Capítulo 2

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PV Anastácia

Acordo para mais um dia, saio do banho correndo, visto uma, calça jeans e uma blusa preta sem detalhes, pego minhas coisas e saio do quarto tento equilibrar tudo que preciso. Entrando na cozinha encontro mamãe apoiada na pia com a cabeça baixa.

— Mãe a senhora está bem? — Pergunto me aproximando.

— Sim. — Seu rosto está pálido, tenho certeza de que não tem nada bem.

— A senhora precisa sentar.

— Estou bem filha, pode ir para o trabalho, não se preocupe.

— Mãe.

— Ana, eu só fiquei um pouco tonta me levantei rápido da cadeira, foi só isso, não se preocupe filha, tome seu café e vai ou chegará atrasada. — Analiso seu rosto por um tempo e meu coração se aperta, ao perceber o quanto minha mãe está cansada.

— Tudo bem, eu vou, qualquer coisa me liga, a senhora quer que eu ligue para o Sr. Grey avisando que não está bem hoje?

— Não precisa, daqui a pouco vou trabalhar, me pediram para ir após o almoço, parece que terá algum evento, provavelmente vou ficar até mais tarde.

— Promete me ligar se não se sentir bem?

— Prometo, agora vai trabalhar meu amor. — Dou um beijo nela, e corro para o ponto de ônibus, vendo que realmente vou me atrasar.

Moramos em um bairro muito afastado, e os horários de ônibus são péssimos, foi preciso nos mudar, quando meu pai simplesmente saiu um dia e nunca mais voltou, disse ir para o trabalho e até ontem não voltou, quem sabe retorna, hoje faz exatamente quatro anos que ele saiu das nossas vidas.

No início foi difícil, mamãe nunca havia trabalhado fora, abdicou de sua vida e dos estudos para que ele estudasse, nunca fomos ricos, mas nada faltava, até Raymond resolver que não éramos mais as pessoas importantes para ele. Quando estavam recém-casados não dava para os dois estudarem, ou ele estudava, ou minha mãe, ela resolveu abrir mão do sonho de ser assistente social para que ele concluísse o curso de direito, o combinado era que assim que ele se formasse ela retornaria aos estudos.

Foi quando mamãe descobriu estar grávida, e mais uma vez renunciou a seu sonho por mim. Quando completei quinze anos, exatamente no dia do meu aniversário ele desapareceu, e nunca mais voltou, no começo minha mãe chorava pela casa, se entregou a uma depressão que durou muito tempo, até baterem à nossa porta dizendo que ele deu entrada no divórcio, pensei que aquilo seria o fim da minha mãe.

E Carla Steele me surpreendeu, assinou sem questionar os papeis, colocou nossa casa a venda e compramos uma casa em um bairro bem afastado do centro da cidade, porém mais barato que o anterior, este era o nosso recomeço. Por um tempo o valor que sobrou da casa nos manteve, até ela precisar trabalhar, e ela foi com a cara e com a coragem.

Sem estudos, conseguiu sua primeira faxina, me lembro de como chegou em casa feliz aquele dia, era contagiante. Minha mãe é uma guerreira, graças a Deus hoje trabalha fixo para a família Grey, literalmente para toda a família, para os pais e também os dois filhos casados.

Desço do ônibus, chego na lanchonete e a primeira coisa que o senhor Louis faz é olhar o relógio, por incrível que pareça, mesmo ele sendo implicante, eu gosto do meu chefe.

— Bom dia! Sr. Louis. — Digo sorrindo.

— Bom dia! Ana, sabe onde Katherine se meteu? — Pergunta me fazendo olhar em volta.

— Pensei que ela já estivesse aqui, não a encontrei no ônibus.

— Estranho, ela não é de faltar e nem se atrasar. — Diz pensativo.

— Vou me trocar e já venho. — Me dá um aceno de cabeça.

Após colocar o uniforme e guardar minhas coisas no armário, volto para o salão, e até agora nada de Kate chegar, pego o celular e tento ligar para ela, mas seu telefone está desligado: estranho.

Logo Kate passa pela porta com os olhos vermelhos, parece ter chorado, não olha para ninguém e vai direto para os fundos da lanchonete. Sr. Louis me olha também assustado, ela é sempre alegre e brinca com todos, acredito que em dois anos é a primeira vez que a vejo chorar.

Não sei como agir, decido deixá-la sozinha um pouco, depois falo com ela, os clientes vão chegando e vou atendendo as mesas, Kate aparece no salão, começando a trabalhar, está com o olhar perdido e meu coração aperta por vê-la assim.

Perto do horário do almoço as coisas começam a se acalmar e é agora que vou conversar com minha amiga.

— O que aconteceu Kate? — Me olha e seus lindos olhos verdes se enchem de lágrimas, puxo minha amiga para um abraço, e ela chora, é possível ouvir seus soluços de desespero. — Shiii, não sei o que aconteceu, mas estou aqui.

Aperta-me ainda mais no abraço, meu chefe faz um sinal com a cabeça para que a leve, para outro lugar, seu choro está chamando atenção dos clientes, que chegam. Levo Kate comigo, e me surpreendo ao ver Sr. Louis ir atender as mesas, ele se faz de durão, mas sei que naquele peito bate um coração enorme.

— Fique aqui, preciso voltar para o salão, assim que tudo se acalmar eu volto, tudo bem? — Ela apenas confirma com a cabeça, sem dizer nada.

Observo o relógio, faltam quinze minutos para o meu turno e de Kate acabar, começo a bater meus pés no chão, nervosa, até agora não conseguir falar com minha amiga, isso começa a me irritar, sinto como se não desse, importância para o seu problema, meu celular começa a vibrar o pego do bolso de trás da calça, é um número desconhecido, depois do trabalho eu retorno, cancelo a ligação guardando novamente o aparelho.

— Descobriu o que ela tem? — Levo um susto com a voz do meu chefe bem ao meu lado.

— Ainda não, ela só chorou.

— Isso não me agrada, odeio ver minhas meninas chorando. — Ele diz, olho para ele sorrindo, e ele revira os olhos. — Não sou tão ruim quanto pensam.

— Quem disse que penso que o Senhor é ruim? — Me olha com um misto de curiosidade e carinho. — Sei que quer fazer de durão conosco, mas aí dentro bate um coração. — Digo o fazendo rir.

— Vocês são as minhas meninas, e o que quer façam com vocês me atinge também, ver uma mulher chorar é o fraco da maioria dos homens.

— Vou descobrir e te falo o que é. — Digo ao ver Tereza e Samy entrando para assumir o turno da tarde, dou uma leve batida em seu ombro e vou atrás de Kate.

A encontro no mesmo lugar que deixei, mas agora não chora mais, tem um olhar perdido o que me causa uma leve dor no peito.

— Quer conversar agora? — Seus olhos já não tem mais o brilho que tanto gosto, aquele olhar feliz e zombeteiro que só ela tem.

— Fui expulsa de casa. — Diz de cabeça baixa.

— O que aconteceu, para ser expulsa?

— Estou grávida, Ana. — Diz fazendo minha boca despencar olho para ela assustada, Kate começa a rir, mas não de felicidade e sim de desespero.

— Vem, vamos para casa comigo. — Ergue uma sobrancelha. — Pensa que vou deixar minha amiga com meu ou minha afilhada na rua? Ficou louca Kate, vai ficar lá em casa.

— Não posso aceitar, você e tia Carla já tem problemas demais.

— Anda logo Kate, não vou falar duas vezes.

— Não me lembrava de você ser tão mandona.

— Não viu nada ainda, já comeu algo? — Pergunto e ela nega.

— Enjoo ou falta de eu te dar uns, tapas?

— Mediante as opções, fico com o enjoo. — Diz me fazendo rir.

— Você é uma palhaça, ande logo que preciso mimar este bebê. — Digo a fazendo rir.

O Mundo Dentro de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora