Depois de meia hora, o calmante enfim começou a fazer efeito. Karen sentia-se menos destruída, ainda assim parecia estar vivendo um pesadelo.
O que faria agora? Como olharia para Felipe? Ele seria mais um irmão distante, ou seria o pai de seu filho?
Felipe entrou cauteloso, no quarto, e Karen sorriu para ele, tentando desfazer o clima de tensão que pairava no ar.
– Desta vez tenho que dar os parabéns à minha tia, ela se superou! Que bela história ela foi inventar pra te afastar de mim! Até parece que ela conhece os pontos fracos das pessoas, e já sabia que só algo dessa magnitude nos afastaria.
Felipe olhou pra ela com esperança.
– Acha mesmo que tudo não passa de uma armação?
Karen sorriu ao ver a esperança nos olhos dele, mas as evidências eram muito grandes. A tia até poderia manipular as fotos, mas como explicar seus sonhos, e a marca de V invertido que Felipe trazia no peito?
– Eu adoraria achar que sim, Felipe, mas dessa vez ela foi muito convincente.
Felipe se aproximou de Karen, apanhou o rosto dela entre suas mãos e a encarou com um olhar de extrema ternura.
– Durante tantos anos me peguei imaginando o que teria acontecido com aquela menininha... enquanto eu desfrutava das mordomias do meu pai, sempre ficava com remorso, imaginando se ela teve a mesma sorte, ou se estava sofrendo em algum lugar... E aqui está você! Se transformou nessa mulher tão magnífica, inteligente e corajosa! Finalmente posso ficar tranqüilo. Você era tudo pra mim... Eu queria te proteger de todas as coisas ruins desse mundo, e seria capaz de morrer tentando.
Felipe beijou a testa dela, emocionado, e Karen, agora bem séria, resolveu questionar.
– Mas o que vamos fazer, Felipe? Precisamos tomar uma decisão. O futuro do nosso filho está em jogo.
Felipe andou de um lado para o outro do quarto. Estava angustiado demais para pensar com clareza. Não sabia ainda como agir, e Karen lhe exigia uma atitude de homem. Ele definitivamente não estava com cabeça pra pensar nisso agora.
– Que droga, Karen! Minha cabeça está uma bagunça ainda nem sei se o bebê é meu filho, ou meu sobrinho, consegue compreender o quanto está sendo difícil me concentrar? O que sugere que eu faça?
Karen não sentia nenhum remorso pelo romance que teve com Felipe. Não queria mais um irmão, já os tinha em quantidade suficiente e nenhum deles lhe fora útil. Não queria deixar que a consciência pesada impedisse seu filho de ter um pai.
Sua mente girava num turbilhão tentando achar uma solução.
– Podemos fugir, Felipe! Vamos morar num lugar distante, onde ninguém nos conheça, e podemos criar nosso filho sem remorsos.
Felipe tinha o olhar destruído, e lágrimas grossas começaram a banhar seu rosto.
Karen sentiu medo. Tinha planejado tudo tão bem, mas não contou com os remorsos dele. Ela já devia imaginar que ele não aceitaria as coisas tão fácil.
Quando Felipe falou, era como se uma adaga penetrasse o coração de Karen.
– Eu não posso, Karen. Eu tenho umas economias... quero que pegue, e fuja daqui para o mais longe possível, e proteja nosso bebê. Leve ele pra longe de mim, pra que meus pecados não o alcance. Eu sou um monstro, Karen! Perdi a conta de quantas coisas abomináveis já fiz nessa vida, e a última delas foi tirar a inocência da minha própria irmã! Enfim a hora do castigo chegou, e prefiro acabar logo com isso.
Karen agora estava desesperada com as coisas que Felipe estava dizendo e tentou trazê-lo à realidade.
– Do que está falando, Felipe? Como pode pensar que Deus nos castigaria? O que aconteceu entre nós não foi um pecado, porque não sabíamos de nada!
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Caleidoscópio
RomanceKaren volta ao litoral, para tentar desvendar seu passado, e para isso, vai contar com a ajuda do puro e singelo amigo Felipe, mas não imagina que está abrindo uma verdadeira caixa de pandora que irá abalar a sociedade litorânea!