A Dor do Passado

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No caminho de volta a mansão, Adrien percebeu que os olhos de Marinette estavam ainda mais frios e com mais dor. Era compreensível. Todas aquelas pessoas, sofrendo, passando por dificuldades, era perturbador. Adrien não sabia, mas cada vez que Marinette completava suas entregas, ela voltava com cada vez mais sede de sangue. Dentro de si o ódio a consumia. Ódio pelas pessoas que haviam destruído a sua vida e a das pessoas em todo o reino. Ódio por não poder fazer nada para impedir os acontecimentos. Ódio por ter fugido, ao invés de lutar. Desejava o sangue daqueles que tiraram o sangue de sua mãe. Desejava o sangue daqueles que tiraram o sangue de centenas dos moradores de Paris. Ela fechou sua mão esquerda em um punho, fazendo suas unhas cortarem sua carne.

-Marinette! - sussurrou Tikki no ouvido da azulada, tirando-a de seu transe - Se acalme.

-Estou bem, Tikki. - sussurrou a azulada.

-Sua mão diz outra coisa.

Marinette olhou para sua mão, que tremia e pingava algumas gotas de sangue. Ela rapidamente escondeu a mão em seu bolso e olhou para Adrien pelo canto dos olhos. Deu graças a Deus por ele não estar olhando e estar do lado oposto a sua mão ferida.

Eles entraram na pensão que estava silenciosa, e ambos seguiram para o quarto. Marinette entrou e correu para o banheiro, Adrien apenas a observou entrar no banheiro e se trancar, depois se jogou na cama. Estava cansado e ver todas aquelas coisas, havia o deixado pesado e deprimido. Ele tirou seu disfarce, sua capa e se deitou, colocando as mãos atrás da cabeça.

No banheiro, Marinette lavava sua mão e tentava fazer o sangue parar. Não era um corte grande, mas mesmo assim, caia bastante sangue. Assim que o sangue estancou, ela enrolou uma faixa e sua mão. Ela saiu do banheiro sem olhar para Adrien e pegando sua mochila, pegou um par de luvas e coloco nas mãos. Adrien estranhou o ato.

-Está colocando luvas, por quê? - questionou o loiro.

-Nada de mais. Algumas ervas que eu mexo, são um pouco ácidas e terminam queimando a minha mão. Então eu passo uma pasta especial e coloco luvas para manter a pasta por mais tempo.

Marinette odiava mentir e odiava mentiras, mas precisava fazer isso.

Adrien se sentou na cama e bateu no colchão, convidando ela a se sentar. Ela se aproximou e se sentou ao lado dele. Ele passou por trás dela, a deixando entre suas pernas e a abraçou. Ela colocou suas mãos sobre os braços dele e encostou a cabeça no ombro do loiro.

-Como você consegue fazer tudo isso? - questionou o loiro - Como consegue sair e enfrentar toda aquela dor e desespero? Como consegue ser tão forte?

Marinette sentiu vontade de chorar. "Forte", era um adjetivo que ela não acreditava fazer parte de si. Ela se sentia impotente e destruída todas as vezes que enfrentava o mundo. Se sentia culpada por boa parte das coisas que estavam acontecendo. As pessoas sorriam para ela, e a agradeciam. Mas será que fariam isso se soubessem quem ela realmente era?! Isso lhe corroía.

-Eu preciso. - disse ela engolindo o choro pela centésima vez - Se eu não fizer, quem fará?

-Percebi que você só aceitou dinheiro de uma pessoa. A mulher da mansão.

-Geralmente eu não cobro pelos meus serviços. Se as pessoas precisam da minha ajuda, eu ajudo. Mas aquela mulher é uma megera. Ela maltrata seus empregados, humilha todos abaixo de si, expulsou a própria filha de casa aos quinze anos por ela ter se apaixonado por um garoto pobre.

-Ela deserdou a filha? - disse Adrien incrédulo.

-Deserdou sem pensar duas vezes. A mais de cinco meses, ela foi diagnosticada com uma doença terminal. Ela ouviu falar sobre mim e me mandou ir até a casa dela. Eu me recusei a preparar o tratamento dela, ao saber que ela humilhou cada um dos outros médicos que a atenderam e fez com que o médico que deu o diagnóstico da doença dela, fosse demitido do hospital, apenas por ter recebido a notícia.

Entre Máscaras e ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora