Capítulo 27

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CAIO

Ultimamente, minha irmã tem andado meio estranha... distante. Eu finjo que não percebo, mas a conheço tão bem quanto qualquer um. Não sei o que aconteceu. Sempre que tento conversar sobre isso, ela me deixa falando sozinho, sem contar que não a vi mais com Laura.

— E aí, galera — Cumprimento o meus amigos.

— E aí, Caião! — Diz Charles.

— Opa! — Kauã responde com um sorrisão.

Katie apenas oferece um sorriso simpático.

— Que tal um rolê depois da escola? — Charlie sugere à galera. Katie e Kauã aceitam e olham para mim em busca de uma resposta.

— Não sei se estou a fim...

— Ah qual é, Caio! Você nunca foi de recusar um rolê. — Aponta Kauã, Katie e Charles murmuram algo parecido.

— Me deixem, seus maricas. — Em troca recebo cotoveladas e sorrisos.

Eles sempre foram meus amigos. Desde o fundamental, quando nos conhecemos. Charles e Kauan irritaram Katie e eu a defendi.

Entro rapidamente. A sala de aula já está quase lotada. Me acomodo na primeira fileira, e volto minha atenção às duas meninas que estão brigando por uma caneta, até que Laura entra na sala com um olhar distante.

A professora de Química entra logo depois dela, se posicionando no centro da sala. Laura senta em seu lugar habitual, duas cadeiras à minha frente.

— Laura. — A chamo, mas ela não escuta. Nem ao menos pisca.

— Bom dia, pessoal. — Cumprimenta a professora.

— Bom dia! — respondem os alunos em uníssono.  

— Laura! — Coxixo inquieto, mais uma vez tentando chamar sua atenção.

Droga.

Com um suspiro, arranco um pedaço de papel e escrevo rapidamente nele. Dobro a folha e a arremesso, na esperança de que o recado chegue em suas mãos, porém o papel atinge o chão ao seu lado.

— Eu acho que o Caio está muito ocupado nesse momento para sequer prestar atenção à aula. — Diz Marta, a professora de Química.

Sussuro um palavrão enquanto a professora caminha até meu assento.

— Você gostaria de compartilhar com a sala o que está fazendo? — Marta pergunta e se aproxima da mesa de Laura — O que é isso? — ela pega a bolinha amassada de papel.

— Pode me explicar o que isso significa? — Ela levanta as sobrancelhas.

— Eu posso explicar! — Tento encontrar uma desculpa esfarrapada.

— Ah... não precisa. — Ela diz ao abrir o papel — Deixa que eu mesma confiro.

Meu estômago se revirar e tudo o que quero é enfiar minha cabeça no primeiro buraco que encontrar. Meus amigos, não muito longe de mim, me observam com curiosidade. A professora lê o bilhete em voz alta para todos da sala. Quando termina, leva as mãos à cintura.

— O que você quer com Laura, hein, Caio?! — Exclama Kauã.

— Tem que ser a sós, você ouviu. — Charles pergunta para Kauã.

Katie, que não é boba, está muito concentrada em suas unhas.

— Não é da conta de vocês. — Falo rispidamente.

— Ui! Ele tá bravinho! — Eles dizem em uníssono.

Reviro os olhos e tento controlar a raiva no peito. Mesmo que sejam meus amigos, não quero a interferência deles no assunto. Laura não precisa escutar esses comentários maldosos. Lanço um olhar que diz "Cuidem da vida de vocês!" E eles voltam a fazer o que quer que estivessem fazendo

Quando o sinal bate, prontamente vou atrás de Laura. Com uma calça marrom-café e o cabelo cacheado preso em um coque, ela estaria em sua aparência habitual se não fosse pela ausência de maquiagem e seu olhar cabisbaixo.

— Laura! — Digo ao segurar suavemente seu braço, fazendo-a parar. Ela se vira relutante ao encontrar meu olhar, porém seus lindos olhos verdes estão opacos.

Meu coração fica apertado por vê-la assim.

— Você está bem? — Questiono, sem conter a preocupação.

Eu também conheço Laura desde o fundamental. Quando a vi conversando com uma garota ruiva, ela parecia feliz. Como eu era muito tímido para sequer puxar assunto, ela deu o primeiro passo. Depois, começamos a conversar frequentemente, mas nunca passamos de colegas que fazem trabalhos em dupla. Nunca contei isso para minha irmã, mas sempre tive uma queda por Laura.

— Aconteceu alguma coisa com Aurora? — Ela pergunta hesitante.

— Por que você está me perguntando isso? — Ela não responde e eu continuo — O que aconteceu? Tem algo de errado entre vocês?

— Eu não sei. — Laura fala com um suspiro e se senta em um banco próximo — Eu ia perguntar a mesma coisa. Aurora me afastou do nada...

Por que? Minha irmã não faria isso sem um bom motivo.

— Ei. — Explico com a voz calma — Eu conheço minha irmã. Você é a melhor amiga dela. Deve ter algum motivo para ela ter feito isso...

Laura sorri ao me olhar. Retribuo com um sorriso torto e passo as mãos pelo cabelo para esconder o nervosismo.

— Vou ter uma conversa com ela.

Laura assente lentamente, visivelmente aliviada. Quando estou prestes a sair, ela me chama uma última vez.

— Você pode dizer uma coisa para ela por mim?!

Faço que "sim" com a cabeça e ela continua.

— Diga que eu sinto falta dela. 

— Vou dizer...

Assim como todos nós, sei que minha irmã tem seus problemas para resolver. Mas ela não precisa enfrentar tudo sozinha. Não precisa guardar tudo para si mesma e afastar todos que a amam.

Tenho medo de que algum dia isso possa consumi-la.

Tenho medo de que algum dia isso possa consumi-la

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