Carolina
Dei uma última olhada no quarto onde passei a minha infância e adolescência inteira.
As imagens dos momentos que vivi ali passaram como um filme diante de meus olhos e por mais que tivesse dito para mim mesma que já tinha chorado o bastante, ainda assim uma lágrima solitária escapou de meus olhos.
Há uma semana atrás, recebi um e-mail informando que eu passara na prova e ganhei uma bolsa de estudos completa em uma das melhores universidades do estado.
É claro que todos ficaram felizes por mim com essa notícia, mas eu sabia que também houve incômodo, pois isso queria dizer que eu tinha que mudar de cidade. Não foi fácil para mim tomar essa decisão, mas com o apoio de todos, decidi aproveitar esta oportunidade.
Estava me mudando para a casa da minha tia que mora na capital, mas era inevitável pensar que talvez eu esteja equivocada.
Respirei fundo reprimindo as emoções que afloravam dentro de mim.
Não tirava a minha razão, afinal, não era todo dia que você tinha que se despedir e ficar longe das pessoas que ama.
Você consegue! Além do mais, isso não é um adeus, é só um até logo.
Suspirei profundamente criando coragem para sair dali. Abri a porta e segui para a cozinha onde minha família me esperava.
— Bom dia! — cumprimentei puxando uma cadeira e me sentando à mesa.
— Bom dia, filha. Dormiu bem? — Minha mãe perguntou enquanto colocava a comida na mesa.
— Aposto que não, deve ter ficado horas sem dormir pensando na viagem de hoje — Mariana disse em um tom brincalhão.
— Eu dormi bem, mãe — respondi dando um sorriso amarelo à minha irmã.
— Que bom. Vamos agradecer pelo nosso café da manhã?
Demos as mãos umas às outras e fechamos nossos olhos.
Minha mãe fez uma breve oração agradecendo a Deus e pedindo por minha segurança na viagem que iria fazer.
Enquanto comíamos, olhei para cada uma delas que estavam conversando sobre alguma coisa. A aflição crescendo dentro de mim novamente.
E se eu não aguentar ficar longe delas? E se algo acontecer enquanto eu estiver fora? E se elas precisarem de mim aqui?
Imediatamente pensei na cruz e lembrei de que tudo estava no controle de Deus. Sabia que elas iriam ficar bem, apesar de todas as minhas inseguranças.
Depois que terminamos de nos alimentar, seguimos para a sala onde deixei minhas malas já prontas.
Me virei ficando de frente para elas e as observei tentando guardar e levar cada parte delas comigo.
— Bom, acho que essa é a hora que nos abraçamos e damos tchau...
Minha mãe foi a primeira a reagir ao vir até mim e me abraçar forte.
— Que Deus te guie e ilumine todos os seus passos, minha filha! — disse com voz chorosa.
— Obrigada, mãe. — me aconcheguei mais ainda em seus braços.
— É minha vez — Mariana nos separou e sorri recebendo ela em meus braços — Promete que vai ligar todos os dias?
— Prometo tentar — Quando enfim nos afastamos, vi seus olhos vermelhos — Você está chorando?
— Claro que não! Eu só estou com um início de resfriado.
— Vou fingir que acredito — olhei para cada uma delas mais uma vez — Vou sentir muita saudade de vocês.
— Não mais do que nós — Minha mãe se aproximou mais uma vez e nós demos um abraço em família.
— É só três horas de distância, vocês podem me visitar quando quiserem —falei em um fraca tentativa de consolo.
— Não é a mesma coisa — Mariana protestou — Mas eu sei que isso é importante pra você, então eu não me importo de ter que ficar longe sabendo que você está feliz.
— Tem como ser mais fofa? — comentei e rimos juntas — Cuida da mamãe e vê se não cresce até eu voltar.
— Ei, já tenho doze anos! Estou em fase de crescimento — falou como se fosse óbvio.
— Eu sei...
Alguém bateu na porta e fui até lá atender, recebendo Bruna um tanto chateada.
— Achou mesmo que eu ia deixar você sair sem se despedir? — perguntou com os braços cruzados.
— Nós passamos a tarde inteira ontem juntas — dei espaço para que ela entrasse.
— Mas agora que você está de saída, parece tão pouco! — lamentou fazendo um adorável beicinho.
Eu e Bruna éramos amigas desde crianças, nos conhecemos no ensino fundamental menor e desde então nunca nos separamos. Nunca brigamos, apesar das nossas discordâncias e sempre fomos o ombro amigo uma da outra.
— Mesmo que nós estejamos separadas pela distância, sempre estaremos juntas. Porque é aqui que você está — apontei para o meu peito, do lado do coração — E daqui ninguém pode te tirar.
Ela me abraçou com força e eu retribuí.
— Vê se volta logo! — disse depois que se afastou.
— Pode deixar.
Ouvimos a buzina do carro que iria me levar até o meu destino.
— Eu tenho que ir — peguei minhas malas e fui em direção à porta, mas antes de sair me virei — Amo muito vocês.
— Nós também te amamos — responderam juntas.
O motorista colocou minha bagagem no porta-malas e entrou no carro. Me virei olhando para as pessoas que eu tanto amava ali paradas com um sorriso.
Elas acenaram e eu finalmente entrei no carro.
Fiquei olhando para trás até perdê-las de vista, as lágrimas descendo lentamente por meu rosto. E então, fiz uma pequena oração:
Eu confio em ti, Senhor. Que a tua vontade prevaleça em minha vida.
Amém...
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O propósito do Amor
SpiritualSinopse Carolina Monteiro, uma jovem que está ingressando na faculdade, tem a fé como a sua principal arma contra os obstáculos e desafios da vida. Doce, gentil e bondosa, mais ainda assim determinada, tem um lema que diz: "Ser cada dia mais parecid...