42. Tribunal.

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Petrifiquei assim que ouvi as palavras daquele mendigo considerado meu pai. Desde quando é que ele sabe o nome da minha namorada e está no direito de lhe pedir seja o que foi? Estou chateado com a possibilidade de eles já terem comunicado e mais chateado ainda, por Aimee me ter passado a perna mais uma vez.

- Não quero falar contigo e estou com pressa. Com licença. – Deixei a mão de Aimee. Quem precisava de ter uma conversa era eu e ela. Séria, por sinal.

Aimee apenas assentiu quando olhei para ela. Voltámos para aquele que seria o nosso destino antes de sermos interrompidos sempre pela mesma pessoa, de forma inoportuna. Bati com a porta após tê-la deixado entrar. A minha mãe ainda barafustou com o barulho que havia feito, mas apenas ignorei e prossegui até ao meu quarto. Aimee continuou atrás de mim, sempre silenciosa.

- Como é que ele te conhece? – Questionei, obviamente chateado. Não estava preparado para ouvir qualquer resposta que viesse da sua boca, contudo, tinha a curiosidade que me matava dolorosamente.

- Ele vê-me contigo, Zayn. Diariamente. – Barafustou. – É claro que ele sabe que eu sou tua namorada.

- E o teu nome? Eu nunca lho disse e ele não é de todo um bruxo. Eu pedi-te imensas vezes para não te relacionares com ele, porque é que não respeitas a minha decisão? Quero esquecer que aquele homem alguma vez existiu na minha vida. – Berro.

- Não grites comigo, Zayn! – Suspirou. – Se queres falar acerca disto, mais uma vez, fala comigo civilizadamente como adultos que somos. E já te disse, em meio de conversas, poderá ter sabido o meu nome. Pensei que a nossa relação já tivesse uma confiança estabelecida. – Também eu suspirei, ela é boa a manipular-me.

- E tem, mas tenho medo que tu caias como eu caí. – Admito. – Por favor, não te relaciones mais com o meu pai. Ele é perito em magoar pessoas. Fá-las gostar dele e depois sai quando menos esperamos. Não quero que te desiludas.

- Não te preocupes comigo, eu sou crescidinha. – Sorriu. – Podemos esquecer este assunto? Sempre que discutimos é sobre o teu pai. Se queres discutir comigo, inventa outro assunto. – Trincou o lábio na brincadeira.

- Desisto de ter uma conversa séria contigo. – Dei de ombros.

***

Olho-me ao espelho uma última vez antes de sair do meu quarto e encarar a minha família na sala. Suspirei fundo. A minha mãe tinha presente no seu corpo um vestido branco, florido em tons de castanhos e um casaco de malha da mesma cor que as estimadas flores. Calçava uns sapatos a imitar pele pretos. Tinha-se caprichado, talvez para dar uma melhor aparência. Também eu apliquei essa jogada, comigo tinha-se passado algo parecido. Decidi usar o único fato que tinha guardado no roupeiro. Era todo preto, tanto as calças como o blazer e até mesmo a gravata e uma camisa branca enrugada. Sentia-me apertado, não estava habituado a usar este tipo de roupas.

- Estás muito bonito, filho. – Sorriu a minha mãe. Também ela estava linda, ainda mais bonita do que nos outros dias. – Já não vestias esse fato desde o casamento da tua tia, quando ela ainda não tinha mudado de cidade. – Deu de ombros.

- Não vamos falar de pessoas que não merecem a nossa atenção. – Sorri. – Estás muito bonita, mãe. – Beijei a sua testa. – Vamos tomar o pequeno almoço? Fora? Precisamos de energias positivas para daqui a pouco.

- Já não como fora há muito tempo. – Gargalhou. – Vamos lá, vai correr tudo bem. Hoje as nossas meninas vão ficar connosco, dormir connosco e fazer barulho à mesa como das outras vezes. É hoje que a nossa casa vai deixar de ser o silêncio infernal.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora