Capítulo 20

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Carolina narrando:

Nunca me senti tão humilhada na minha vida. Pode até parecer exagero, mas ninguém nunca me tratou dessa forma, desmerecendo e inferiorizando a profissão que decidi seguir. Desde pequena, sempre gostei de ajudar as pessoas e até tentei pensar em outras profissões com o objetivo de ser útil de alguma forma para as pessoas que necessitam, mas nenhuma me fez sentir tão realizada quanto imaginar um dia ensinando crianças ou jovens em seu conhecimento.

Caminho com os punhos cerrados, por mais que eu tente não consigo fazer a raiva que pulsa em minhas veias sumir. Paro por um momento contando até dez em minha mente, respiro fundo quando termino minha contagem. Apesar de achar que ela está errada, também não é correto da minha parte nutrir esses sentimentos ruins dentro de mim.

—Carolina. —Erick para o carro próximo à mim. —Eu vou te levar pra casa.

—Eu agradeço, mas não é necessário, acho melhor pegar um ônibus e...

—Sabe que não vou deixar você fazer isso, e além do mais, foi eu quem te trouxe. —diz me interrompendo.

Sem mais reclamações, entro no carro e seguimos nosso caminho. O único som ouvido é o do carro funcionando e nossas respirações suspensas no ar.

—Me desculpa pela forma que falei com sua mãe. —digo sem mais delongas irrompendo o silêncio.

—Quem precisa pedir desculpas é ela, não você.

—Ainda assim, eu não deveria ter agido daquela forma, deveria ter me controlado, principalmente por estar na casa dela.

Agora que penso nisso sinto minha consciência pesada, a raiva de momentos atrás já foi até esquecida dando lugar à uma aflição tão grande quanto aquela.

—Eu não sabia que ela estaria lá, se soubesse poderia ter evitado todo esse desconforto. —lamenta Erick. —Eu sinto muito pelas coisas que minha mãe falou.

Um pensamento vem em minha mente de repente. 

—É por isso que não gosta de falar da sua família? —ouso perguntar, lembrando do quanto ele pareceu desconfortável quando perguntei sobre sua família no restaurante em que almoçamos um tempo atrás.

Ele se retrai como se eu tivesse descoberto algo muito ruim ou um segredo oculto.

—Digamos que eu não tenho uma boa relação com meus pais. —essa é a única coisa que ele diz, me deixando ainda mais intrigada.

—Se quiser falar sobre isso eu estou disposta a ouvir quando quiser. Já ouvi muitas vezes que não devemos guardar as coisas ruins dentro de nós, porque pode acabar nos destruindo pouco a pouco até que não haja mais volta. —ofereço sincera e preocupada com o que passa em seu interior.

Ele parece entrar em um pequeno conflito para decidir se deve ou não contar algo à minha pessoa. Por fim, ele para o carro e abre a porta me lançando um olhar cheio de emoções antes de sair e se direcionar à praça mais a frente. 

Demoro um instante para decidir o que fazer e acabo escolhendo seguir para o mesmo lugar por onde ele foi. O encontro em um banco olhando para o céu azul com uma expressão indescritível, seus olhos azuis brilham com os últimos raios de sol despontando no horizonte, o que só os deixa mais belos e melancólicos.

Me sento ao seu lado deixando um certo espaço entre nós, fecho os olhos por um instante respirando profundamente o ar e sentindo o vento tocar levemente meu rosto, a paz do lugar me faz desejar ficar ali por horas apenas desfrutando do clima agradável, mas a voz de Erick me traz de volta a realidade.

—Eu cresci tendo tudo o que queria ao meu alcance, ou como muitos podem dizer, 'nasci em berço de ouro'. Meus pais eram ricos antes mesmo de eu vir ao mundo, e portanto nada me faltou, quer dizer, nada menos uma coisa. Minha mãe é advogada e meu pai é médico, como ela mesma já disse, os dois sempre foram determinados em seus trabalhos e isso acabou afetando minha convivência com eles. Logo que nasci, Maria foi contratada para cuidar de mim e eu sempre a vi como uma segunda mãe, tanto que mesmo agora faço questão que ela more conosco. Tudo o que eu mais queria era que meus pais me dessem um pouco de atenção e que me amassem, mas eles sempre estavam ocupados demais para passar um tempo comigo, você não faz ideia de quantas vezes eu desejei ter um irmão pra me fazer companhia. Eu só queria... só queria que eles olhassem pra mim. —Erick pisca com seus olhos marejados, meu coração aperta por seu passado triste e amargurado.

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