OS SÓCIOS

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O dia da tão esperada recepção de madame Esmeralda enfim chegou.

A tia estava ansiosa, queria que tudo ficasse perfeito, e principalmente, estava preocupada, porque queria que a sobrinha causasse uma ótima impressão em seus amigos.


O vestido de Karen era exuberante. Era vermelho, com um decote profundo nas costas e uma fenda sobre a coxa esquerda.
    
Karen estava receosa de usá-lo. Definitivamente aquele não era seu estilo, e nunca usou nada parecido em sua vida... e ficou ainda mais apreensiva quando viu o quão ousada e sensual ficava nele.

Karen teria optado por algo muito menos chamativo, mas madame Esmeralda insistia que sua imagem devia parecer perfeita.
    
Ela estava incrível. A garota tímida e recatada tinha dado lugar a uma deusa exuberante. Karen completou o visual com um lindo colar de rubis e quase não se reconheceu ao olhar no espelho.
    
Olhando para a sua imagem refletida, lembrou- se de como o pai tinha lhe descrito sua mãe... Karen ficou se olhando, tentando imaginar como seria sua mãe, mas não foi suficiente pra formar uma imagem em sua mente.
    
Com um suspiro profundo, Karen resolveu encarar seu destino. Estava deslumbrante por fora, mas por dentro, ainda era a mesma menina medrosa. Mas estava decidida: iria se exibir pela tia, causar uma boa impressão em todos, e ocupar seu lugar no círculo social, pelo menos pelo tempo que lhe fosse necessário.

***
 
Quando madame Esmeralda desceu as escadas acompanhada da sobrinha, ouve um silêncio geral. Todos os olhares se dirigiram à elas, e todos queriam saber quem era aquela beldade.

Pouco a pouco o silêncio foi sendo substituído por murmúrios baixos até que a festa foi retomando seu ritmo normal.
    
Após apresentar Karen a alguns de seus amigos, madame Esmeralda deixou que ela ficasse na companhia da amiga e do primo, mas a alertou que não saísse de vista, pois a qualquer momento poderia aparecer mais gente importante para conhecê -la.
    
Kelly sofreu uma quase imperceptível mudança de humor, mas Karen conhecia bem demais a amiga, para passar despercebido. Karen não sabia ao certo o porquê do mal humor... talvez fosse por causa de sua amizade quase instantânea com Silvana, mas Karen sabia que Kelly estava estranha, e isso estava mais evidente nesse exato momento.
    
Kelly estava de braços dados com Daniel Vila Real, sorrindo orgulhosa, acabando com as expectativas de Karen para aquela noite.

O primo Paulo aproximou-se dos três e ficou fazendo companhia à prima, que estava visivelmente sobrando na história.
    
Karen sentia o coração pesado ao ver a amiga desfilando nos braços de seu desejado, e nem sabia direito explicar se ele estava chateado com ela ainda, depois do último encontro, o que parecia meio óbvio, visto como a tratou friamente.
    
Daniel convidou Kelly para dançar a primeira música, e ela caminhou deslumbrante rumo a pista de danças. Daniel estava lindo e Karen teria dado tudo para estar nos braços dele, dançando aquela primeira música.
    
– Em que planeta você está? – Perguntou Paulo, chateado ao perceber que Karen não tirava os olhos do casal.
    
– Me desculpe!! – Karen disse sem jeito – Estou com a cabeça cheia...
    
– Está bem! – Paulo respondeu meio chateado... algo também o estava incomodando – Vou cumprimentar uns amigos que chegaram... se importa se eu te deixar sozinha?
   
  – Claro que não! – Karen sorriu agradecida pela compreensão – pode ir, vou ficar bem.

Ao ver-se sozinha, Karen caminhou até a mesa do buffet para beliscar alguns petiscos. Sua noite estava sendo massacrante. Ela via Kelly sorrindo deslumbrada nos braços de Daniel, e seu coração sentia pontadas de ciúmes.
    
Para disfarçar a vergonha e a decepção que sentia, Karen resolveu tomar algo mais forte, mesmo sabendo que o álcool lhe alteraria os sentido.
    
Karen não era fraca para o álcool... conseguia beber sem perder os sentidos. A bebida lhe tirava completamente a timidez, mas em contrapartida, lhe deixava com coragem de dizer tudo o que lhe vinha a mente, o que, com certeza, poderia lhe trazer problemas numa festa como aquela.
    
Karen sentiu o medo e a apreensão indo embora de seu corpo como mágica, e agora só esperava encontrar um jeito de sair daquela embaraçosa situação de estar sozinha e abandonada em sua própria festa.

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