John

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Aquela nota melodiosa e melancólica soava ao longe. Eu caminhava e caminhava por aquele longo corredor escuro com paredes espelhadas, à procura da origem daquele som; e nada.
Quanto mais rápido me locomovia, mais distante e inalcançável a melodia ficava.

Demorou alguns instante para enfim reconhecer a música; há muito guardada nas profundezas de meu cérebro, porém muito conhecida. Logo, sigo caminhando pelo corredor, e a cada passo que dava ficava mais frio, e a música ainda mais melancólica. Obviamente que estava sentindo-me muito apavorado, o quê não era, nem de longe, algo bom. Nada que vinha de um local estranho e frio seria bom; mas os anos vividos no Afeganistão me ensinaram que onde tem fumaça, tem fogo. E não era do meu feitio fugir de algo que instigava minha curiosidade.

Continuei minha saga através das notas melancólicas daquele violino que teimava em se esconder; era deveras curioso, entretanto o único jeito de desvendar esse mistério, seria chegando até dito cujo. Ao que pareceu ser horas depois, consigo então ouvir mais claramente.
De fato, era a porta vermelha com marcas de desgaste logo à minha frente. Então, assim que meus dedos giram a maçaneta, um barulho ensurdecedor me trás de volta a realidade.

*BAM BAM BAM*

Abro meus os olhos atordoado. Rosie dormia como um anjo em seu berço na outra extremidade do quarto - o que me tranquiliza.

*BAM BAM BAM*

Pisco duas vezes para clarear minha mente e me adaptar à escuridão do quarto. Olho para a cabeçeira da cama e vejo as horas no relógio despertador. Passavam das 4 da madrugada.

*BAM BAM BAM*

-Mas que diabos... -Levanto-me da cama de um pulo, pego minha arma que como de costume, mantinha em minha mesinha de cabeceira e vou para a sala em direção a origem das batidas.

*BAM BAM BAM*

-Quem é? -Pergunto sentindo o nervosismo me tomar conta de mim. Desde à morte de Mary, tudo em minha vida havia mudado, eu não era o mesmo John Watson, e coisas que antes eram normais, hoje não mais importavam. -Identifique-se!!

-JOHN... SOU EU!

A voz me era conhecida.  O que tornava ainda mais estranho ouvi-la tão repentinamente, pelo simples fato de passar das quatro da madrugada, em um dia terrivelmente chuvoso do inverno rigoroso de Londres.

-Sra. Hudson, é a senhora? -Pergunto perplexo, olhando para a madeira fria da porta.

-Sim querido,é claro que sou eu. -Ela diz impaciente. -Por favor abra essa porta, estou congelando aqui fora.

Faço o que ela pede sem questionar, mesmo ainda me vendo muito intrigado com toda aquela situação.
Fazia alguns meses que não recebia visitas em minha casa, o quê tornava cada vez mais desconcertante aquilo que se seguia. Assim que abro a porta, a senhora tão conhecida por mim - pequena e frágil, de feições amigáveis -, pula em meu pescoço, chorosa e trêmula.

-Oh, John... Oh, John...

-Sra. Hudson, o quê aconteceu? É tarde para a senhora estar na rua...

-É o Sherlock, John... O sherlock!

Ao ouvir aquele nome, sinto a bile me subir violentamente forçando minhas feições se contraírem. Sem perder mais tempo, desvencilho-me dos braços trêmulos da Senhora em minha frente e lhe lanço um olhar de desaprovação.

-Por favor querido, não me olhe assim. Não viria até você, se não fosse realmente alarmante.

-Eu já lhe avisei, Sra. Hudson... Isso não me interessa, não é da minha conta... Não quero saber... NÃO QUERO SABER!! -Foi impossível manter a calma perante ao ocorrido, Sra. Hudson me lança o olhar de reprovação mais severo que já vi em seu pequeno rosto, fazendo com que me sinta pequeno perto dela.

-Não grite comigo, John Watson! Onde está seu respeito?

-Me perdoe, mas já lhe disse, não quero saber nada relacionado à ele.

-Pelo amor de Deus John, Sherlock precisa de você, ele está se matando.

-Ele tem família -digo ensandecido pelo rancor.  -Porquê a senhora não fala com Mycroft?

-Você acha que não tentei? Que não tentamos? -Diz ela sentando-se no braço de minha poltrona, desconsolada. Ando até ela, e vejo a tristeza em seu olhar transbordar. -Toda vez que Mycroft tenta por os pés o mais próximo que seja da porta do 221B, Sherlock ameaça mata-lo.

-Sra. Hudson, lamento lhe desapontar, mas não vou fazer nada sobre isso. -Digo dando de ombros, mesmo sentindo meu estômago afundar alguns centímetros em meu corpo.

-Ah querido, eu imploro ajuda... Não aguento mais vê-lo daquele jeito John. Ele não come há dias, passa a noite toda caminhando em círculos dentro do apartamento, e durante o dia, quebra coisas e atira em todas as paredes do apartamento. Os vizinhos já chamaram a polícia 3 vezes só nessa semana.

Imagino toda aquela cena, e como conhecia tão bem o homem de quem estávamos falando, conseguia ver perfeitamente sua decadência; seu descontrole; ou o extremo do tédio. Mas ainda assim, não me deixo dominar.

-Lamento mesmo sra. Hudson, mas isso não me interessa mais. Faz tempo que deixou de ser problema meu...

-Não fale besteira John Watson! -A pequena senhora levanta-se de um salto da poltrona e aponta o fino dedo indicador para mim extremamente desgostosa. -SHERLOCK FALA SEU NOME TODAS AS NOITES. EU LHE ESCUTO CHORAR INCANSAVELMENTE, O QUÊ É EXTREMAMENTE SURREAL.  E ENTÃO, SE VOCÊ TEM UM CORAÇÃO DENTRO DESSE MALDITO PEITO, VAI AGORA MESMO PEGAR SEU CASACO E IR ATÉ A 221B DA BAKER STREET SEM ME QUESTIONAR!! -Berrou Sra. Hudson, fazendo Rosie acordar chorando. -Desculpe-me querido, eu fico com Rosie para que possa resolver esse pendente.

-Mas...

-NADA DE MAS, JOHN... NÃO DISCUTA E ANDE LOGO COM ISSO!

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Espero que gostem...
Beijus da Ana ❤

Aprendendo a Amar (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora