O reencontro.

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Karen achou que já era hora de reencontrar com Felipe. Mesmo não sendo católica, decidiu assistir uma missa com ele para conhecê-lo melhor.

Felipe tinha um brilho todo especial. Seu tom de voz era suave e aconchegante... seu olhar era puro como o de uma criança...

Karen sentiu-se muito mal por ter colocado Felipe em dificuldades. Vendo ele ali, tão compenetrado, entendeu enfim que nunca poderia colocar aquilo em risco.

A missa acabou e os fiéis foram saindo pouco a pouco. Karen continuou por ali observando tudo.

Viu quando Felipe arrumou suas coisas, conversou com o padre Josué, e depois foi pro confessionário esperar que alguém viesse procurá-lo.

Karen esperou até que a igreja estivesse vazia, e entrou para se confessar.

Felipe lia a bíblia, tranquilamente, quando sentiu o confessionário ser invadido por um perfume muito familiar

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Felipe lia a bíblia, tranquilamente, quando sentiu o confessionário ser invadido por um perfume muito familiar. Era o mesmo perfume do hospital, e Felipe sentiu o coração acelerar.

- Bom dia padre! Estou com uns problemas, e preciso muito de conselhos...

Felipe reconheceu imediatamente aquela voz e estava doido de curiosidade pra saber a quem ela pertencia.

Queria abrir a portinhola e ver quem era, mas sabia que isso era contra os princípios, e se conteve. Resolveu fazer ela falar mais, pra poder ter certeza.

- Muito bem, minha filha... em que posso ajudar?

Karen não tinha um assunto específico para conversar... estava ali simplesmente por curiosidade, e porque tinha prometido que voltaria a reencontrar com ele...

Karen não sabia ao certo qual seria a reação de Felipe quando descobrisse que era ela... certamente a expulsaria dali, ainda mais depois de ter ido parar no hospital por causa dela, ainda assim não tinha nada a perder.

Sem um assunto específico, e já prevendo um desastre, Karen resolveu prococá-lo.

- Eu cometi um erro, padre... me envolvi com alguém que era proibido pra mim... aconteceu uma confusão muito grande... e agora não sei o que fazer.

Felipe agora estava confuso! Aquele perfume era definitivamente o perfume da garota misteriosa do hospital... mas a voz... ele de repente lembrou de outra voz tão familiar quanto.

No hospital, estava sedado, e as cenas se embaralharam em sua memória... mas aquela voz... definitivamente...

Lembrou-se que no hospital, o perfume lhe pareceu extremamente familiar... e não conseguia lembrar de onde, mas agora, tudo estava vivido em sua memória.

Juntando aquele perfume, àquela voz, tudo começou a se encaixar... Precisava ouvir mais pra ter certeza!

Karen chamou a atenção de Felipe, percebendo que suas palavras causaram o efeito desejado.

- Padre! O senhor ainda está aí? - Karen tampou a boca com a mão para abafar o riso.

Felipe despertou de suas divagações.

- Claro que sim, filha... prossiga! Conte-me como tudo aconteceu.

Karen segurou o riso e continuou provocando.

- A noite estava morna... estávamos sob a luz do luar...

- Está bem... está bem... não quero saber os detalhes! - Felipe interrompeu o relato antes que ela cometesse alguma indiscrição. Karen quase não aguentava segurar o riso - Quando perguntei como aconteceu, queria saber como o conheceu, porque ele é proibido... coisas assim. Por favor, pode me poupar dos detalhes íntimos.

- Ah sim! A culpa é da minha tia! Ela me falou pra não colocar os olhos nele, mas ninguém me avisou que ele era padre!!

- Karen!!! - Felipe abriu a portinhola do confessionário com tanta força que quase a quebrou.

Karen teve uma explosão de gargalhadas. Felipe estava transtornado, e deu-lhe uma tremenda bronca.

- O que pensa que está fazendo? Que insensatez! Como pode brincar assim com os santos ofícios?

Felipe saiu do confessionário e deu a volta para encontrar com Karen e ficou surpreso com o que viu.

Pensou que encontraria a mesma mulher arrogante e sensual, ao melhor estilo Jesabel, mas encontrou uma mulher totalmente diferente daquela que lhe foi apresentada por madame Esmeralda.

Ela estava totalmente diferente, mais jovial e muito menos sofisticada. Karen, contendo o riso, resolveu que já era hora de acabar com o mistério.

- Olá Felipe! Eu disse que, na hora certa, eu voltaria! Não está me reconhecendo?

- Quer dizer que você é a...

- A mulher misteriosa do hospital? - Karen completou a frase antes dele - Eu mesma! Decepcionado?

Felipe sorriu surpreso.

- Não! De jeito nenhum! Só estou surpreso! Nunca imaginei que você e Karen Varemberg fossem a mesma pessoa.

Felipe a encarou e sorriu emocionado. Aquele era, de longe, o sorriso mais lindo que karen ja presenciara.

- Não imagina o quanto te esperei! O irmão Josué já estava me convencendo de que você era só um fruto da minha imaginação. Senti muito a sua falta!! Quer dizer... não de você como Karen, mas da visita misteriosa do hospital.

- Sei! - Karen o encarou com um sorriso incrédulo - Aposto que achou que Karen Varemberg era apenas uma dondoca mimada e arrogante... decepcionado de saber que sua amiga do hospital sou eu?

- Claro que não! - Felipe estava eufórico! - só surpreso!! Muito surpreso! Mas a respeito da sua confissão... que imprudência!

Karen sorriu tranquila.

- Aquilo foi só uma brincadeira. Desculpa o mau jeito, mas não resisti a vontade de te provocar. Além do mais, vai me desculpar, mas nem sou católica. Respeito os ofícios, mas não sigo eles... Deus é minha religião. Além disso, eu precisava te dar um susto pra você ver que outras pessoas também se importam com o que acontece com você. Já pensou o quanto eu me sentiria culpada se você tivesse morrido por minha causa?

Felipe estava encabulado, e se sentindo tremendamente bobo.

- Confesso que pensei sim, mas só quando já estava no hospital. Uma certa pessoa me abriu os olhos. Tive medo de que você também tentasse alguma loucura.

Karen sorriu tranquila.

- Imagina, sou covarde demais pra tentar uma besteira por algo tão bobo. Como te disse, não sou religiosa, nem nada, não tive medo de ser condenada, só fiquei muito envergonhada quando soube que tinha cometido uma gafe tão grande. Cada vez que olho pra você, tenho vontade de me enterrar num buraco de tanta vergonha, mas sou cara de pau e já superei. Me desculpe... mas você deveria ter dito que era padre! Por que tanto mistério? Só forcei a barra porquê pensei que você era gay!!

Felipe soltou uma gargalhada ao escutar as confissões de Karen. Ela sabia dar um ar tão leve a tudo aquilo. Karen sorriu também e continuou.

- Quando soube que você se sentia culpado, fiquei muito preocupada. Por isso, naquela noite, senti que precisava fazer alguma coisa, pra tentar te tranquilizar. Bem! Já vou embora. Não pega bem eu ficar alugando assim o confessionário. Foi um prazer te reencontrar, senhor Santiago! Espero que possamos nos ver qualquer dia desses!

- Mas do que pensa que está falando? - Felipe interrompeu Karen imediatamente - Eu te esperei por tanto tempo! Não vou deixar você partir assim. Esqueçamos tudo o que aconteceu... mas no hospital, você me prometeu que seríamos amigos, e eu não vou abrir mão disso tão fácil! Além do mais, onde vou achar conselhos tão bons quanto os seus?

- Pensei que o conselheiro fosse você! - Karen sorriu surpresa.

- Até os médicos ficam doentes de vez em quando! - Felipe devolveu o sorriso e resolveu fazer uma piada pra descontrair - Só não deixa sua tia descobrir isso, ou vou perder meu emprego. Que tal irmos até a sorveteria da praça tomar um sorvete? Vou só trocar de roupa.

- Mas... e as confissões? - Karen estava preocupada.

- A igreja está vazia, não se preocupe.

- Está bem! - Karen sorriu rendida - Mas vou na frente e nos encontramos lá. Não estou acostumada com a ideia de sair com um padre ainda.

Felipe presenteou Karen com mais um de seus estonteantes sorrisos, e correu para se trocar.

Karen estava começando a se assustar. Sair com Felipe era tudo o que mais poderia desejar na vida, mas tinha medo de estar entrando em outra enrascada.

***

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