A ilha

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Karen parou de rir e perguntou de súbito.
    
– Você povoaria essa ilha comigo? Mas e seus votos de castidade?
    
Felipe corou. Em seu coração, já tinha deixado seu sacerdócio por ela desde o amém no casamento do irmão, mas ainda não estava pronto pra conversar com ela sobre isso.

Estava disposto a ter filhos com ela sim, mas não para repovoar a ilha, mas isso era uma coisa que teria que esperar.

No momento precisava manter o foco em sobreviver até serem encontrados.
    
– Não se preocupe, Karen, não vamos precisar repovoar a ilha. Vão nos resgatar bem antes disso.
    
Karen falou em tom de brincadeira, mas precisava ser realista.
    
– Não estamos em um filme de Hollywood! Quem gastaria tempo procurando um padre pirado que pulou do navio no dia do casamento do próprio irmão?
    
Felipe fingiu se zangar e entrou na brincadeira.
    
– Tem razão... por um padre pirado não, mas pela herdeira de madame Esmeralda... por isso não vou desgrudar de você.
    
O rosto de Karen, de repente, tornou-se sério.
    
– Se está contando com isso, melhor perder as esperanças. Acho que vai ser um grande alívio se minha família se livrar de mim.
    
Karen se virou pra parede e deu o assunto por encerrado. Estava tão debilitada que pegou no sono quase que imediatamente.

***

Karen dormiu profundamente e quando acordou, o sol já estava pra lá do meio do céu.

Como enfermeira, sabia que precisava de repouso, mas era curiosa demais e tinha muita coisa ali pra ser explorada.
    
Procurou por Felipe, mas ele não estava na cabana. Karen então levantou e começou a vasculhar seu novo lar.
    
No grande armário rústico tinha de tudo. Karen encontrou uma farmácia de primeiros socorros abastecida com todos os medicamentos que viesse a precisar, e encontrou também lanternas, pilhas, ferramentas de todos os tipos, talheres, um preciosismo jogo de facas, tralha de pesca e até munição para o rifle que estava pendurado na parede.
    
Encontrou uma gaveta cheia de velas e pacotes de caixas de fósforo. Encontrou até um estojo de barbear, e várias caixinhas de lâminas novas.
    
Todos aqueles objetos retratava um universo extremamente masculino, mas Karen agradeceu aos céus, pois a pessoa, ou pessoas, que montou a cabana tinha pensado em tudo que viesse a suprir a necessidade naquele lugar distante.

Tinha em mãos tudo o que precisava para qualquer tipo de emergência.
    
Na dispensa encontrou uma variedade enorme de enlatados. Frutas em calda, sardinha em lata, patê, azeitonas, ervilha, óleo, feijão, e tudo o que pudesse imaginar em termos de alimentos em conserva.
     
A maioria das latas estavam com a data de validade bem recente, e Karen não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
    
Por um lado, era sinal de que a ilha foi visitada recentemente, e poderia ser bastante frequentada... por outro lado, não sabia de quanto em quanto tempo essa a visitas aconteciam. Demoraria até que alguém retornasse ali?
    
Karen analisou o estoque e deduziu que duraria menos de um mês, então teria que usar o minimo possível de suas provisões.

Felizmente tinha estudado sobrevivência na selva, nos tempos que saía em missões, e estava pronta pra qualquer emergência.

***

Karen saiu na varanda e viu Felipe dormindo num velho sofá que tinha ali.
    
Felipe vestia apenas a bermuda que Karen tinha achado na cabana, e Karen sentiu uma pontada no estômago.

Queria mentir pra si mesma que era natural ver Felipe despido, mas era praticamente impossível desviar os olhos daquelas pernas musculosas, e daquele peito hercúleo que subia e descia ao sabor de sua respiração.

Nem mesmo no tempo que passaram juntos no hospital, Karen teve uma visão tão íntima de Felipe.
    
Karen achou por bem deixá‐lo descansar. A noite anterior foi atribulada demais. Beijou-lhe a testa de leve, e saiu sorrateiramente pra explorar a ilha.

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