Ayla Sintori
(12:30, terça feira)
A mente humana é algo incrível e muitas vezes catastrofica,pois em uma momento podemos optar por sorrir intensamente,sentir a felicidade emanar por todo seu corpo,mas em questão de segundos que se assemelham aos milésimos,tudo que possuía cor e alegria,passa a se tornar um labirinto negro no qual não sabemos sair sem ferimentos e decepções. A habilidade de termos duplos sentimentos em um único momento nos faz pensar em como pode ser possível corrigir o que muitos julgam ser erros, buscamos compreender a imensidão do que nos rodeiam e nos torna forte o suficiente para tomar uma decisão e fraco para aceitar as consequências avassaladoras que podem surgir, independe do tenhamos optado. O labirinto sempre se fecha e nesses momentos,sempre será como milhares e milhares de agulhas perfurando seu corpo enquanto a dor se manifesta provocando um possível desmaio, mas sabemos que no estante que fecharmos os olhos e os abrissemos novamente,as dores seram profundas e mais intensas. A dor de uma lâmina cortando seus pulsos não se assemelha,um tiro a queima roupa não descreve metade do que possamos sentir. É inexplicável,porém compreensível por poucos e ignorado por muitos.
Com uma pequena mochila nas costas e meu celular em mãos enquanto escrevia um bilhete para meus avós. Não voltaria para casa antes das oito da noite e muito menos agiria de forma carinhosa, não suporto fingimento e muito menos a preocupação nula que sempre vejo ao nos encontrar. O fato de estar morando com ambos, não poderá fazer com que aderisse um sentimento mais afetivo por ambos, conheço o inferno que fizeram com a vida de meus pais,estava ciente da forma que me desprezaram quando era criança. Não há nada que me faça acreditar em suas mudanças repentinas. Deixando o bilhete pregado na porta da geladeira e a caneta sobre o balcão,saio de casa podendo sentir um vento frio bater contra meu rosto fazendo um arrepio percorrer por todo meu corpo. As pessoas andando pelas ruas,todas muito bem agasalhadas,o que me diferencia de todas.
Essa cidade não poderia me fazer se sentir em casa, não poderia fazer-me sentir a mesma liberdade que tinha em Nova York. Quando meus pais eram vivos,mesmo tendo cautela em tudo que fazia,podia sentir a adrenalina percorrer por todo meu corpo, conseguia sentir a felicidade em poder andar por aquela cidade e me sentir realmente em casa,o que não sinto aqui. Dei uma chance de poder recomeçar minha vida,uma chance para que esquecesse a tragédia que vivi ao perder aqueles que mais amava no mundo,dei a oportunidade de poder viver coisas novas e aprimoradas,porém não era exatamente isso que estava acontecendo, não era exatamente esse objetivo que estava obtendo,mas sim estar vivendo presa naquele dia e naquela cidade que tinha minhas mãos profundas histórias de superação e dor. A cada dia que passe,a cada segundo que me sento em minha cama ou que me abraço com meu travesseiro,prendo as lágrimas e soluços que ficam presos, ignoro a fragilidade tendo em mente que havia passado o momento de chorar, porém a dor sempre está ali para me lembrar de que ela nunca irá embora por completo.
Em frente aquela lanchonete, suspiro profundamente e adentro o local podendo encontrar algumas pessoas sentadas febre aquelas tantas mesas,porém somente dois olhares me incomodaram, somente duas pessoas me fizeram desviar o olhar e aproximar-me do balcão onde minha mais nova amiga me observava com um olhar carinhoso. Não sou alguém que coleciona amizades e muito menos alguém que confia nas pessoas,porém ao adentrar esse estabelecimento pela primeira vez,pude sentir que essa garota era o tipo de amizade fiel e que preza pelo bem estar e segurança das pessoas que possuem seu carinho afetivo. Ela era um excessão entre milhões de pessoas que se fazem de inocente e confiáveis.— O que a gatinha vai querer desta vez? — com um sorriso que alcançava seus olhos,Lili questionou.
— Nada, apenas estou dando uma volta — murmuro apoiando meus braços sobre aquele balcão e me sentando em uma das cadeiras.
