Sherlock

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O abismo...
Em teoria, estar prestes ou próximo ao abismo, não se comparava à prática. E sim, eu me via a beira do abismo. Talvez por ser uma pessoa terrivelmente anti-social, insuportável, insensível e totalmente inconveniente na maior parte do tempo; ou então, por procurar estar em um abismo na falta de opções melhores.
Obviamente que tudo ao meu redor nesse exato momento, eram apenas borrões de cores sem sentido algum, com zero possibilidades de possíveis emoções - não que em algum momento senti qualquer tipo de emoção. Talvez antes, quando dividia o 221B com ele -. Mas agora aquele lugar que antes - mesmo que minimamente -, havia algum calor, hoje era o meu abismo mais profundo, frio, repugnante e totalmente atormentador.
Não existia mais nada, e quando penso em nada... É realmente nada.
Não sentir... Não pensar... Não desejar... Não quere ver...
Bloquear a humanidade era o gatilho perfeito para mim, e claramente fazia esquecer a dor que insistia surgir sorrateiramente a cada dia que se passava, tornando o sentido de viver cada vez menos prazeroso.

Possívelmente, estava deitado naquela mesma posição no sofá a mais de dois dias consecutivos. O excesso de metanfetamina e morfina em meu organismo havia causado terríveis alucinações, e, eu tinha quase certeza de que uma ou duas vezes teria urinado na roupa, sem ao menos ter qualquer noção real desse fato. Mas os efeitos da droga já estavam se extinguindo havia algum tempo, e toda aquela torturante crise de dor estava prestes a me tomar para si mais uma vez.

O disparo de uma arma. Os gritos incansáveis. O choro constante. E a fúria animalesca.
Essas quatro lembranças eram meus martírios, minha penitência; e repassavam hora pós hora em minha cabeça agitada e viciada, como um mantra maligno.
Um disparo...
Os gritos...
O Choro...
E a fúria...
Mais e mais via-me afundando nessas quatro lembranças. E por esse motivo o abismo se tornará meu próprio cérebro, e, não conseguia mais sair d situação.
Queria correr, me esconder como uma criança amendrontada, que via refúgio seguro abaixo da cama. Mas eu era Sherlock Holmes não era? Deveria saber como me livrar daquele mau; entretanto nada parecia capaz de me fazer sair daquilo tudo em paz. Eu vivia aqueles quatro momentos e revivia, vivia e revivia, como uma cantiga demoníaca, feita para me atormentar.

-JOHN! Não chore John...

Essa frase constantemente flutuava em minha mente turbulenta, por que vê-lo chorar sob o corpo sem vida de Mary me fazia sangrar. O propósito de tudo aquilo era minha morte. Deveria ser eu... Não Mary. Nunca Mary. Mary... Porquê fez isso...? John precisava de você Mary! E Rosie precisava... E eu...

-JOHN! Não chore John...

Eu deveria ter feito algo, jamais poderia aceitar aquele fim, conviver com aquilo. Como pude não cumprir o prometido... Como pude faltar com minha palavra a John Watson? Como fui capaz de prometer que protegeria sua família, se na verdade fui o responsável por acabar com ela... Como? Como viverei depois de estraçalhar o coração da melhor pessoa que fui capaz de conhecer, da pessoa que enfim deu sentido a minha miserável vida... Como fui capaz de não cumprir...

-John! Por favor, não chore John...

-Sherlock, acorde!

Era tão real, que conseguia ouvir sua voz... Aquela voz. A voz que me salvará do abismo todos os dias incansavelmente. Me concentrava nela sempre que sentia o fim se aproximando.

-John, prometa não chorar mais...

-Sherlock, abra os olhos...

Era tão acolhedor ouvir, mesmo sabendo que era apenas meu subconsciente me pregando uma peça. Entretanto, aquilo me acalmava.

-Queria que fosse real John...

-É real Sherlock, por favor abra os olhos e veja por si só.

Mas a escuridão me levou, e me deixei ser levado. Estava exausto. Ouvir John havia me dado uma esperança irreal e dolorosa, que tornava tudo ainda mais cruel.

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Comentem plis!
Estou mt animada com a fic, e espero que vcs gostem assim como estou amando escrever! Bjuuu

Aprendendo a Amar (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora