AURORA
À medida que os dias foram se passando, eu e meu irmão revisamos quem ficaria com Laura no hospital. Os médicos disseram que ela teve uma melhora significativa nas últimas semanas e que poderia acordar a qualquer momento, mas teria dificuldade com algumas habilidades motoras essenciais.
— Você quer alguma coisa para comer? — Meu irmão pergunta ao abrir a porta e se aproximar da cama de Laura.
Digo que não e continuo encarando a menina de cabelo cacheado que está em sono profundo, mas com sorte conseguirá a qualquer momento. Dou um suspiro cansado conforme encaro meu irmão.
— Quero estar aqui quando ela acordar. Para que ela saiba que não está sozinha.
— Também quero ficar. — Ele enrola uma mecha cacheada dela nos dedos.
— É claro que quer. — Digo com um sorriso.
Tem momentos que Laura consegue relutantemente mexer os dedos das mãos... E esses momentos fazem meu coração palpitar de alegria e esperança.
Escuto um ruído baixo e encaro meu irmão, mas percebo que o som não provém dele. Arregalo os olhos confirme me levanto para encarar Laura mais de perto. Com pura surpresa, levo as minhas mãos para a boca.
Laura pisca os cílios uma vez. Depois outras. Movimentos hesitantes e lentos. Mas ainda sim...
Até que lentamente abre seus lindos olhos verdes. Solto um suspiro que não sabia que estava guardando. Caio abraça minha melhor amiga. Ele não quer soltá-la.
Me aproximo mais de Laura enquanto meu irmão solta os braços de seu pequeno corpo. Ela parece anestesiada como se estivesse vendo tudo aquilo pela primeira vez depois de muito tempo. E realmente está. Já se passaram um mês...
Rodeio meus braços em seu corpo que está aquecido em minha pele. Em resposta sinto um aperto fraco em minhas costas. Como eu senti falta disso. Como eu senti falta de abraçar minha melhor amiga.
— Senti tanta sua falta. — Murmuro conforme me afasto de seu abraço — Cada minuto, cada hora e cada dia. Senti tanta sua falta que pensei que iria morrer.
Consigo sentir a umidade nos meus olhos, mas não impeço o choro. Mas não é de tristeza... e sim de felicidade. Dou um amplo sorriso para minha melhor amiga.
Laura tenta falar, mas está com dificuldade.
— Está tudo bem. Não se esforce.
Abraço-a mais uma vez com medo de que se a solte ela possa desaparecer. Não quero mais ficar longe dela, por nem mais um segundo.
Não teve um único dia que não me culpei pelo o que aconteceu com Laura, que encostei a cabeça no travesseiro e dormi em paz, que eu não chorei. Todos os dias, eu rezava para algum ser superior trazer minha amiga de volta. E estou feliz que pelo menos uma vez os deuses me ouviram. Tenho tantas coisas a dizer para Laura, e ao mesmo tempo não sei ao certo como expressar.
— Eu te ajudo. — Caio murmura por fim, meio hipnotizado. Alguém trocou as roupas de Laura enquanto ainda estava dormindo. Lanço um olhar inquisidor para meu irmão, pois ele foi o único que ficou aqui antes de mim.
— Não me olhe desse jeito — Ele diz com vergonha.
Levanto as sobrancelhas como se dissesse "Desse jeito como?"
— A enfermeira estava muito ocupada para fazer isso... Então me ofereci. — Ele diz envergonhado ao colocar as mãos no bolso da calça — Não ache que sou um pervertido, só troquei as roupas dela. Apenas isso.
Vejo Laura corar e percebo que talvez ela tenha escutado nossa conversa.
Ainda estou seguindo eles. Laura está encostada em meu irmão para conseguir se locomover. Seus passos são lentos e tropeçantes, mas, Caio, a segura firme, é paciente. Conversamos mais uma vez com o médico antes de sairmos do hospital.
— Ela é a nova integrante da família. — Digo para Laura enquanto observo a cortina macia de pelos da Star.
A cachorra apenas abana o focinho. Laura arqueia as sobrancelhas em compressão e dá um sorriso ainda encarando a cachorra. Elas ainda terão mais tempo para se conhecerem melhor. Mas Star parece ter simpatizado com Laura.
Meu irmão ajuda a minha melhor amiga a se sentar. Ele a encara com carinho. Fico apenas observando-os. Caio ajuda Laura a comer algumas frutas e fica a todo momento com ela.
Enquanto Laura ficou em coma, Caio ficou em cacos. Assim como eu. É claro que ele não demonstrou, mas como sua irmã, eu percebi. Tenho certeza que ele está muito feliz e agradecido, assim como eu, por ela ter voltado novamente a vida. Eu posso perceber, pela forma que ele a tratou nessas últimas três semanas, que ele a ama. De verdade.
Eu não sou uma pessoa totalmente religiosa, mas depois desse dia eu passei a acreditar que milagres existem.
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Recomeços
Novela Juvenil🏆1° na Categoria Melhor Cena de Conselho no Concurso BE Different.🏆 🏆1° no Concurso Diamante Negro - 2°edição.🏆 🏆1° na Categoria Melhor Casal no Concurso Sunflowers.🏆 🏆1° na Categoria Melhor Cena romântica no Concurso Jogos na Leitura.🏆 🏆2°...