Embora estivesse começando a conhecer essa garota,tinha a sensação de que poderia confiar em si,poderia me abrir consigo e me aconselhar. Lili aparenta ser uma conselheira perfeita,a filha de pais que exibem o orgulho de tê-la como filha,ela demonstra ter a admiração de todos que a conhecem. Sou alguém diferente e que se revelou ser o desgosto de todos, alguém que não deseja corromper uma garota como essa que me encarava preocupada e insegura se questionava o porquê de estar assim. Lili exibe doçura e carisma, transparece uma aura angelical que seus olhos afirmam,uma sensibilidade que poderia ser abalada por qualquer pessoa que entre em sua vida,e não quero ser esse alguém, não quero lhe fazer me conhecer por trás dessa mascara branca mas que abriga uma personalidade negra,uma feição destruidora que pode reduzir ao pó todos aqueles que se aproximam.
Sentindo meu celular vibrar em meu bolso,soube que estava no momento do meu pequeno treinamento para espairecer essa raiva e magoa que me sufoca a cada segundo do meu dia. Sem olhar em seus olhos,me levanto e saio sem lhe responder as inúmeras perguntas que ficaram pairando no ar. Tomando a direita exatamente onde ficava a academia que fiz minha inscrição a duas semanas atrás,porém iniciarei meu treinamento hoje. Desde de nova York estava em treinamento,porém com tudo que aconteceu,senti a necessidade de voltar aos treinamentos somente por agora. Desde a academia a box e outras lutas,mas ao contrário do que muitos pensam,uso esses treinamentos somente como um exercício a mais, não nego que usei tudo que sei,mas no momento estou apenas em busca de uma forma de me relaxar e tranquilizar.
Adentrando aquela academia,passo pela recepção e me direciono para a área de treino. Podendo ver algumas pessoas treinando,sigo para o vestiário o encontrando vazio, abrindo o armário no qual foi designado a mim,guardo minha mochila após pegar meus fones de ouvido. Ouvindo passos se aproximarem,me surpreendo ao encontrar o moreno tatuado me observando com um olhar indescritível e incompreensivo. Minha relação com ele é estável e considerada amigável, porém todas as vezes que olhava em seus olhos,um medo se apossava de meu corpo e um aperto se formava em meu peito,pois Zayn me causava insegurança, pavor em pensar que meus segredos fossem descoberto por ele. A forma que seus olhos me estudavam,o jeito que observava cada centímetro de meu rosto fazia-me temer lhe encarar,pois de todos que tiveram passagem em minha vida, Zayn era o único que descobriu coisas sobre mim.— Seu medo lhe entrega!
Ouvindo sua voz grave e rouca, suspiro profundamente e me sento no chão frio enquanto apoiava minhas costas nos armários. Apoiando meus cotovelos sobre meus joelhos e cobrindo meu rosto com as mãos,ouço seus passos se aproximarem e o sinto se sentar ao meu lado.
— Lili está preocupada com você! Sua forma de sair daquela lanchonete a deixou preocupada e confusa...— Zayn informa com um tom de voz divertido — ela me obrigou a te seguir e descobrir o porquê de estar agindo dessa forma.
— Ela é uma boa pessoa! Diria que a melhor que conheci — digo retirando minha mão de meu rosto.
— Qual seu motivo para ter saído daquela forma? Preciso de algo convincente.
— Algo verdadeiro e convincente... Preciso treinar.
Me pondo de pé novamente,pego meu celular e os fones de ouvido e me retiro daquele vestiário deixando o moreno tatuado sozinho. Não diria a verdade e muito menos daria uma explicação. Quero manter meus segredos o mais longe possível de Zayn e todos os outros.
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Ayla[ Concluído|SEM REVISÃO]
Teen Fiction17 anos de pura sabedoria e marra,mas sempre mantendo a pose de "boa menina" que seus avós acreditam que ela seja. Órfã de pai e mãe,Ayla Sintori passou a viver com os avós paternos,tendo que se mudar de cidade deixando tudo para trás,a garota d...