Capítulo 26

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PV. Carla

A cada dia que passa me sinto mais fraca, fico sem forças para fazer tarefas básicas, eu nunca quis ser um impedimento da felicidade de Ana.

Minha filha merece o mundo, quando o pai nos deixou ela entendeu que daquele dia em diante seríamos nós duas contra o mundo. Raymond foi embora sem olhar para trás, não teve briga conversa, nada que me desse indicio de que aquela manhã seria a última dele conosco.

Vivi por um momento a dor do luto, foi como encarei sua partida, me vi por várias vezes perdida sem saber o que fazer com minha menina, Anastácia por um tempo tomou a frente das nossas vidas, usamos com sabedoria as economias que tínhamos no banco, até chegar o dia em que precisei sair e buscar algo mais, o que tinha não seria suficiente por muito tempo.

Não me envergonho de limpar casas, é assim que sustentei nossa casa até Ana começar a trabalhar e também poder ajudar nas despesas, sempre sem reclamar, na verdade, não sei o que fiz de bom, para Deus me dar um anjo em forma de filha.

Eu havia superado a saída de Raymond de casa, até ser chamada para limpar uma casa de luxo em um dos condomínios mais caros da cidade, como sempre, fui de cabeça erguida ao chegar os proprietários não estavam o que era normal, quem me passou o que fazer foi a governanta, mas o susto veio ao entrar na casa e ver uma foto do meu ex-marido abraçado a uma mulher muito bonita.

Logo abaixo tinha uma placa escrito o nome deles, não acreditei no que meus olhos viam, ele vivendo no luxo enquanto a filha dele passando com o básico, é como dizem, o homem separa da mulher e dos filhos, naquele momento, tudo que conseguia sentir era pena por Raymond ter perdido a oportunidade de conhecer a própria filha.

Fiz todo o meu trabalho, fui embora daquela casa e nunca mais voltei mesmo sendo chamada para voltar.

Hoje percebo que agi errado, não por mim, mas por Ana, eu deveria ter voltado e cobrado de Raymond, os direitos da minha filha, mas assim como eu, ela é orgulhosa demais para aceitar dinheiro de alguém que nos deixou como ele.

Estou sentada na varanda pensando em tudo que vem acontecendo, não estou gostando da forma como Christian tem agido, ele é um homem casado, percebi no hospital pelos olhares que ele não estava ali apenas por preocupação, tinha algo mais, e o pior não foi só da parte dele.

Olho as horas pela terceira vez e nada dela chegar, meu coração se aperta cada vez mais, acompanhei a vida de Christian, assim que ele e Olga se casaram, era perceptível que não existia amor, mas os dois se dão bem, o que mais me assusta é a vida que eles levam, tudo está estampado em revistas.

Mesmo Elliot dizendo que acabou, eu posso imaginar se Ana se relacionar com Christian o que vai sair na mídia sobre minha menina, o que eu não sei é se Anastácia está preparada para o turbilhão que a vida dela viraria em meio a tudo isso.

Um carro para em frente de casa, aguardo um tempo, logo Ana desce dele, acompanhada por uma mulher, muito bem vestida, nota-se que ela não faz parte deste lugar, minha menina tem um semblante preocupado, ao se aproximar reconheço a mulher que a acompanha.

— Boa noite. — A mulher me cumprimenta.

— Boa noite mãe, essa é Lúcia...

— Esposa do seu pai, eu sei quem ela é, Anastácia e boa noite. — Digo olhando para a tal Lúcia

As duas parecem perdidas por eu saber quem é a mulher.

— Já limpei a sua casa. — Digo para esclarecer a confusão das duas.

— Não sabia. — Lúcia responde.

— Fui uma vez e nunca mais voltei, sente-se fique à vontade. — Digo me ajeitando melhor no banco da varanda.

— Vou tomar um banho, fique à vontade Lúcia. — Ana diz, sei que está tentando fugir dos meus questionamentos.

— Ana, Kate precisa falar com você.

— Tudo bem. — Me dá um beijo na testa, acena para Lúcia e sai.

Lúcia e eu ficamos em silêncio por um tempo, até que ela resolve quebrar o clima estranho que ficou.

— Como se sente Carla?

— Bem, obrigada por perguntar.

— Ana me falou sobre a doença.

— Pois é.

— Ela também disse que você recusou o tratamento.

— Sim, na verdade, pelo que a médica disse a doença já está bem avançada, o tratamento tem grande chance de não dar certo, não quero minha filha sofrendo se matando e vendendo tudo que temos, sei que breve não estarei mais aqui, e essa casa é tudo que posso deixar para ela. — Lúcia me encara de boca aberta.

— Eu não sou mãe, não faço ideia do tamanho da sua dor, de ter que pensar friamente.

— Não é friamente, é com amor, de que adiantaria? Sei que ela não pensaria duas vezes em vender tudo para arcar com o tratamento, e depois? Quando a minha hora chegar o que será dela?

— Ela me disse que o chefe dela pagou seu tratamento, mesmo assim você se recusa?

— Ainda não tive tempo de conversar com ela a respeito disso, tenho medo do que ele pediu em troca desse pagamento.

— Pelo que entendi, ela vai pagar com trabalho, será descontado.

Encaro Lúcia por um tempo, quando Ana contou tudo isso para ela?

— Não sou inimiga Carla, estou aqui em paz, como disse a Ana eu não sabia que Raymond tinha uma família, ele tocava no nome de Ana quando bebia e era raríssimo.

— Porque ele resolveu aparecer agora depois de tantos anos? — Pergunto não entendendo esse interesse súbito.

— Na verdade, quem veio atrás de Ana sou eu, Raymond sofreu um acidente e faleceu faz trinta dias.

— Meu Deus!

— Ele deixou um testamento, e nele estavam os dados de Ana.

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