Brittany
Poxa, não foi fácil escrever sobre o passado, sobre Bogotá mas isso foi uma coisa. Outra coisa é escrever — como pediu a dra. Fabray — sobre minha vida atual, sobre a situação do meu casamento. ela deveria saber, coisas desse tipo: escrita, são muito difíceis para mim. eu me expresso dançando até desenhando ou (-atir-)
— Justamente por isso — ela me disse, acha que tem um monte de coisas que me perturbam, muita merda reprimida. coisas sobre as quais evito pensar, com as quais me recuso a lidar e muitas vezes, segundo ela, a única maneira de colocar tudo para fora é por meio de um diário.
— Deixa disso, doutora — brinquei. — quando a dança não é suficiente, o saco de pancadas geralmente resolve os meus problemas. — mas a dra. Fabray não riu, então aqui estou. Humm... Eu não sabia como começar, então telefonei a dra. Fabray para dizer que a terapia não estava funcionando e agradecê-la mesmo assim, estava prestes a desligar e enterrar toda a história no passado quando ela me interrompeu. É uma filha-da-puta persistente, essa dra. Fabray. Falou apenas:
— Relaxe, Brittany. Isso não é um dever de casa pra escola. — E depois me lembrou de que não havia respostas certas e erradas. Sugeriu que eu começasse escrevendo sobre a noite anterior, e acrescentou: — Escreva apenas sobre o que você se lembra, o resto virá depois. — relutei mas acabei aceitando, faria outra tentativa. Então vamos lá, Ontem à noite. cheguei em casa e guardei o carro na garagem por um instante permaneci ali, ouvindo o chiado do motor enquanto tentava me recompor. o dia tinha sido longo, e o mundo que eu acabara de deixar estava a anos-luz daquele outro que esperava por mim em casa, cinco anos era tempo demais. As coisas mudaram, As pessoas mudaram ou talvez... talvez tudo tenha apenas desbotado como uma folha de jornal esquecida sob o sol. "Melhor entrar" pensei por fim, o ouvido de Sany é mais apurado que o do Super-Homem, decerto sabia que eu já havia chegado. se eu demorasse mais a entrar, ela apareceria em poucos segundos para ver o que tinha acontecido. soltei o cinto de segurança e... "Porra! Onde está a aliança?" Quase havia me esquecido de colocá-la outra vez, vasculhei todos os bolsos, e lá estava ela, no sobretudo. Coloquei-a de volta no anular esquerdo, olhei para mim mesmo no espelho retrovisor. "Fica esperta, otária." mas que porra era aquela? uma mancha vermelha no colarinho. carajo, se Sany visse aquilo, ficaria uma fera. esfreguei o tecido, mas a mancha continuava lá, o único jeito foi esconder o colarinho sob a gola do sobretudo. depois entrei correndo em casa, joguei as chaves dentro de um pote no hall de entrada. Perguntei a mim mesma — certamente não pela primeira vez — por que ficava tão tensa sempre que entrava por aquela porta. Sany apareceu do nada.
— Chegou bem na hora — ela disse com um sorriso, olhava para mim como se esperasse por alguma coisa. "Ah, sim. A manteiga. Graças a Deus não esqueci.", caso contrário seria uma ladainha sem fim, em um gesto afetado, tirei o pote de manteiga do bolso e disse:
— Você pede manteiga? Eu trago manteiga.
— Como foi seu dia? — ela perguntou ao pegar o pote.
— o mesmo de sempre — respondi, encolhendo os ombros. ela repetiu
meu gesto e hesitou um pouco, baixei o rosto para lhe dar o beijo protocolar. péssima ideia. ela me repeliu, franzindo as sobrancelhas, deve ter sentido o cheiro de álcool em meu hálito.
— Parei pra tomar alguma coisa com Laur — falei calmamente, Sany assentiu com a cabeça, mal escondendo sua reprovação e tenho certeza de que não soube esconder a minha também. ela sempre pegava no meu pé por causa da bebida porém ali havia algo mais, ela olhava para a manteiga como se olhasse para uma serpente de duas cabeças.
— Esta manteiga tem sal! — reclamou, depois levantou o pote para que eu visse melhor, isso mesmo, estava escrito com todas as letras: "COM SAL." pisquei os olhos e disse:
— E existe outro tipo de manteiga?
— Existe: manteiga sem sal — ela respondeu. — como eu havia pedido. — sussurrou em seguida, eu me mordia por dentro, por que ela insistia em me pedir esses favores, sabendo que eu nunca conseguia realizá-los a contento? Agia como uma princesa encastelada numa torre, que invariavelmente despachava a pobre cavaleira para realizar uma façanha impossível. Tentei me desculpar, mas ela me interrompeu fazendo um gesto com as mãos.
— Tudo bem. Eu... eu dou um jeito. — pensei com os meus botões: "Porra, será esse o seu maior problema de hoje?" felizmente ela tentou mudar de assunto.
— Comprei cortinas novas para a sala de estar — falou com entusiasmo.
— Comprou?
— Comprei. — depois levou-me até a sala, perfeitamente decorada, para me mostrar as novas cortinas verdes — absolutamente desnecessárias —jogadas sobre o sofá, eram enormes, e não combinavam com nada ao redor.
— Tive que enfrentar um verdadeiro cabo de guerra quando encontrei
este tecido — ela disse. — um baixinho enfezado queria levá-lo também, mas
acabei vencendo.
— Claro que sim. — ela sempre vencia. então pensei: com essas cortinas sem nenhuma estampa, talvez seja necessário trocar o estofado dos sofás. talvez um xadre, nada muito gritante, e evidentemente nada de florais, algo mais claro que as cortinas, o que significa que vamos precisar trocar o tapete persa por outro mais escuro, eu já não aguentava mais aquilo e pressentia uma dor de cabeça daquelas. então era isto: compramos cortinas das quais não precisávamos e agora teríamos de trocar o estofado dos sofás, e comprar um tapete novo para combinar com o estofado, que não teria sido necessário trocar se não tivéssemos comprado as malditas cortinas novas.
— Querida... — eu disse. — que tal ficarmos com as cortinas velhas? — Sany levantou os olhos e franziu o cenho, demorou uma eternidade para perceber que falava com as paredes sobre um assumo que me irritava profundamente.
— O quê? A gente conversou sobre isso, lembra?
— Lembro — eu disse. — Lembro muito bem que a gente decidiu esperar mais um pouco. — diante da expressão de desânimo no rosto dela, não me restou outra coisa a fazer senão suspirar. fim da encenação: minha alegre volta ao lar já havia irremediavelmente desandado, Sany alisou as cortinas como se estivessem vincadas, embora não houvesse vinco nenhum.
— Se você não gosta delas, posso devolvê-las...
— Eu não gosto delas.
— Então é melhor ir se acostumando com elas! — seguiu-se um silêncio sepulcral, como deixamos as coisas chegarem a esse ponto novamente? Já não restava a menor esperança de uma noite agradável, e isso era tudo o que eu queria naquele momento.
— Acho que vou regar as...
— Preciso preparar o... — por sorte deixamos uma a outra escapar. no jardim, liguei a água da mangueira e comecei a regar os canteiros próximos à garagem, não que eles precisassem de água mas eu precisava regá-los. Gostava do barulho da água. de alguma forma isso me aliviava, fazia me lembrar dos rios correndo para o mar. vi uma bola de basquete jogada no meio das tulipas, seria minha velha bola, ou teria sido esquecida ali por algum garoto da vizinhança? puxa.. fazia séculos que eu não batia uma bolinha, levada por um impulso, firmei a bola entre os dedos e, sem me virar para trás, fiz um arremesso em direção ao cesto na parede da garagem, depois voltei à mangueira e às tulipas. dez metros atrás de mim, ouvi a bola cantar enquanto girava no aro, eu era capaz de fazer uma cesta sem sequer olhar. Mas esse casamento... estava cada vez mais difícil, até mesmo de tentar.
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Sra. & Sra. Lopez (Brittana)
ActionBrittany e Santana Lopez aparentemente parecem formar um casal normal, mas na realidade ambas mantêm um segredo. As duas são assassinas de aluguel contratados por empresas rivais. A verdade só vem à tona quando Brittany e Santana, sem saber, recebem...