Abolimos

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Santana
Mais tarde, depois de conseguirmos passar a noite inteira sem cruzar caminhos em nossa casa enorme e perfeita, acabamos nos encontrando no quarto, geralmente vamos dormir apenas quando já não é mais possível adiar o sono. às vezes subo para o quarto ainda cedo, quando Britt está trabalhando na sala de dança ou quando está inventando moda no quartinho de ferramentas. outras vezes fico acordada até tarde, procurando coisas para fazer na cozinha, ou assistindo a um filme antigo na televisão. não raro chego a dormir no sofá, sem querer, é claro. Britt quase sempre me leva para o quarto na manhã seguinte, quando não o faz, diz que não queria me acordar. no entanto, certas noites fico pensando: se a gente pudesse ir para o quarto juntas, e conversar...conversar de verdade... mas isso nunca acontece. hoje mesmo, eu já estava na cama, lendo um livro, quando Britt entrou de pijama, e se deitou ao meu lado, procurou se ocupar com o despertador, com as cobertas, com o travesseiro... fechei o livro, um sinal de que eu podia... ser interrompida. Para conversar, para qualquer coisa.
mas como eu já esperava, ela nem sequer olhou para mim. Fazia tempo que ela não se interessava mais por interrupções de qualquer natureza.
Estou exausta — disse para as paredes.
Eu também — emendei rapidamente. — amanhã será um dia terrível.
— Boa noite, amor — Britt fez uma pausa, como se quisesse dizer mais alguma coisa, e eu esperei ansiosa. — Te amo — foi o que veio.
Também te amo — repeti, quando foi que abolimos o sujeito dessa frase? desde quando "eu te amo" deu lugar à abreviação "te amo"? boa pergunta. Pensando bem, uma coisa não equivale a outra. "E aí, tudo bem?" "Tenha um bom dia." "Te amo". frases vazias que as pessoas dizem sem pensar, respirei fundo e apaguei o abajur ao meu lado. Britt apagou o dela e nos acomodamos na escuridão, fechei os olhos e tive a sensação de que estava completamente sozinha. o que talvez fosse melhor.

Brittany
Bem, não é difícil imaginar o clima horrível que se formou no quarto depois daquele malfadado jantar. Quando entrei, Sany já estava na cama, lendo, esperei o máximo possível antes de me deitar, na esperança de que ela dormisse antes mas eu estava cansada, muito cansada, e já não aguentava mais ficar de olhos abertos. vesti apenas uma camisa dela no banheiro e me enfiei debaixo das cobertas, ela fechou o livro. depois olhou para mim, como se esperasse alguma coisa mas que diabos ela estava pensando? Quer dizer, para ser honesta... fazia muito que aquele quarto não era usado para outra coisa a não ser dormir e depois daquela noite...
Estou exausta — eu disse, ajeitando os lençóis, tentando bocejar. ela simplesmente desviou os olhos e depois disse:
Eu também, amanhã será um dia terrível. — ela parecia tão magoada que me senti uma idiota, mas eu não tinha a menor ideia do que podia fazer para remediar a situação. achei que o melhor mesmo seria dormir e acabar logo com aquele constrangimento.
Boa noite, amor — eu disse sincera, mas logo forçando um pouco a barra. — Te amo.
— Também te amo — ela repetiu automaticamente, como sempre faz. ela nunca diz "te amo" primeiro mas se eu tomo a iniciativa, ela responde de volta: "E aí, tudo bem?" "Tudo." "Te amo." "Também te amo."  Foi um alívio quando apagamos as luzes, talvez eu pudesse ter dito alguma coisa.. tocado na mão dela, feito algum gesto significativo mas ela também poderia te-los feito. ou então talvez eu... não! eu estava cansada, cansada de tentar. não consigo forçar uma barra para sentir alguma coisa que não estou sentindo.  ela esperava o quê? afinal o que eu estou esperando também?

Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora