Capítulo 40

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Gilbert On.

A viagem foi bem divertida ao lado de Anne. Conversamos, cantamos as músicas que iam tocando no carro, rimos de besteiras e também quando eu lhe roubava beijos quando o sinal fechava. Anne brigou comigo também quando vez ou outra desviava minha atenção para admirá-la quando seus cabelos voavam pelo vento do vidro do carro aberto e o sol refletia em seus olhos deixando mais azuis do que de costume. Ela ficava envergonhada e brigava comigo mandando que eu focasse a minha atenção na estrada, o que resultava nas minhas risadas e na raiva dela. Mas não dava para evitar, de todas as coisas que eu mais acho fofas na vida, as bochechas coradas de Anne estão em primeiro lugar.

Estacionei o carro na vaga ao lado da casa, peguei a minha mochila e a de Anne e seguimos até a porta.
Respirei fundo quando toquei a campainha, e Anne segurou minha mão, ela me olhava com um pequeno sorriso nos lábios me passando coragem. Retribui o sorriso e a porta abriu.

E lá está ele: meu pai.

Ele estava vestido em um de seus costumeiros ternos, mas não usava gravata. Desde que me lembro, ele sempre foi assim, um típico homem de negócio que nunca saia de suas roupas de trabalho.

— Gilbert, filho. Há quanto tempo! — falou com um sorriso abrindo espaço para que a gente entrasse.

Ele me puxou para um abraço que tive que corresponder.

— Eu te vi aquele dia na escola. — falo colocando as mochilas no canto da parede no chão.

— É, mas faz tempo que você não vem aqui. Esqueceu seu velho pai?

Sempre odiei isso nele. Ele sequer se preocupava comigo, nunca ligava para saber como eu estava, quase não aparecia, mas no fim, sempre falava como se eu o tivesse abandonado, quando na verdade foi o contrário. Ter um pai uma vez por ano, não era ter um pai.

Fechei os punhos tentando controlar a minha raiva e respirei fundo antes de responder.

— Acho que foi você quem esqueceu seu filho. — minha voz saiu séria e ele me encarou por alguns segundos, até virar para Anne do meu lado que parecia estar desconfortável.

— Oh, você trouxe uma amiga. — ele sorriu. — Qual é seu nome, meu bem?

Revirei os olhos com sua falsa simpatia.

— Anne. É um prazer conhecê-lo, Senhor Blythe. — ela apertou a mão dele.

— Por favor, me chame de John. — ele manteve seu sorriso. — É sua namorada? — pergunta me olhando.

— Sim. — respondi tranquilo e vi Anne me olhar rapidamente com as bochechas vermelhas outra vez.

Quase acabei rindo da cara dela, mas me controlei.

— É uma moça muito bonita. — ele vira novamente para a ruiva e vi o sorriso tímido dela. — Tenha paciência com ele. É um cabeça dura, mas também é um ótimo garoto com um grande coração.

As suas palavras talvez me deixassem feliz se eu não soubesse que ele faz isso para manter as aparências, fingindo que ama o filho.

— Pode deixar, vou cuidar bem dele. — ela sorriu mais uma vez. Aquilo sim me fez ficar feliz.

Anne conseguia fazer isso comigo, uma simples palavra e já me tirava um sorriso bobo.

— Vou deixar que guardem suas coisas, e depois vamos almoçar. Perguntei para Mary qual era a sua comida preferida e pedi para que a empregada fizesse. — ele falava orgulhoso.

Mary é a esposa de Sebastian. Fiquei surpreso de ele ter perguntado a ela, e ao mesmo tempo, magoado.

— Claro, por que um pai saberia qual é a comida preferida de seu filho sem ter que perguntar a outra pessoa? — falo irônico e Anne comprimiu os lábios olhando para baixo. Ela realmente estava muito desconfortável.

— Gilbert, podemos por favor, não começar uma discussão na frente de sua namorada? Ou melhor, podemos por favor não começar uma discussão? — sua voz saía calma.

Bufei revirando os olhos e peguei as nossas coisas que estavam no chão, subindo as escadas segurando a mão de Anne.
Não trocamos uma palavra até virarmos o corredor, entrando no meu antigo quarto.

— Ele parece ser... — ela fala quando eu me jogo no cama, mas não conclui a frase.

— Legal? É, ele faz as pessoas terem uma ótima primeira impressão dele. — disse irritado. Mas não com ela.

— Eu diria intimidador. — ela se joga ao meu lado na cama.

Olhei para ela surpreso, logo ri e ela também.
Ficamos um tempo sozinhos, Anne estava deitada no meu peito enquanto eu enrolava uma mexa de seu cabelo em meus dedos.
Ela mexia no seu celular e ríamos vendo alguns memes juntos. Poderia ficar assim com ela para sempre.

Nós descemos para o almoço, e por incrível que pareça, foi bem tranquilo. John não mencionou sua empresa nenhuma vez, ou um qualquer outro assunto desse tipo. O que para mim significa que ele fará isso no jantar. Espero estar errado, mas tenho quase certeza de que não estou.

Subimos novamente para meu quarto e ficamos lá o resto da tarde, aproveitando o momento e a companhia um do outro. Suspirei aliviado por um instante. Estamos longe do colégio, das obrigações, de outras pessoas... Só nós dois.

 Só nós dois

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