Ayla Sintori
(02:00 da manhã, terça-feira)Deitada sobre o capô daquele carro, observava aquele céu completamente escuro enquanto sentia a brisa fria bater contra meu corpo causando-me arrepios que estava curtindo sentir. Estávamos em um campo abandonado,as árvores cercavam o local dando um ar para aquele lugar digno de filme de terror,uma pequena construção mais a frente estava pinchada com desenhos em uma caligrafia digna de admiração,as marcas do tempo e abandono estavam completamente visíveis,as paredes com leves rachaduras cruzando-se em linhas eram perfeitas,eram semelhantes ao estrago que foi feito em cada molécula de meu corpo,em cada pedacinho do meu ser. Estava em um lugar que descrevia perfeitamente a pessoa que me tornei e que sou. As árvores por trás daquelas cercas,se movimentavam de acordo com o bater da brisa,o barulho harmonioso acalmava minha mente e restaurava aquelas simples cicatrizes que jamais serão esquecidas,as gotas do sereno da madrugada escorriam pela janela da construção,o barulho do fim de noite mexiam com minhas emoções,pois era como se o mundo parasse em um dia,hora e determinada data que não saia de minha mente perturbadora que se encontrava enjaulada a base de chumbo grosso e ferragens reforçadas, somente a chave daquele cadeado poderia lhe libertar, somente uma chave desconhecida acordaria a antiga Ayla e mataria essa farsa que me vi obrigada a suportar. Um pedido e uma promessa,foram essas duas coisas que me fizeram encobrir quem realmente sou e o que posso fazer .
— Muito pensativa! Diria que está organizando seus pensamentos mais profundos,porém não lhe conheço o suficiente para ter certeza dessa tal suposição.
Deitado ao meu lado enquanto admirava a noite prestes a chegar ao fim e um belo dia surgir,Zayn lembra-me de sua presença. Sentando-me sobre aquele capô,olho para o belo moreno tatuado. Seus cabelos estava desarrumados,seus olhos possuíam um brilho intenso que me fez questionar o motivo desse olhar e dessa sensação de paz que ele sentia e que jamais sentirei. Suas bochechas em um tom rosado devido o frio daquela madrugada o deixa com um aspecto inocente,seus lábios rosados deixava-me desejosa com uma vontade enorme de provar de seu gosto. Zayn era minha prova viva de que uma atração poderia nos fazer pensar em coisas sublimes e intensas.
— Já parou para pensar como seria o mundo sem a dor da perda? — deixando minha mente voar alto, questiono desviando o olhar e a atenção do homem ao lado.
— Sem a dor, não saberíamos o quão fortes somos! — diz,somente.
— Quando tinha meus dez para onze anos de idade,meu pai costumava a me dizer uma frase que mexia muito com meu emocional, não de forma ruim,mais de forma que fizesse-me compreender que não os teria para sempre...
Tirando meus tênis que já não eram tão brancos como os comprei,piso naquela grama gélida e úmida devido o sereno. Andando calmamente sobre aquele solo verde e perfeito,permitia o um sorriso emocionado crescer em meus lábios ao lembrar de um dos momentos mais felizes da minha vida.
— Ayla... Você poderá ficar doente com esse frio e os pés molhados.
— “ Sabe minha menina de olhos claros e feição angelical,em um certo tempo,talvez meses ou anos, você se verá sozinha fisicamente, não poderá sentir o abraço da mamãe ou o beijo do papai, não poderá sentir o calor físico de duas pessoas que te amam intensamente e de forma pura e inocente...— aproximando tranquilamente daquela construção como se estivesse em uma corda bamba,pude ouvir Zayn se aproximando — o dia irá clarear,as horas passaram e os minutos faram com que sua mente se pergunte qual o motivo de tamanha solidão e dor. Então,como a menina compreensiva que habita dentro de você,seus olhos encheram de lágrimas que molharam sua face,seu coração baterá como se fosse a última vez e sua mente finalmente entenderá que tudo está nas mãos do destino, tudo que acontece é em pró do nosso desenvolvimento futuro. Somos seres humanos,somos pessoas que possuem uma tarefa a cumprir... Finalmente você entenderá que nossa tarefa foi concluída e que a deixamos para que crie suas asas. Não somos eternos fisicamente, porém mentalmente, seremos lembrados infinitamente.”
Parando-me em frente aquela construção,toco naquela ruptura que se assemelhava ao meu coração. Apoiando minha cabeça sobre um delas, permito que as lágrimas caiam com liberdade e que aqueles tantos soluços presos por dias,escapem por minha garganta que arde devido ao controle emocional que estava tendo naquele momento que me via fraca,frágil perante as situações impostas a mim.
— Sintori! Você está bem? — com um tom de voz transmitindo preocupação, Zayn questiona tocando em meu ombro ainda relutante.
— Não posso quebrar essa promessa Zayn...— virando-me para si,fito seus olhos que me enxergavam de forma única.
— Não posso concordar com sua decisão. Você pode se mostrar forte, mais será questão de tempo para a escuridão te dominar e um desejo angustiante se apossar de seu racional. Assisti essa cena, presenciei esses mesmos momentos com minha irmã...
— Pensei tantas vezes em voltar a ser a Ayla de antes,desejo todos os dias acordar e perceber que a farsa que criei,teve seu fim no momento em que poderia ser marcado em minha história...— confesso apoiando minhas costas naquelas paredes.
— Você esperará o mundo te dar um rasteira, esperará a vida te arrastar para o precipicio e lhe empurrar? Não te conheço e não sei nada sobre você,porém tenho certeza de que há uma Ayla original dentro dessa farsa,a Sintori que fez uma promessa idiota e suicida... Não deixe sua mente lhe arrastar para um abismo ou que lhe faça subir em um parapeito de vinte andares para segundos após,fazer com que você se jogue.
Sentindo seu toque gélido em meu rosto,fecho meus olhos podendo imaginar que Zayn está certo,mas não poderia faltar com àquilo que prometi e que me fez ser quem sou hoje. Embora esse moreno queira apenas um momento íntimo,consegui o enxergar como um bom amigo,uma pessoa que viveu coisas dolorosas mas que lhe serviu como ensinamento. Minha mente estava brincando com meu emocional,a cada lembrança de um passado doloroso,me via em um labirinto no qual exigia uma escolha: um lado seria minha liberdade,mas sabendo que estaria quebrando a última promessa que fiz para meus pais; o outro lado estava as correntes do destino e o abismo que chegaria em breve,uma escuridão que me dominaria por completo e que seria minha prisão eterna.
— Me diz como se quebra uma promessa a duas pessoas mais importantes da sua vida? Como se quebra uma promessa que foi feita sobre os caixões daqueles que mais amei?...— me afastando dos toques de Zayn, sussurro não tendo forças para sustentar a garota forte e empoderada que aparentava ser.
— Reveja sua vida!... Procure momentos nos quais seus pais lhe davam a resposta para essa pergunta. Acredite,os pais não condenam o filho a uma vida de sofrimento que podem os levar a um abismo — Zayn aconselha.
— Eu quero voltar a ser a Ayla de sempre,quero viver com a liberdade que sempre tive,mas não é fácil... Todas as vezes que me vejo nesse papel, meus pais estão lá para dizer que estão decepcionados, que repudiam a pessoa na qual estou me tornando — explico.
Virando-me para aquele parede novamente,com as pontas de meus dedos, toco cada linha de ruptura,cada linha que fazia-me sentir as minhas próprias se abrirem. Meu peito queimava,meus olhos ardiam com as lágrimas aprisionadas,meus lábios tremiam por segurar os diversos soluços,de fato não era a Ayla Sintori.
— Se não decidir quem você deseja ser,a vida escolherá para você e acredite,ela não será piedosa.
Ele estava coberto de razão,porém nada conseguiria me fazer escolher, nada seria forte o bastante para me impor forçando-me a encontrar uma saída para tudo aquilo que me cerca e me aprisiona. Cada possibilidade, cada sugestão de escolha e a cada negativa de minha parte,estarei me submetendo a viver em um poço de insegurança e escuridão,a cada segundo que se passar,será tempo a menos que terei para, felizmente, conhece a liberdade novamente. Sei que minhas escolhas seram dolorosas,porém também sei que arcarei com elas e suas consequências.
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Ayla[ Concluído|SEM REVISÃO]
Genç Kurgu17 anos de pura sabedoria e marra,mas sempre mantendo a pose de "boa menina" que seus avós acreditam que ela seja. Órfã de pai e mãe,Ayla Sintori passou a viver com os avós paternos,tendo que se mudar de cidade deixando tudo para trás,a garota d...