Ayla Sintori
Londres - 16:00 da tardeNão era como se desejasse retornar à cidade que tanto me marcou,no entanto, era o casamento de alguém que se tornou um grande amigo para mim, uma pessoa que nunca se esquecera de me ligar todos os fins de semana,ou até mesmo,me visitar dentre esses anos que se passaram. Trevor merecia o meu carinho,minha admiração e minha presença em um dos momentos mais importantes de sua vida,e nem Jhonatan seria capaz de me impedir de lhe proporcionar isso.
Confesso que as horas dentro daquele avião,foram torturantes e exaustivas, não havia como ignorar os tantos pensamentos,a forma como tudo poderia acontecer. Ainda não me enxergava preparada para os próximos episódios, não conseguia me ver encarando o homem que menosprezou meus sentimentos, afinal, quando realmente se ama alguém,o amor é uma coisa que tarda a ter fim.
Então sim,mesmo que passem anos,mesmo que uma vida inteira tenha fim, Zayn Richelie sempre seria uma parte de mim,aquela na qual seria impossível esquecer e deletar por completo. Eu sabia,cada célula de meu corpo tinha conhecimento do grande desafio que estava enfrentando. Mas não significaria que deixaria ele destruir meus planos, não significaria que aquele homem seria como de meus próximos passos e pensamentos. Conhecia meus potenciais e força de vontade; Zayn não saberia,em nenhum momento,que ainda morava em meu coração.
E quando desembarquei, quando pude finalmente sentir a brisa e ar de Londres, finalmente entendi que não teria mais volta, não poderia voltar atrás e, tão pouco, ignorar aquelas três pessoas que se encontravam me esperando naquele estacionamento; Trevor não escondia o sorriso de satisfação, Lili não estava diferente,mas,ele estava ali,como se estivesse de frente a uma miragem. Zayn não esboçou nada,mais eu conhecia as reações mais submersas de si: ele estava feliz em me ver,mas não demonstraria de forma tão aberta.
Com uma de minhas mãos segurando o puxador da mala e a outra, apertando a alça de minha mochila — odiava viajar com algum tipo de bolsa — segui até eles em passos calmos e seguros,mesmo que estivesse fazendo um enorme esforço para me sustentar de pé. Trevor me abraçou, circulou minha cintura com tanta força que me vi sendo erguida do chão - suas idas a Nova York e nossas saídas lhe deram liberdade para comigo. Lhe retribui com a mesma força e com um sorriso surtindo em meus lábios, sempre cobertos por um gloss.
Líli me acolheu de forma delicada,me abraçou como se estivesse com uma criança entre seus braços, então entendi: ela me questionava sobre a presença de Zayn,queria ter a certeza de que tudo ficaria bem,de que meu coração fragilizado fosse suportar a ideia de estarmos em um mesmo ambiente. Assim como Trevor, Lili me ouvia desabafar,me atendia em todos os momentos de crise e culpa,culpa por ter me deixado se envolver emocionalmente em algo tão carnal. Ela me compreendia e se preocupava.
Apenas acenei em sua direção. No houve toques,apenas um curto e forçado sorriso de canto. Ambos sabíamos, não existia intimidade,ele tão pouco poderia me pedir por algo mais afetuoso,pedir por contato. Ele pareceu perceber a aliança em meu dedo; pareceu enxergar o que havia conseguido com outro,o que um dia desejei ter consigo,enxergou as grandes mudanças que faria em minha vida.
Trevor queria me levar para sua casa,quis que ficasse a semana consigo e Lili,no entanto,optei por seguir para meu apartamento,aquele no qual morei por alguns meses — quis comprar onde tudo teve um fim e um novo recomeço,quis ter em mãos, aquilo que deu fim ao meu passado e abriu portas para meu futuro. E quando abri aquela porta e encarei o lugar reformado e com uma decoração completamente diferente,soube que mesmo sendo reconstruído, nada apagaria as verdadeiras emoções.
— Creio que minha geladeira esteja vazia,pois não consegui alguém de confiança para fazer as compras da semana...— deixando minha mala ao lado da porta e as chaves sobre o porta chaves, anunciei sentindo-me cansada — mas, podemos pedir por algo em algum restaurante.
— Não se preocupe, fizemos um lanche antes de encontramos com você no aeroporto. Ayla, são onze da noite! — Trevor exclamou com humor,o que me fez suspirar e rir.
Zayn se manteve na porta,parecia preso em pensamentos a medida que seus olhos encaravam cada centímetro ali. Líli havia ficado na recepção,acabou por encontrar com uma amiga. Havia um clima pesado e tenso,éramos três pessoas com um passado em comum,e sempre soube que Trevor se sentia pressionado, sufocado por ter de escolher entre um dos amigos,mesmo que tenhamos deixada claro ser um problema meu e de Zayn.
Me sentei naquele sofá e suspirei em alívio,estava cansada e desejando dormir até que o próximo dia chegasse. Então,como se não fosse o bastante,meu celular vibrou em meu bolso: era uma mensagem de Jhonatan perguntando se havia chego,e outra do escritório onde trabalhava, anunciado o início de minhas férias; afinal,estava em uma executiva rotina desde o meu período de estágio.
— Trevor,depois você me passa o endereço de onde iremos amanhã. Tenho que encontrar com meus pais — anunciando, Zayn guardou suas mãos nos bolsos da calça social preta e que se ajustava a seu corpo.
— Posso te levar,assim não precisa pegar um táxi — se ofereceu,mesmo sob a negativa do amigo.
Então, deixando um acenar em minha direção,Zayn atravessei aquela porta e a fechou atrás de si. Minha respiração se aliviou e o ar,que ao menos percebi estar segurando,foi libertado. Trevor percebera,havia entendido o quão estava exitante sob a presença daquele que poderia causar um verdadeiro tsunami em meu corpo e subconsciente. Ele se aproximou e sentou-se sobre minha mesinha de centro,segurou em minhas mãos e acariciou na tentativa de me dar conforto.
— Está sendo difícil, não é? Poderia ter negado meu pedido, Ayla. Você ter saído de Nova York, sabendo que passaria uma semana ao lado dele,fará com que apenas abra as feridas em processo de cicatrização — sob suas palavras, fechei meus enquanto abaixava minha cabeça, pedindo para que nada se abalasse.
— Como ele está, Trevor? Diz que ele está com alguém,que continua sendo aquele cara imaturo. Me diz que nada mudou — talvez,se acreditasse e me apegasse a isso,tudo se tornaria mais fácil.
Trevor suspirou,seu aperto em minhas mãos me davam a notícia. Mas não era uma opção,nada do que estivesse sentindo em meu coração,nada daquelas emoções fariam com que desistisse da minha vida em nova York,com Jhonatan. Queria acreditar ser apenas a euforia de um reencontro,a sensação de que a saudade estava sendo exilada. Mas minha realidade era outra,e sempre seria.
— Ele assumiu a empresa da família, Ayla. Montou seu próprio escritório de engenharia, se aprisionou naquilo que era sonho dos pais,construiu uma vida baseada no que desejava. Zayn sequer teve tempo de voltar a ser aquele cara impulsivo. E...— as palavras adentravam meus ouvidos e minha mente tentava assimilar — assumiu um relacionamento com a filha de um dos investidores,mesmo que ambos estivessem levando como apenas uma amizade e troca de favores.
— Como assim, " troca de favores" ? — era quebrar minhas regras estabelecidas,no entanto,a curiosidade gritou mais alto.
— Por ser filha de um empresário que está sempre em uma das revistas empresárias mais comentadas de Londres,a garota precisava abafar as suspeitas de um envolvimento que causaria uma repercussão enorme,ambos fizeram um acordo: Zayn seria seu namorado até ela criar coragem de conversar com os pais,e a garota lhe ajudaria com assuntos que ele pouco entendia na empresa — explicando, Trevor revirou os olhos.
Grandes mudanças exigem enormes sacrifícios. E por mais que seja falso,ou algo do tipo,esse relacionamento me tranquilizava de alguma forma,me deixava saber que não haveria investidas ou uma possível tentativa de conversa. Por uma semana,seria necessário apenas evitar a presença de Zayn, garantir que não haja uma momento sequer que nos favoreça em uma possível troca de palavras desnecessárias. Era ficar até o casamento, assim,poderia voltar para casa e organizar minha vida com Jhonatan. Preparar o meu casamento.
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Ayla[ Concluído|SEM REVISÃO]
Novela Juvenil17 anos de pura sabedoria e marra,mas sempre mantendo a pose de "boa menina" que seus avós acreditam que ela seja. Órfã de pai e mãe,Ayla Sintori passou a viver com os avós paternos,tendo que se mudar de cidade deixando tudo para trás,a garota d...