SENTIMENTOS COMPLICADOS

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— Carol... Carol. — Ana chamou sua atenção, passando as mãos diante dos seus olhos.

Carol estava perdida em um turbilhão de pensamentos e emoções, seu coração ainda acelerado pelo beijo inesperado de Daniel.

Ela se sentia confusa, tentando entender o significado daquele momento intenso que compartilharam na estufa.

O que será que aconteceu que o deixou daquele jeito?

O chamado de Ana despertou Carol de seu devaneio, fazendo seu coração apertar com a brusca volta à realidade.

— Mana... Você está ouvindo?

Enquanto Ana chamava sua atenção, as mãos de Carol repousavam inquietas sobre a mesa, como se buscassem uma âncora para sua mente tumultuada.

Preciso ter foco, só estou aqui por causa da minha irmã e saber as respostas sobre meu pai só isso..

— Terra para Carol...—  Cada palavra das amigas era como um eco ensurdecedor em sua cabeça, trazendo à tona um emaranhado de sentimentos que ela tentava desesperadamente suprimir.

— O que foi, Ana? — Carol disfarçou sua distração, tentando afastar seus pensamentos confusos.

Onde está sua cabeça? Tentou recompor-se enquanto as palavras das amigas ressoavam em sua mente. Pare de pensar nele.

— Você não respondeu... — Ana estava curiosa.

— Qual era a pergunta?

— Você parece estar no mundo da lua. — Hana indagou séria. — Por que o Daniel não nos acompanha mais nos jantares? — Hana olhou para ela com seriedade, lançando a pergunta que estava na mente de todas, aumentando a sensação de desconforto dentro de Carol.

Por que resolveram perguntar dele logo agora? Ela se perguntava, sentindo-se como uma peça fora do lugar em meio à pressão das expectativas alheias. Essas garotas acham que temos alguma coisa?

— Terminaram o casinho que vocês tinham? — Alguém zombou rindo.

— Cala a boca Greta. — Ana a defendeu percebendo a inquietação da amiga.

O que está acontecendo comigo? O nó em sua garganta parecia crescer a cada segundo, sufocando qualquer tentativa de resposta coerente. Essas coisas normalmente não me atingem, e eu nem conheço essas pessoas, por que estou me importando com suas palavras?

— É então... — Murmurou alguém.

Alienígena, abdução, Daniel... Spray que me deixou confusa.
Seus pensamentos eram uma confusão de vozes internas, cada uma clamando por atenção, cada uma refletindo uma parte diferente de sua alma ferida.

Preciso controlar meus pensamentos.

Ela queria desesperadamente manter a fachada de indiferença, de despreocupação em relação a Daniel, mas por baixo dessa máscara, seu coração clamava por compreensão, por uma resposta que pudesse dissipar suas dúvidas e angústias.

Daniel não deveria ser uma preocupação minha, tenho tantos problemas, mas... O jeito que ele saiu da estufa me deixou... Atordoada e aflita. Ele foi o único  alienígena que me deixou confortável. E de repente me senti novamente a estacar zero.

Carol sabia que precisava de respostas, mas estava temerosa do que poderia descobrir.

— Por que vocês estão perguntando isso para mim? — Ela perguntou, tentando esconder sua própria frustração. — Ele não é nada meu.

— Será?

Cada palavra daquelas estranhas parecia uma lança, perfurando sua armadura frágil, expondo as camadas de incerteza e insegurança que ela tentava esconder.

— Você está bem? — O tom de curiosidade de Ana e a seriedade no olhar de Hana apenas intensificavam sua sensação de estar sendo pressionada contra a parede.

— Eu...

— Mas você é a que mais conversou com ele.— Comentou outra moça, intrometendo na conversa.

—Então garota... Compartilhe conosco. Cadê ele? — Insistiu outra se aproximando da mesa delas.

A frustração crescia dentro dela, misturada com um medo crescente de que aquelas garotas  pudessem perceber o verdadeiro tumulto de emoções que ela tentava esconder.

— Gente, deixe ela em paz... Ela já disse que não sabe dele.

— Ah! Ana, estamos só curiosas, afinal de contas, até pensávamos que eles tinham algo, de tanto que estavam grudados. — Sabine desafiou a encarando.

— Desde quando você se importa com o que faço? — Carol retrucou  a encarando.

— Eu não me importo... Mas me importo com quem você está fazendo... Todas aqui estamos participando de uma seleção, não é justo você receber atenção indevida. — Sabine mencionou tomando sua bebida.

Que garota idiota.

— Você está  recebendo privilégios?

— Não! Claro que não.

— Difícil acreditar, vocês estão próximos há meses.

Cada olhar, era como uma faca afiada cortando através de suas defesas, deixando-a exposta.

— Então o que aconteceu entre vocês ?

— Onde ele está ?

Que merda essas garotas querem?

Ela queria gritar, pedir para que parassem de pressioná-la, mas ao mesmo tempo, uma parte dela desejava desesperadamente compartilhar suas preocupações e confusões com alguém que pudesse entendê-la.

Ana.

— Eu não sei. — Carol Grunhiu exausta.

Enquanto tentava encontrar as palavras certas para responder, uma sensação de desamparo a envolvia, como se estivesse sendo arrastada para um abismo de incertezas. As perguntas pareciam   adagas perfurando sua  frágil armadura, expondo suas vulnerabilidades mais profundas diante daqueles  estranhas que a julgavam.

— Sei. — Sabine soltou uma risada irônica, enquanto Carol tentava ignorar a sensação de julgamento.

Onde você está Daniel?  Tudo isso é sua culpa.

Cada momento desde o encontro na estufa parecia ter sido preenchido por uma incerteza crescente e uma sensação de vazio que a consumia. Ela se perguntava incessantemente por que ainda se importava tanto com Daniel, mesmo depois de tudo o que havia acontecido.

Seria o olhar triste em seus olhos? Seria a maneira como seu coração parecia saltar toda vez que ele estava por perto? Ou seria apenas a ilusão de uma conexão que nunca existiu de verdade?

— Hoje de manhã ele passou por nós e só nos cumprimentou. E abaixou os olhos timidamente. — Sabine comentou, observando a reação de Carol. — Talvez ele só tenha se cansado de você.

Uma onda de raiva surgia dentro dela, misturada com uma pitada de mágoa.

— Vai cuidar da sua vida.

— Calma, só quero saber porque ele agiu assim.

— O que mais você queria, Sabine? Uma celebração? Ah! Claro que ele estende-se tapetes vermelhos para a gente passar... — Carol debochou, seu tom carregado de sarcasmo. — Acorda, garota, ele é um príncipe, também. Pode não parecer, mas ele tem suas obrigações. — Carol disse tentando acreditar. — Afinal, não somos as únicas nessa nave. As outras também querem atenção.

Ana soltou uma risadinha baixa, enquanto Sabine e Greta trocaram olhares significativos.

Que justificativa mais sem noção.

—  E por que tenho que falar algo para vocês? Se  querem saber dele, que perguntem diretamente a ele. — Concluiu já sem paciência.

— Olha só ela, está mostrando suas garrinhas.— Sabine mencionou com tom irônico.

— Eu só quero que você entenda que eu não tenho nada a ver com ele. — Relatou séria.

— Exatamente. — Ana falou desconfiada. Ela conhecia Carol o suficiente para saber que ela estava mentindo. — Meninas, vamos deixá-la em paz, ok? Afinal, ela está certa, o Daniel só a chamou formalmente porque estava na presença do pai dele.

Carol olhou para Ana agradecida. E sabia que teria que se explicar para Ana mais tarde, mas no momento, tudo o que queria era entender o que estava acontecendo.

Tudo parece estranho para mim, me sinto como se estivesse em uma montanha russa, vendada. Como queria voltar pra casa, ganhar um abraço da Dany e ouvi que tudo isso é um pesadelo.

Carol se sentiu aliviada que aos poucos o assunto foi mudando e as curiosas mexeriqueiras as deixaram em paz.

Meu Deus essas gurias são chatas pra caramba. Carol pensou deixando seu corpo relaxar.

O almoço foi rápido e barulhento, como sempre,  mas aos poucos o silêncio foi ganhando espaço, quando  as candidatas iam deixando o recinto.

  A calmaria pós-almoço deixou Carol sozinha com seus pensamentos tumultuados, sentindo-se como uma peça fora do lugar.

Mesmo com todas as dúvidas e contradições que a assombrava, uma coisa era certa, ela não podia mais fugir de seus próprios sentimentos.

OLHOS NEGROS ( Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora