Challenge {z.m}

55. Safaa

{Aimee}

São quase nove e quarenta da manhã quando o telemóvel toca desalmadamente na cómoda do meu quarto e me acorda do sono caprichoso que levava desde as dez da noite do dia anterior. Não fiquei aborrecida e muito menos incomodada com a interrupção, uma vez que já não me sentia cansada. Quando encaro o ecrã do telemóvel, torço o nariz por não conhecer o número que me pretende contactar, contudo, clico na tecla verde e apresso-me a levar o aparelho a uma das minhas orelhas.

"- Bom dia. Tenho o prazer de estar a falar com...? – Balbucio.

- Aimee, sou eu! – A voz de quem quer que seja que queira falar comigo sai arrastada. – A Safaa. Eu preciso da tua ajuda.

- Safaa? – Questiono confusa. – Estás sozinha em casa?

- Não. Eu estou na escola. Estou a ligar do telefone de uma amiga. – Diz-me. Consigo ouvir do outro lado da linha a barulheira que se aproxima. Agora sim, notava-se que estava na hora do recreio e que as crianças brincavam alegremente naquele recinto tão antigo. Mesmo assim, não deixo de me sentir incomodada com a chamada da irmã mais nova do meu namorado, é como estar a esconder-lhe algo.

- Precisas de alguma coisa? – Volto a perguntar-lhe.

- Preciso de comprar lanche. Não tenho dinheiro na carteira. – Oiço a sua voz cada vez mais longe. – "Tiffany, eu já te dou". – Responde à menina que eu suponho ser a sua amiga. - Desculpa. Eu preciso de desligar. Ajudas-me?

- Sim. Eu vou despachar-me e levar-te alguma coisa para comeres."

Desligo a chamada e pouso novamente o aparelho em cima da mesa de cabeceira. Confusão paira na minha cabeça, não consigo perceber o porquê de Safaa me ter ligado invés do seu irmão ou até ir em busca da irmã mais velha. Não podia perder-me nos pensamentos, visto que a miúda estava com fome e esperava ansiosamente a minha chegada. Contudo, isto não poderia ficar assim, tinha que ir falar com Zayn para que tal não voltasse a acontecer. Safaa tem apenas oito anos, claramente que não tem capacidade para se desenrascar sozinha.

Levanto-me da cama e deixa-a para fazer mais tarde, o objetivo era despachar-me num espaço de tempo curtíssimo. Do armário tirei umas leggins largas e uma camisola de lã bege, onde as encachei perfeitamente no meu corpo e terminei com umas botas de cano baixo castanhas. Quando chegasse a casa logo trataria de arranjar-me convenientemente e, principalmente, tomar um banho relaxante. Fui apenas à casa de banho lavar o rosto, os dentes e pentear-me para que o meu aspeto não fosse o tão chamado mau acordar.

Seguro as chaves de casa, telemóvel e carteira numa mala de ombros e, desta maneira, saio de casa. Está bastante frio na rua, apesar do sol rebentar pelos céus. A Primavera não tarda a chegar, mas mesmo assim torna-se insuportável estar na ausência do conforto da nossa casa. Decidi dar cordões aos pés e lançar-me numa caminhada intencionada até ao estabelecimento de ensino onde Safaa me espera, nem quero imaginar o quão atrasada irá chegar à aula ou até mesmo o quão chateado vai ficar Zayn por isto estar a acontecer.

"Vou ter contigo perto das onze. Precisamos de falar. Podes ir ter comigo ao café? Beijos."

Demorei aproximadamente doze minutos até chegar ao silêncio da escola. Tal indicava-me que as aulas já haviam começado e que Safaa preferiu ter ficado à minha espera junto de uma senhora no portão. Essa senhora era baixa e rechonchuda, porém, sorridente e com uma aura genuína. Conheci-a na última vez que vim a esta escola acompanhada por Zayn. Aproximei-me de ambas e cumprimentei a minha pequena cunhada com dois beijos no rosto.

- Finalmente chegou. – A mesma senhora diz-me. – A menina disse-me que era a única que podia ser contactada.

- Sim. Os familiares diretos não estão disponíveis. – Digo, alinhando na mentira que Safaa construiu à sua volta. Mais tarde iria dizer-lhe que não é a mentir que se consegue fugir aos problemas. – Pode fazer-me um favor? Se, eventualmente, Whaliyha questionar pela irmã, diga-lhe que ela está comigo. – Matilda assente, deixando-me expulsar um sorriso nos lábios. - Vamos?