Capítulo 31

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AURORA

Estou no hospital, com roupas próprias para tal lugar. Patrick vem me ver, mas logo sai, quando minha mãe chega. Não tenho notícias de Laura, e também não tenho do meu irmão, isso me deixa preocupada.

— Não me olhe desse jeito — Articulo para minha mãe que me encara com um olhar descarado.

— Desse jeito como? — Alice diz com um sorrisinho e um piscar de olhos.

Reviro os olhos de modo brincalhão e dou um sorriso para a mulher que está sentada ao meu lado.

— Ele é um bom menino. — Minha mãe murmura por fim, e sei que está falando de Patrick.

Assinto, sem ter o que falar. Lembro-me de Patrick me segurando firme e me dizendo que estava tudo bem... Para eu não ter medo. Ele me chamou de minha luz, fez com que tudo fosse mais fácil de lidar.

Escuto batidas soando na porta dupla do quarto de hospital. Nós duas levantamos o olhar para ver quem é.

— Estou atrapalhando? — Caio pergunta, meio sem jeito. Ele adentra o lugar semi-aquecido.

— Não, meu filho! — Alice responde, mexendo na bolsa em seu colo.

Dou apenas um meio sorriso para meu irmão. Ele se aproxima mais de onde estou. Seu cabelo castanho é bagunçado, e há orelhas por debaixo dos seus olhos. Caio parece cansado. Também lembro-me dele segurando minha mão e me dizendo palavras de confortos.

— E aí, maninha  — Ele bagunça meu cabelo.

— Oi, maninho — Faço uma careta pelo gesto.

Minha mãe se levanta da cama e com um "voltarei em breve" sai do local. Ela deve estar ocupada. Caio abaixa o olhar, quando levanta novamente percebo seus olhos lacrimejarem.

— Eu estava tão preocupado... Com medo. Nem imagino como você deve ter sido difícil para você.

Dessa vez eu abaixo meu olhar. Na maioria das vezes, Caio é sempre alegre. É ele quem está sempre sorrindo. Não gosto de vê-lo assim tão triste assim.

— Eu... Não entendo. — Solto um pequeno suspiro — Se eu só ralei o joelho, por que eu não consegui ir até Laura? Por quê? — Lágrimas descem pelo meu rosto, mas não me preocupo em limpá-las.

Caio se aproxima e senta ao meu lado. Ele me encara nos olhos e segura minha mão.

— É psicológico. O medo te paralisa. Ele paralisa seu corpo, sua mente, e faz com que você não se mexa. Às vezes, o medo tem um grande poder sobre nossas decisões.

Assinto.

— Como Laura está?

Só consigo pensar em Laura. E o corpo dela sangrento no chão. Não consigo aguentar não ter notícias da minha melhor amiga. Estou sendo paciente, mas preciso vê-la, conversar com ela, e explicar o que aconteceu.

Caio fica em silêncio. Ele engole em seco.

— Ela ficará bem.

Mas ainda assim... Não vejo certeza em suas palavras.

— Eu preciso vê-la. — Digo, com olhos suplicantes, daqueles quando preciso de algo.

— Eu sei que quer, mas você precisa ter paciência.

Paciência. Não é tão fácil quanto parece.

Um sentimento pequeno e doloroso se apossa de meu peito.

— Eu gostaria de não ter chamado ela para conversar. Eu gostaria de não ter andado naquela rua com ela.

— Você está fazendo isso de novo.

— O quê? — Sussurro ao levantar o olhar para encará-lo.

— Se culpando.

— Eu só...

— Não. — Caio apenas me interrompe, segura meus ombros com as duas mãos, com cuidado, me faz parar de falar. Ele dá um pequeno suspiro — Nada do que aconteceu foi culpa sua. Não importa o rumo que a situação tomou. Você fez o que achou melhor no momento. Você é uma boa pessoa, Aurora, é por isso que se culpa tanto, mesmo que não seja culpa sua.

Não digo nada. Então ele continua.

— Apenas descanse. O médico disse que daqui dois dias você terá alta. — A voz do meu irmão é calma, mas seu semblante é preocupado.

— Mas... — Tento protestar.

Caio me encara com um olhar repreendedor.

— Ei, você confia em mim, não confia?

— Confio. — Digo sem pensar duas vezes.

Ele aperta minha mão. Retribuo o olhar firme do meu irmão.

— Então confia em mim quando digo que vai ficar tudo bem e que vamos dar um jeito nisso?

Assinto com a cabeça, não muito segura de suas palavras. Engulo em seco. Isso faz com que eu me acalme, apenas um pouco.

— Vem cá — Digo para meu irmão.

Caio levanta as sobrancelhas em sinal de confusão.

— O quê? — Ele pergunta genuinamente curioso quando está perto de mim.

Puxo ele para um abraço. Daqueles abraços de urso. Daqueles que fazem perder o ar de tão forte.

— Obrigada, maninho — Sussurro, já conseguindo sentir as lágrimas pelo meu rosto — Por tudo.

Caio retribui ao passar os braços pela minha cintura. Logo depois, se levanta, se apoia na cômoda. Abre um sorriso malicioso, o qual faz eu estreitar as sobrancelhas.

— Não me agradeça. Agradeça ao menino de cabelos negros, Patrick o nome dele, não é?

Solto um bufo de indignação conforme meus lábios se repuxam em um sorriso.

É sério que vamos ter essa conversa?

— Ah, cala boca, Caio! Não mude de assunto, seu babaca.

Meu irmão solta um riso divertido. Ele cruza os braços em frente ao corpo, e encara com profundidade.

— Ele gosta de você.

Olho para ele com raiva por ainda mudar de assunto. Porém tento não parecer muito surpresa devido ao comentário. Meu irmão está tentando me distrair, bem espetinho da parte dele, pois está funcionando.

— Eu ainda consigo te bater, maninho. — Digo como proposta — Então é melhor ter cuidado com o que diz.

Ele levanta as mãos como redenção. E, percebo o quanto ele parece cansado e decido não insistir muito no assunto. Até porque isso não deve ser fácil para ele também.

Apenas dois dias, e eu poderei ver minha melhor amiga novamente. É o que ele disse. Tenho que ter paciência. Posso fazer isso por ela. Mesmo que um sentimento estranho cresça em meu peito, mesmo que algo dentro de mim fale que algo está errado, eu vou esperar e confiar.

E quando eu vê-la novamente vou falar todas as palavras que estão entaladas em minha garganta. Cada detalhe. Vou contar o que aconteceu, que eu nunca quis me afastar dela, em nenhum momento.

Pretendo dizer tudo. Cada mínima palavra.

 Cada mínima palavra

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