Capítulo 117

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Anne On.

Naquela manhã de Sábado o sol brilhou mais forte batendo na janela do meu quarto, o céu mais azul do que os outros dias, as folhas da minha cerejeira batiam no vidro da janela me dando uma ótima visão das folhas cor de rosa em movimentos suaves pelo vento.

Era o meu aniversário.

Sempre achei que aos dezoito anos eu já seria uma adulta responsável, com o futuro inteiro planejado, morando fora do país e milionária. Mas nada mudou, continuo sendo a mesma Anne, só que mais velha.
Também ri lembrando que pensava que meus problemas seriam todos resolvidos nessa idade, mas parece que eles só aumentam com o passar dos anos.

Nunca gostei de aniversários, pelo menos não do meu. Para mim era só uma data como qualquer outra, só estava mais animada pela idade que faria esse ano, mas não faria nada para comemorar. Marilla e Matthew insistiam todos os anos para que eu fizesse alguma coisa, mas até nos meus quinze anos eu não quis uma festa. Nós três sempre viajamos para Charlottetown nessa data, mas dessa vez houve uma mudança de planos. Não sei o que me deu, mas uma ideia iluminou minha mente, e para esse novo ciclo que iniciava em minha vida, eu iria começá-lo com mudança. Não queria mudar nada em mim de forma brusca, apenas tentar fazer o que eu sempre quis sem medo do que os outros vão pensar, o que vão falar, qual vai ser a opinião das pessoas e etc. Eu iria viver para mim, apenas. Seguiria meus sonhos, atingiria as minhas metas, realizaria cada desejo meu, desde o menor até o maior deles.

Pensei em começar aos poucos com isso, várias coisas invadiram a minha cabeça de uma só vez, mas decidi ir com calma para não atropelar e acabar me frustrando por não ter feito tudo o que eu queria como se fosse uma obrigação minha já ter tudo reizado com a pouca idade que tinha.

Contudo, não tinha nada para reclamar. Minha vida não era perfeita, tinha altos e baixos, as vezes só "baixos e baixos", mas era boa do jeito que era. Meus tios sempre foram maravilhosos comigo durante toda a minha vida, eles eram o meu lar, a minha família. Fiz amigos incríveis esse ano, os estudos estavam indo muito bem até agora, e o meu namorado superava todas as expectativas que um dia tive sobre a pessoa que queria ter ao meu lado.

Com esse ânimo e incentivo para mudanças, pensei em fazer algo ousado que eu sempre quis fazer. Uma tatuagem.

A expressão de espanto de Marilla quando pedi sua permissão para aquilo foi impagável, tive que usar de todas as minhas forças interiores para não rir dela.
Mas para minha surpresa, não precisei insistir tanto para que ela concordasse, pois apesar de ser superprotetora e dos seus cuidados comigo, Marilla gostava de ficar ao meu lado nas decisões que eu tomava, assim como me apoiava nessas decisões. Matthew também era assim, mas diferente de Marilla, ele as vezes preferia nem opinar sobre algumas coisas das quais eu resolvia fazer, apenas concordava.

Sexta no colégio eu desapontei meus amigos quando informei que não faria uma festa, e mesmo com as reclamações, não cedi. Agora a ideia de me reunir com eles para nos divertirmos parecia tentadora, mas não queria nada de última hora, por isso resolvi que deixaria do jeito que estava.
O lado bom é que veria Gilbert em alguns minutos, pois ele me acompanharia ao estúdio de tatuagem, e também faria uma.

Tomei um banho frio e vesti o vestido que Matthew me deu de presente. Era vermelho, longo e soltinho. Tinha alcinhas e uma fenda que ia até acima da coxa. Matthew sempre insistira para que eu usasse mais essa cor, mas sempre expliquei que ruivas e vermelho não se misturavam, apesar de as vezes usar sem me importar com essa questão. Com o tempo aprendi a não deixar que os comentários negativos que recebi sobre a minha aparência no passado interferissem no meu eu de agora.

Essa era outra meta e resolução que fiz comigo mesma, mas já sabia que não seria tão simples quanto as outras coisas. Autoestima é algo que não se compra, não vende, e você não espera receber em um embrulho de presente, o nosso cérebro pode ser bem traiçoeiro quando quer. Muitas lágrimas rolaram para que agora eu já aceite mais minha própria aparência, minha capacidade física e mental. Mesmo com as recaídas que tenho e que eu as vezes questione tudo sobre mim, é bom sentir que aos poucos minhas inseguranças estão indo embora, dando lugar a autoconfiança que desejava ter.

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