Capítulo 22

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AURORA

Acordo com o som do despertador tocando pela quinta vez. Não vi meu irmão desde a conversa que tivemos. Estou evitando-o, mesmo sabendo que é inevitável.

Você consegue. — Murmuro para mim mesma ao encarar o grande portal azul do colégio Sant Mary.

Dou um leve aceno para o funcionário que monitora os grandes portões do colégio. Também não tenho visto Laura. Não espero que Laura queira me ver de qualquer forma, mas é torturante não estar com ela... como se algo vital estivesse faltando.

Tento evitar a bile que sobe pela garganta, e entro na sala de aula, já ocupada por muitos adolescentes.

Encontro Patrick em seu estado natural. Seu cabelo levemente desgrenhado e sua postura desleixada em suas roupas pretas habituais. Não digo nada à medida que me aproximo da cadeira e me acomodo no assento duro.

Depois da noite que tivemos...  Não paro de pensar nele. Talvez eu goste dele nem que seja um pouquinho. Mesmo que me custe dizer.

Ele é tão atencioso comigo, o modo como me trata, com carinho e atenção... A maneira como apenas me ajuda em meus momentos difíceis. Não vou me esquecer disso.

Talvez ele não seja a pessoa que eu achava que fosse... Talvez o tenha julgado mal. Não deveria ter tratado ele daquele jeito, muito menos ter acreditado nas fofocas que as pessoas diziam sobre ele.

Afinal, nem tudo é o que parece.

Depois de três aulas, o sinal bate e as fileiras crescentes de adolescente se levantam, fazendo burburios ao ir para o intervalo. Não sei para onde ir... Se eu esbarrar com Laura ou Caio, terei que dar explicações e não quero isso.

Não quero estragar mais a minha relação com eles.

Então vou para o fundo da escola, onde não tem ninguém e posso ficar sozinha. Apenas eu e meu sanduíche de presunto. É assim por longos minutos, até alguém sentar ao meu lado.

O céu está com um leve tom de azul-esbranquiçado, ninhadas de pássaros voam em torno das longas árvores e matos verdes cobrem quase todo o extenso local ao redor. Viro meu rosto de lado a tempo de encontrar Patrick sentado casualmente, com as mãos no bolso e olhando para o horizonte.

— Achei que estaria aqui. — Ele diz.

Dou de ombros e volto a atenção para o menino à frente.

— Se sabia que eu estava aqui, também saberia que eu quero estar sozinha.

— Eu também quero ficar sozinho, Aurora. — Patrick diz de modo cínico ao gesticula para o lugar — Afinal, aqui é um local público. Que tal ficarmos sozinhos juntos?

Um riso escapa de mim. Não consigo controlar. Fico imaginando como deve ser difícil para Patrick não ter alguém para passar o tempo. Ninguém além de mim. Não que eu saiba muito da vida dele.

Mas somos amigos, não somos? Ou, pelo menos, algo próximo disso.

Solto um resmungo baixo, mas de certa forma aliviada por ele estar aqui.

Patrick encara um ponto distante. Eu me concentro na minha comida. É estranho, pois aquela barreira que entre nós existia não existe mais... Pelo contrário.

— Eu tenho algo para te dar — Ele diz subitamente, o que me faz encará-lo.

— Você não precisa ser tão legal comigo. — Dou uma mordida no meu lanche conforme encaro um ponto distante.

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