzir, atravessamos o jantar como duas sonâmbulas, como de costume, Britt se mostrou gentil, dizendo seu texto, elogiando a comida, eu poderia ser outra pessoa, poderia dizer o que quer que fosse, e nada disso faria a menor diferença para ela. Às vezes me sinto como um fantasma. Invisível. quase todas as noites tenho vontade de pular na frente dela e gritar: "Olha pra mim! Eu não morri! Pergunta alguma coisa! Grita comigo! Qualquer coisa, menos isso!" Às vezes fico tentada a dizer: "Quer saber o que realmente fiz hoje? Você nem vai acreditar!" em vez disso, simplesmente pego minha faca e corto mais um pedaço de carne.

Brittany
Cada jantar é um verdadeiro evento para San, eu já disse a ela um milhão de vezes: "Querida, não precisa fazer isso, não me casei com você só pra ter alguém pra cozinhar pra mim." poxa, e eu nem posso retribuir isso sem tacar fogo na cozinha. será que a gente não pode pedir uma pizza ou comer um congelado de vez em quando? de jeito nenhum. tem de ser um jantar perfeito todas as noites, desses que a gente só vê nas revistas. sei lá, talvez ela tenha sido criada dessa maneira. então, naquela noite não nos sentamos nas cabeceiras da nossa enorme mesa de jantar como o cotidiano mas uma de frente a outra. luz de velas, o escambau. mas tudo o que eu fazia parecia irritá-la, bebi meu vinho e enchi a taça novamente, ela não pareceu gostar muito disso. talvez achasse que eu estivesse exagerando na bebida outra vez, depois elogiei a comida. o prato estava realmente bonito, talvez bonito demais para ser comido.
Mas tem alguma coisa diferente... — comentei.
Acrescentei ervilhas — ela disse.
Ah, ervilhas. — Então levei uma boa garfada à boca. — Mmm... Está uma delícia. — o que foi que eu disse? Sany parecia prestes a explodir, achei melhor não dizer mais nada e fiquei calada por algum tempo, apenas comendo. depois pedi a ela que me passasse o sal, bem, passar o sal não deveria ser um problema para ninguém, certo? mas Sany adora uma competição e jamais admite perder.
Pode me passar o sal? — pedi, por algum motivo, isso a deixou irritada.
o saleiro está no meio da mesa — disse, na verdade reparando bem, o saleiro estava mais na metade dela do que na minha, não que isso tivesse alguma importância mas foi ela quem resolveu fazer da situação uma disputa.
Isso é o meio pra você? — desferi.
Está entre nós duas. — carajo, então empurrei minha cadeira para trás, fiquei de pé, andei até o meio da mesa — até a metade dela — e peguei a porcaria do saleiro, era de dar gosto, ver o sorriso de vitória no rosto dela. até que me sentei novamente e derramei meio saleiro na comida que ela havia preparado com tanto esmero, Sany engoliu seu sorriso na mesma hora. verdade seja dita, também não foi fácil engolir aquela gororoba tão salgada mas valeu a pena. dessa vez eu venci. não sei ao certo o que eu venci, só sei que venci.

 não sei ao certo o que eu venci, só sei que venci

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Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora