Visita surpresa

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Agora que os tremores de medo e horror estavam diminuindo, Karen se perguntava se essas imagens, criadas por seu cérebro, eram cenas de algum filme que viu quando ainda era pequena, e isso possa ter ficado guardado em seu inconsciente... ou se eram reflexos de uma vida passada.
     
Não acreditava no espiritismo, mas já tivera tantas evidências de uma vida passada... tantos Dejavus... No tempo em que estivera no Nordeste, os dejavus eram menos, mas agora que voltou ao litoral, tudo estava tão intenso... como se o destino estivesse avisando que ela estava muito perto de descobrir algo...
     
Lembrou-se novamente da imagem daquele garoto indefeso com um rombo no peito... o sangue brotando aos borbotões... Karen indefesa, sem poder fazer nada... o mal estar que a atingiu foi tão intenso que correu pro banheiro pra vomitar.
     
Ainda tremula, Karen caminhou até a janela pra tomar um pouco de ar. O calor estava insuportável e suas roupas estavam grudando em seu corpo por causa do suor.
     
Ao olhar pela janela, viu Paulo e Kelly se divertindo na piscina, e resolveu se juntar a eles. Não queria se divertir... só queria se juntar a eles pra ocupar seus pensamentos.

Pensar na morte do garotinho no sonho ainda lhe deixava angustiada.

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Quando Felipe acabou de se aprontar, o carro de seu pai já o estava aguardando. O chofer apanhou sua pequena mala e Felipe se surpreendeu ao perceber que seu irmão Fernando estava no carro esperando por ele.
    
- O que aconteceu irmãozinho? Finalmente te expulsaram daqui?
     
Fernando sorria divertido, mas Felipe olhou muito sério para o irmão.
     
- Não seja insolente, Fernando. Se estou indo pra casa, é por culpa sua. O padre Josué acredita que você precisa de conselhos e orientação antes que se case.
     
- Que otimo! - Fernando sorriu com deboche - Você vai me dar a extrema unção antes de colocar a corda em meu pescoço.
     
Sem conseguir manter a seriedade, Felipe sorriu da metáfora do irmão.
     
- Eu avisei que você era um caso perdido, mas ele insistiu...
     
Depois dessa última observação, Felipe decidiu se calar. Tinha medo de conversar com Fernando, pois ele era muito divertido, mas também sabia ser sarcástico e inconveniente.
     
Fernando foi filho único por 12 anos, e sempre foi tido como um garoto indefeso, despreparado e ingênuo demais pra ter maldade no coração.
     
Felipe, por sua vez, era o garoto do reformatório, conhecia mais da vida do que a maioria dos adultos, mas apesar de tudo, Fernando e ele desempenhavam papéis opostos.
     
Fernando, com seu jeito brincalhão, representava bem o papel do bom irmão atencioso, mas quando estava a sós com o irmão, não perdia a oportunidade de atormentá-lo.

Principalmente depois que Felipe tornou-se padre. Fernando sempre fazia questão de colocar a vocação de Felipe em dúvida.
     
Felipe, por outro lado, apesar da infância tumultuada, era ingênuo e tinha aversão a qualquer tipo de agressão, fosse ela verbal ou física, de forma que se sentia indefeso diante das brincadeiras de mal gosto de Fernando.
     
Geralmente, quando começavam seus duelos de palavras, Fernando sempre era o vencedor. Felipe tentava retrucar, mas logo desistia. Ainda assim os dois se amavam.
     
Felipe desejou, por um instante, ter a sagacidade e o raciocínio rápido de Karen. Com alguém como ela, com resposta pra tudo, com certeza Fernando se daria por derrotado.
     
De repente uma vontade louca de encontrar Karen atingiu-lhe o peito.

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