Numa bela manhã, Karen amanheceu indisposta. Sentia o estômago queimar, e tudo o que comia, era expelido em seguida com um monte de bílis.
A única coisa que conseguia comer eram as frutinhas ainda verdes de um pé de acerola que tinha encontrado.
Felipe cuidava de Karen como um pai atencioso e estava sempre solicito para apaziguar seu desconforto, mas alguma coisa nele irritava Karen.
Ela ainda desejava ardentemente fazer amor com ele, e ainda o achava extremamente lindo, mas quando estavam juntos, tudo nele a irritava.
As coisas que ele falava e fazia, até seu cheiro tinha mudado... Karen sentia uma espécie de agonia e tinha vontade de se afastar.
Felipe percebeu a mudança e o abatimento de Karen. Ela já não se alimentava direito, vivia irritada, e não se concentrava no que ele dizia...
Ela estava sempre pensativa, como se seu pensamento estivesse fixo em outra coisa. A pior parte é que ela já não se entregava ao amor como antes.
Felipe preferia pensar que ela estava entediada por causa do isolamento da ilha, mas lembrava-se a todo instante da conversa que teve com ela, certa vez, sobre ele ser apenas uma pessoa comum, e que só se tornava atraente por ser um fruto proibido.
Felipe não queria acreditar nisso, mas achava que Karen estava perdendo o interesse agora que ele estava sempre disponível.
Karen odiava tudo o que estava acontecendo com ela. No início, adorava quando Felipe acariciava seus seios, mas agora, se sentia dolorida e inchada, e quando ele a tocava, ao invés de prazer, sentia aflição.
Mas sabia exatamente o que estava acontecendo com ela. Nos primeiros 10 dias de atraso, pensou que fosse apenas coisas da sua cabeça, mas depois de passado um mês, não lhe restava mais dúvidas.
Os enjoos, a falta de apetite sexual, o descontrole hormonal e agora, seus seios doloridos...
Já tinha visto isso milhares de vezes quando dava aulas de puericultura na missão, e sempre que examinava suas pacientes, pensava nesse momento com ternura, mas agora, estava desesperada por ter entrado num caminho sem volta.
Sabia que dali pra frente, seus pequenos seios róseos se modificariam drasticamente, seu corpo de ninfa desapareceria, e mesmo que tomasse todos os cuidados necessários, poderia adquirir um belo corpo, mas nunca mais seria esse corpo... seria um corpo de mulher!
Dali em diante nunca mais poderia tomar as próprias decisões, já que elas afetariam diretamente outra pessoa... não seria mais dona de seu tempo, nem de seu corpo... nunca mais estaria sozinha com os próprios pensamentos, e isso a apavorava.
Mas também o que esperava depois de fazer amor dia após dia, sem nenhum cuidado e nenhuma proteção?
Só não sabia ainda como contar a Felipe... não sabia exatamente qual seria sua reação.
***
Karen passava horas isolada em seu mundinho interior. Às vezes sentia-se emocionada de saber que dentro de si estava crescendo um outro ser, que era um pedacinho do seu grande amor, e se sentia à mulher mais sortuda do mundo.
Outras vezes sentia-se apreensiva, pois estavam vivendo em condições precárias, e não estava tendo o devido acompanhamento médico...
Sabia que os três primeiros meses eram perigosos, por isso ainda não tinha contado nada pra Felipe.
Ela sabia que ele era apegado a extremos, e se algo acontecesse, Karen queria levar o peso da perda sozinha.
Mas às vezes, principalmente quando estava enjoada, sentia-se possuída por um alienígena egoísta que estava sugando sua energia vital, e odiava Felipe com todas as forças por ter colocado ela nessa situação.
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Caleidoscópio
RomantizmKaren volta ao litoral, para tentar desvendar seu passado, e para isso, vai contar com a ajuda do puro e singelo amigo Felipe, mas não imagina que está abrindo uma verdadeira caixa de pandora que irá abalar a sociedade litorânea!