A cabana

24 3 2
                                        

Felipe decidiu procurar abrigo. Por sorte era noite de lua, e mesmo apesar da escuridão, conseguiu visualizar, muito além, um pequeno píer, e o vulto do que parecia ser uma cabana.

Felipe reuniu suas forças, tomou Karen em seus braços e caminhou na direção do abrigo.

Tratava-se de uma rústica e resistente cabana, com um grande letreiro escrito "refúgio do pescador".

Felipe deitou Karen em um sofá que tinha na varanda, e chamou por alguém, mas ninguém respondeu.

Tentou encontrar uma entrada, mas a cabana estava cuidadosamente bem fechada. Então Felipe forçou uma das janelas, que sob o peso de sua força, cedeu facilmente.

Então Felipe pulou para dentro e encontrou um lampião à gás. Quando o acendeu, todo o lugar se iluminou.

A velha cabana não era mais que um grande galpão, com um grande armário rústico, uma mesa com algumas cadeiras, uma cama, um sofá e uma lareira.

Tudo estava muito empoeirado, como sinal de que a cabana não era usada a muito tempo. A porta dos fundos estava fechada à chave, mas a porta principal estava fechada apenas com uma grande trava por dentro.

Felipe retirou a trave e abriu a porta, apanhou Karen rapidamente e a trouxe pra dentro.

Sob a luz do lampião, Felipe constatou que o ferimento na cabeça dela era bem grave, e por sorte, quando abriu o armário, encontrou uma farmácia muito bem abastecida.

Felipe nem sabia por onde começar. Estava exausto e atordoado, mas sabia que não podia dar descanso ao próprio corpo enquanto Karen não recobrasse a consciência.

Felipe enfrentou seus pudores e foi tirando a roupa encharcada e ensanguentada de Karen... depois, com mãos trêmulas, começou a fazer os curativos.

Por sorte, os ferimentos eram superficiais, o único deles de maior gravidade era o da testa.

Depois de limpar e desinfetar bem o corte, Felipe uniu a pele do ferimento e colou com um esparadrapo. Enfim respirou aliviado, pois a pior parte tinha passado.

Felipe suava frio, mas seu nervosismo não era apenas pelos ferimentos de Karen, mas por ter diante dos seus olhos o corpo desnudo de sua deusa em toda a sua exuberância.

Felipe encontrou um cobertor, que apesar da aparência encardida, parecia ser bem confortável. Enrolou o corpo de Karen nele e a deitou sobre a cama, rezando pra que ela recobrasse os sentidos.

Karen se remexeu e resmungou palavras ininteligíveis, e emocionado, Felipe a abraçou, percebendo então que ela tremia incontrolavelmente.

Felipe colocou lenha na lareira e a acendeu com um pouco de querosene que alguém tinha providencialmente deixado ali para esse fim.

Depois apanhou Karen e a deitou no tapete, em frente ao fogo, e sentou-se ao seu lado para descansar e também se aquecer.

As roupas de Felipe já estavam secando em seu corpo, e ele já se sentia aquecido e confortável, mas percebeu que, mesmo enrolada no cobertor, Karen ainda não parava de tremer.

Felipe sabia que ela estava com hipotermia. Exausto, sem saber mais o que fazer, caminhou contra todos os seus princípios e fez algo de que se lembrou ter aprendido num curso de sobrevivência...

Tirou as próprias roupas e se enrolou no mesmo cobertor, junto com Karen, trazendo o corpo dela pra bem junto do seu, usando o seu calor para tentar aquecer o corpo dela.

Felipe fazia um esforço sobre humano pra tentar se controlar. Não imaginou o quanto seria difícil sentir a maciez daquele corpo de encontro ao seu e não poder fazer nada.

Caleidoscópio Onde histórias criam vida. Descubra agora