Trendelburg

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Brittany
Meia hora mais tarde, eu atravessava a ponte de Queensboro com o meu chofer de aluguel — um cara chamado Yousef, eu não sabia ao certo se Yousef estava contente ou puto da vida por estar me levando em seu táxi até a cidade àquela hora. — Decerto um pouquinho dos dois, eu sabia como era isso, ah, como sabia. o cara dirigia mal à beça e eu estava sufocada com o vestido então abri 2 dos seus botões.

 o cara dirigia mal à beça e eu estava sufocada com o vestido então abri 2 dos seus botões

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Assim a bebida desceria mais fácil. Caramba, eu precisava de uma birita! O táxi de Yousef estava longe de ser uma Limusine: não tinha uma janela que funcionasse e muito menos um bar generosamente sortido mas isso não tinha a menor importância, pois jamais saio de casa sem meu barzinho particular: o meu cantil de prata, com o melhor scotch que o dinheiro pode comprar. do que mais alguém poderia precisar? tirei o frasco do bolso e desatarraxei a tampinha mas não o levei imediatamente à boca, pois passamos por cima de alguma coisa no asfalto. olhando para o cantil, meus olhos caíram sobre a dedicatória gravada na prata. poxa, quanto tempo fazia que eu não parava para ler aquilo? "Às balas que não nos encontraram. Santana." saúde pra você também, gata. dei um longo trago na bebida. pela cara que fez, achei que Yousef me pediria um gole quando estacionou em frente ao endereço que eu lhe havia passado. a rua era escura e ameaçadoramente silenciosa, restos de lixo moviam-se sobre a calçada como se fossem ratos. ew talvez de fato fossem ratos. paguei ao motorista e dei a ele uma gorjeta polpuda o suficiente para que enchesse a cara e esquecesse para sempre que um dia tinha me visto, tão logo desci do carro ele arrancou em disparada como se o capeta em pessoa estivesse atrás dele. Fiquei sozinha na rua, fiz um lento giro de 360 graus e desci um bolorento lance de escada até uma porta coberta por um tapume preto, esmurrei a campainha e depois de alguns instantes a porta se abriu com um dique. entrei e olhei ao meu redor. Caramba, talvez Yousef tivesse razão. o tal lugar era sem dúvida a última parada antes do inferno, uma lâmpada nua pendia sobre a caixa registradora, revelando duas ou três prostitutas completamente grogues que mal conseguiam se apoiar no balcão, o breu me poupou de ver o que mais se passava naquela espelunca fétida. Sentei-me num banco que corria o risco de furar as tábuas podres do assoalho, encontrei meu equilíbrio e esperei que o barman notasse minha presença, por fim ele me encarou como se tivesse acabado de descobrir que eu tinha comido a mãe dele.
Fala.
— Que cerveja você tem aí? — perguntei.
Guinness... — esperei pelas outras opções mas ele não disse mais nada, assim ficaria mais fácil escolher.
Então me vê um Red Label com Club Soda, não precisa exagerar na soda. — enquanto ele me servia o drinque, recostei-me no balcão e analisei a decoração do lugar, com meus olhos acostumados à escuridão, percebi que a penumbra encobria vários tipos de contravenção: drogas, jogos, dinheiro sendo trocado por saquinhos muxibentos e pelos cantos, outras coisinhas que preferi ignorar. mais ao fundo, uma cortina parcialmente fechada marcava o início de um corredor e mais uma sequência de buracos secretos. o barman trouxe meu drinque, socando o copo sobre o balcão, talvez achasse que eu estivesse bisbilhotando demais. então virei-me para o bar e olhei para a bebida, era qualquer coisa preta, nem de longe parecida com o que eu havia pedido mas o olhar do barman sugeria que ele não era lá muito receptivo a críticas e achei melhor mandar aquilo para dentro de uma só vez. pensei: álcool é álcool. uau!
Manda mais um — eu disse, já começando a enrolar a língua, o barman me olhou de um jeito estranho e achei melhor sair um pouco dali.
Onde fica o banheiro? — perguntei e com o queixo ele apontou para a cortina dos fundos. assim que ele me serviu o novo drinque — "serviu" talvez não seja exatamente a palavra — caminhei até a cortina e cambaleando segui pelo corredor até encontrar duas portas. numa delas estava escrito: "MICTÓRIO." e na outra: "CAI FORA." mais fino impossível, uma coisa não posso negar: sempre tive problemas com as placas de "não entrar", há algo nelas que me deixa extremamente irritada, não consigo relevar. então não resisti como o poeta, escolhi o caminho menos percorrido. quase caí do outro lado.
Caralho! — alguém gritou, eu havia interrompido um jogo de pôquer. um jogo privado, muito privado. desses que só rolam nas saletas dos fundos das espeluncas. Três tipos extremamente mal-encarados e um meliante com cara de assassino olharam para mim, mal acreditando no que estavam vendo.
Mas que porra é essa? — um deles berrou.
Desculpa — eu disse, com a voz arrastada. — estava procurando o banheiro. — fiz menção de sair, mas depois, cambaleando um pouco, dei meia-volta e disse:  — Isso aí é pôquer?
— Jogo privado — disse alguém. — vaza para Trendelburg — pensei: rapunzel, sério?
Mas tem uma cadeira vazia. — observei, outro cara se virou no assento e me encarou.
Que parte de "volte para Trendelburg" você não entendeu?
Tem certeza? — com certa dificuldade, levei a mão ao bolso.
Tenho muito... — antes que eu pudesse terminar, o meliante com cara de assassino saltou da cadeira e encostou o cano frio de uma semi-automática na minha testa. gelei.
Calma lá, amigo, é só a minha grana. — lentamente tirei a mão do bolso e mostrei a ele um farto maço de notas, então eles sussurraram algumas palavras entre si, nada que eu pudesse compreender mas ouvi alguém chamar o meliante de Curtis. Tive a impressão de que ele era o manda-chuva por ali, eu podia ler na testa de Curtis: "Almofadinha rico, com cara de merda e o bolso cheio de presidentes mortos, precisando fazer um depósito
Que mal haveria nisso?" — eu estava quase dentro.
Sei lá, tem essa cadeira vazia aí... — falei.
Essa cadeira tem dono — rugiu Curtis. — É do Lucky, era só isso o que me faltava.
E quando o Lucky vai chegar?
— Na hora que ele quiser, porra.
— Mas quem sabe eu posso ficar no lugar dele até ele chegar? — arrisquei. — você viu, eu tenho uma bolada. — os caras em volta da mesa trocaram olhares como se eu não estivesse em condições de decifrar o que se passava na cabeça deles: "Que tal a gente se divertir um pouco enquanto o Lucky não vem?" Curtis afastou a cadeira vazia com um chute. sorrindo como uma idiota, me joguei em cima dela.

Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora