17. Fault

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{Zayn On}

Esta era uma das muitas noites em que eu desejava que as horas passassem a correr. Para mim, o trabalho nunca foi demais desde que fosse feito com rigor e não com provocações e mulheres a insinuarem-se a um rapaz como eu, o tempo inteiro. A minha cabeça mostra estar numa confusão imensa devido ao som estar nas alturas e ao cheiro a tabaco e a outras toxinas ser demasiado intenso. Por mais que trabalhe aqui há algum tempo, duvido muito que me vá habituar a um ambiente como este relativamente cedo. É verdade que sou um jovem adulto que tem muito para viver, contudo e consoante todas as peripécias que têm acontecido na minha vida atribulada, eu preferia ficar na companhia das minhas irmãs em casa enquanto assistia a algumas séries das quais elas gostavam, mesmo que eu as achasse uma piroseira ou se tivesse a oportunidade de ter mais algum dinheiro comigo, sair de casa e passear por sítios à noite adequados para menores.

- Então miúdo, estás doente ou estás simplesmente sem vontade de trabalhar? – Reconheci imediatamente de quem se tratava esta voz. Serena. Uma das pessoas com quem posso contar aqui no local de trabalho e que, por sinal, já me safou imensas vezes de ir para casa mais cedo do que o previsto. Por sua vez, para além de Aimee, é a única pessoa que sabe pouco do historial dramático que é a minha vida e consequentemente, diz sempre as palavras certas, mesmo que estas sejam rudes por vezes, no exato momento. É talvez, também, das poucas pessoas em termos de trabalho, que considero verdadeiramente minha amiga. De certa forma, é agradável ter alguém tão bom quanto a rapariga dos cabelos ruivos para comentar episódios acontecidos em tempos.

- É a mistura das duas coisas Serena. Posso acrescentar que estou farto que o patrão atrase sempre o ordenado. – Termino de limpar a banca e pouso o pano molhado sob o balcão à nossa frente. Enquanto isso, Serena depressa se colocou sentada à minha frente com os braços cruzados à frente do peito, estando com estes apoiados na pedra. - Estou mesmo apertado de dinheiro.

- Oh rapaz, isso está mesmo mau. – Eu apenas assenti, recebendo um mero sorriso vindo da moça à minha frente. – E da fábrica, ainda não recebeste nada?

- Eu recebo o salário da fábrica nos dias certos, só que sustentar uma casa e a minha família só com esse valor, é impossível. Só a escola das minhas irmãs é um balúrdio e depois ainda há a minha mãe e o dinheiro que tenho de angariar para, possivelmente, ter de pagar uma operação. É lixado. – Desenho um trejeito no meu rosto, ignorando possíveis expressões faciais de pena vindos de Serena. Esses gestos ainda me conseguem magoar mais do que propriamente toda a situação em si.

- Odeio quando tentas fazer-te de forte há minha frente. – Serena expulsa rudemente dos seus lábios tais palavras que, por segundos, me deixaram atordoado. Volto a concentrar-me na mulher que tenho à minha frente, visionando o seu rosto e na forma como a sua expressão de pena mudou para uma mais séria. Eu ter-me-ia rido noutra ocasião se achasse que ela não tinha razão. Por mais que me custe dar o braço a torcer, ela tem toda a razão.

Por vezes sinto-me mal por meter todas as pessoas que me são queridas na minha história e por alastrar o meu sofrimento para elas. Isso acontecera com a minha mãe, isso acontecera com as minhas irmãs, isso acontecera com amigos dos quais pretendi ficar afastado, isso acontecera com a rapariga à minha frente, isso acontecera com os velhotes que moram ao lado da minha humilde casa e que tiveram a bondade de ajudar a minha mãe quando teve o acidente, isso acontecera com Aimee. Aimee é a pessoa que está tão ou mais envolvida que eu no assunto. Há vezes que eu não consigo se quer pensar por mim próprio sem ter uma opinião formada da rapariga. Já houve conversas entre ambos que já floriram sorrisos fracos e falsos, lágrimas – muitas lágrimas -, e compaixão.

Um toque chamara a minha atenção, expulsando quaisquer pensamentos inúteis na minha mente e agradeço por isso. Agradeço por me interromperem sempre na altura certa, porque não me gosto de sentir o fraco. Serena pousara a sua mão sob a minha e acariciou a palma da mesma, fazendo-me sorrir. De certa forma, imaginei o toque de Aimee. Lembrara-me perfeitamente de como fora o nosso último toque tão intenso, que tanta lamechice me fez ficar incomodado. Lembro-me também da gargalhada que soltou quando interrompi o momento, supostamente, intenso com as minhas palavras desnecessárias.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora