Sherlock

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(...)

John variava entre furioso e desconcertado, ambos nos olhando firme, sem ao menos piscar. Havia dado à ele um ultimato, e naquele momento já não sabia se tinha feito o certo, o medo de ter posto minha amizade com John no buraco estava começando a me tomar. O ar ao nosso redor estava pesado, eu mesmo sentia dificuldades de colocá-lo em meus pulmões, e imaginava que para John Watson tudo aquilo era ainda mais acentuado, levando em conta o tanto que o homem era inseguro e antiquado.
O silêncio pairava, fazendo uma pontada de nervosismo me acertar em meio ao estômago, obviamente que se John rejeitasse o que lhe disse, iria partir meu coração, mas pelo menos saberia sua posição e então poderia enfim esconder aqueles sentimentos que a muito me maltratavam. Inesperadamente, o mais baixo aproxima seu rosto do meu, se mantendo na ponta dos pés, narizes quase se tocando, involuntariamente fecho meus olhos esperando o que sim, já desejava à muito.

-Não faça isso comigo Sherlock. -Abro meus olhos novamente vendo o homem falar entre dentes, parecia ferido, mesmo a decepção do esperado que não ocorreu, sinto meu peito doer ao som de sua voz. -Apenas... Não faça isso...

-Não se preocupe John... Não vou mais lhe importunar com isso... É uma promessa, me desculpe... Estava enganado. -Digo dando um passo para trás, não poderia de forma alguma vê-lo daquela forma, não poderia machucar John Watson, mesmo abrindo um corte profundo em meu próprio coração.

Me afasto o suficiente para que pudesse sentir a brisa fria do 221B voltar a adentrar em meus pulmões, quebro o contato visual com John, para que ele conseguisse se recompor.

-Sherlock...

-Não se preocupe John, está tudo bem... Estamos bem... -Falo indo para a sala, pego meu violino e antes que meu companheiro pudesse voltar a falar algo, começo à tocar de costas para a sala, olhando através da janela.

                                ××

Dias se passaram, estranhos, torturosos, agoniantes e sem vida. Sim... Era dessa forma que me sentia, nunca havia me iludido, nem ao menos sabia o que era ter um coração partido, e descobrir aqueles sentimentos não estava sendo nada atrativo. Obviamente que mantinha uma postura normal em frente ao meu colega de quarto, jamais aceitaria colocar no mesmo, o peso da culpa, ele não merecia aquilo, John era um homem bom demais para ter de lidar com consequências que ao menos tinha noção. Eu já havia lhe causado danos demais para uma vida, e não lhe daria mais um. Seguia meus dias fingindo ser o Sherlock Holmes conhecido por todos, até enfim me encontrar sozinho em meu quarto... E ai sim me deixar penar, deixava a dor me tomar para si, como uma amiga acolhedora.
Graças a Mycroft, havia um caso cheio de pontas soltas no governo Britânico para desvendar, e aquilo ocupava minha mente turbulenta nos dias que se seguiram.

-Isso é ousado... Oh, muito ousado. -Digo analisando os resíduos encontrados no lenço de tecido que jazia ao lado da vítima.

-Falando sozinho novamente Querido? -Ouço a voz de Mrs. Hudson ao meu lado, nem ao menos havia percebido sua presença.

-Onde Está John? -Pergunto sem levantar os olhos da lente que analisava.

-Estou aqui! -Olho em direção a voz do homem, e lá estava ele, sentado na cabeceira da mesa em que eu me encontrava.

-Ah... Não lhe vejo à algumas horas. -Falo intrigado, voltando ao que estava fazendo.

-Estive por aqui todo o tempo. -Ele fala meio risonho, meio intrigado. -Já não é novidade você ignorar minha presença.

-Não seja dramático John.

-Querem chá rapazes? -A voz de Mrs. Hudson volta aos meus ouvidos.

Aprendendo a Amar (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora