John

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Sinto um movimento atrás de mim, mas contenho o impulso de me virar, não queria de forma alguma que Sherlock me visse naquele momento. Já era demais para mim toda aquela situação, ver as feições dele enquanto fala não ajudaria.

-Eu me arrependo de te machucar, em todas as vezes que fiz isso, John... -Sherlock fala firme, tinha uma pontada de inveja, pois queria conseguir manter a calma assim como ele. Minha respiração denuciava minha angústia, queria quebrar aquele quarto... Queria ao mesmo tempo abraçar meu amigo... Tudo era muito inconstante. -Você não sabe o tanto que me doi saber que estraguei sua vida... Queria que acreditasse quando digo que nunca desejei isso...

-... Mas simplesmente achou que se matando com drogas iria resolver seus problemas...

-... Eu queria mostrar a mim mesmo o quão desgraçado sou... E nada me mostra mais isso que a metanfetamina...

-Você fala isso tão orgulhoso de si. -Digo sentindo uma subita vontade de socar a cara de Sherlock.

-Não era para me orgulhar, e sim apenas para confirmar o que eu já sabia John... Nunca questionei o fato de você ter sumido da minha vida, porque você estava com razão, a questão era que não conseguia viver assim...

-Assim como? -Pergunto sentindo a ansiedade me consumir. Porque aquilo estava me afetando tanto?

-Sem você...

E com uma destreza digna de aplausou, e sem nem ao menos pensar direito, acerto meu punho fechado no maxilar saliente de Sherlock. Me virando tão rapidamente que sinto meu joelho esquerdo estalar no giro. Assim que acerto o soco, Sherlock cai para trás em cima da cama com um filete de sangue se formando em seu lábio inferior. Meu peito subia e descia rapidamente, com a tensão da situação. Sherlock permaneceu deitado na cama de costas, a mão direita segurando o maxiliar. Minha mão latejava, tamanho foi o impacto no rosto do homem a minha frente.

-V-Você está bem? -Pergunto arfando com o pico de adrenalina ainda em minha corrente sanguinea. Sherlock levanta a cabeça e concorda ainda segurando o maxilar. -Ótimo...

E levanto Sherlock da cama pelo colarinho do pijama azul que estava usando, ele me olha intrigado, porém levemente assustado, finjo não ligar, só queria descontar minha raiva.
Com as duas mãos seguro com força o colarinho, lhe grudando na parede oposta.

-Odeio você Sherlock Holmes, Odeio tanto você...

-Não, você não odeia John...

-CALA ESSA BOCA... -Grito em sua face, lhe fazendo piscar os olhos. -Poderia quebrar sua cara aqui e agora...

-Faça isso John, é seu direito, eu mereço isso. -Sherlock fala calmo, olhando fundo em meus olhos,  e minha fúria chega ao ápice. Queria muito descontar tudo no homem à minha frente, mas não conseguiria.

-NUNCA MAIS FAÇA ISSO...

-Nunca!

-NÃO BRINQUE COMIGO SHERLOCK! -Digo lhe puxando para mais próximo de mim. Sinto as mãos de Sherlock segurarem os dois lados da minha cabeça.

-John, nunca brincaria com você... Me perdoe... Por favor me perdoe. -Ele diz com a voz falhando. Sherlock nunca mostrou sentimentos facilmente, de todos os anos em que convivi com esse homem, quase nunca lhe vi tocado ou emocionado. E agora ali em minha frente, com minhas mãos lhe apertando o colarinho do pijama, vejo seu rosto se contrair... Ele estava chorando. -Só me perdoe, John Watson... Por tudo... Por Mary... Por Rosie... Por isso que você presenciou... Sou fraco.

Sem perceber, afrouxo o aperto em seu colarinho, e lhe puxo para mim, em um abraço, tão apertado e cheio de palavras não ditas, que não saberia dizer quanto tempo ficamos assim.

Minutos depois, nos afastamos como se ambos tivessem levado um choque, pigarreio algumas vezes, e vejo Sherlock disfarçar que estava arrumando o lençol da cama enquanto limpava as lágrimas. Ando dois passos para o lado, e começo a rir... Do nada e incontestavelmente. Sherlock rapidamente me olha de soslaio, meio sem entender, e então cai na gargalhada junto comigo. Nunca ri tanto em minha vida, os lados de meu corpo doiam com a intensidade das gargalhadas. A cada contato visual que Sherlock e eu faziamos, resultava em mais alguns minutos de uma risada nada normal e muito forçada.

-Você tinha que ver sua cara quando te soquei... -Digo entre risos. Sherlock ria junto meio curvado aos pés da cama.

-Obviamente que fiquei boquiaberto Watson... Fui pego de surpresa. -Ele diz voltando a ser o Sherlock Holmes que eu de fato conhecia.

-Foi um belo golpe. -Digo tentando me controlar, a respiração falha.

-Foi mesmo... Estamos quites agora? -Ele pergunta ficando novamente ereto, ajeitando o pijama e me olhando brincalhão.

-Talvez, em algum momento vou explodir novamente... Mas por hora, estamos quites. -Digo enfim calmo.

-Já estou ansioso para o próximo soco. -Sherlock diz irônico.

-Não começe Holmes... Você ainda está em minha lista negra.

-Por Deus, John... Lista negra é tão entediante.

                             ××

Os dias passaram, inicialmente, Molly, Mrs Hudson, Lestrade e eu nos revezavamos... Cada um tomava conta de Sherlock um dia. Não que isso o alegrava, mas era a consequência de ser um dependente químico.

-Pelo amor de Deus, não preciso de babá...

-Não é o que parece. -Diz Greg assim que sai de seu posto dando a vez para mim.

-Você não tem que cuidar de uma delegacia cheia de incompetentes George? -Sherlock fala largando seu violino no suporte.

-É Greg! -Lestrade fala bufando. -Por Deus John, amarre o bebezão, porque hoje ele está impossível. -Ele diz e saí do 221B à passos firmes.

-Desse jeito vai ficar sem babás Sherlock. -Digo brincalhão, olhando para ele, que semicerrou os olhos à contra gosto.

-Muito engraçado Watson. -Ele diz e senta em sua poltrona. -MRS HUDSON, TRAGA-NOS UM CHÁ!

Sherlock grita, me fazendo saltar com o susto.

-SOU SUA SENHORIA, NÃO SUA EMPREGADA SHERLOCK... MAS LOGO LEVO. -A senhora responde igualmente gritando do cômodo ao lado.

-Você poderia ir até a cozinha que é à menos de um metro e meio de onde está e você mesmo fazer, não acha Sherlock? -Digo sentando em sua frente, na tão familiar poltrona. O mesmo me olha e vejo o canto de seus olhos enrugarem em um sorriso contido.

-Não seja estraga prazeres John.

Sorrio para ele, seu humor estava tão bom que era até contagiante. Desde o fatídico dia em que lhe encontrei a beira da morte, Sherlock se mantinha instável e amigável.

-Volte morar aqui John. -Ele diz com as mãos unidas em frente ao rosto, tão repentinamente que me pega desprevenido.

-Como... Mas porquê? Tenho uma casa Sherlock. -Digo meio perdido.

-Essa é sua casa, sua e de Rosie. -ele diz ainda impenetrável.

-Mas Você vai conseguir viver com uma criança de 8 meses? -Pergunto intrigado.

-Bom, crianças no geral me entediariam... Mas Rosie é uma Watson, ela é membro da família.

Aquilo era o mais humano que Sherlock Holmes poderia ser, e isso me deixa sem palavras.

-Ah Deus John, não vá chorar.

-Eu não estou chorando Sherlock.

-Seu pescoço está rubro, suas narinas inflaram, você mordeu o lábio inferior para impedi-lo de tremer, e sua pupila diminuiu alguns milímetros... Sim você está embargado. -Ele fala daquele seu jeito sabe tudo insuportável.

-Cristo... Agora entendo porque os outros fogem daqui todos os dias. -Digo revirando os olhos.

Sherlock sorri. E sinto um frio subir minha espinha, à alguns dias aquele sorriso me causava isso.

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Esses dois 😍

Aprendendo a Amar (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora