48. News.

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Hoje era o dia em que iria receber as minhas análises assim como os resultados das mesmas. Ansiava pela resposta há vários dias, visto que não andei na melhor forma e sentia-me constantemente mal. George Hamilton, o meu médico de família, diz que pode ser devido ao meu sistema nervoso, uma vez que nos últimos meses tenho vivido emoções muito fortes num curto espaço de tempo. Não deixa de ter razão, contudo, sinto que há mais alguma coisa no meu caminho. Tenho medo que seja algo grave, talvez uma anemia, diabetes ou algo do género, o que me assusta profundamente.

Entro dentro do centro de saúde e dou entrada da minha presença a uma senhora com cabelo loiro, a rececionista, que anotou e disse-me que podia sentar-me até que fosse a minha vez. Assim o fiz. Sentei-me a um cantinho da sala, pegando no meu mais recente livro comprado, O Beijo das Sombras, que me tem cativado à leitura. Normalmente não perco muito do meu tempo a fazê-lo, todavia, tem sido o meu passatempo favorito desde que falto ao trabalho por não me sentir minimamente bem comigo mesma. Pensei ser, também, nos piores dos casos, o início de uma depressão. Depois olho à minha volta e vejo que estou feliz com tudo aquilo que tenho. Há muito mais que queria ter, é verdade, mas precisamos de amar aquilo que temos para mais tarde, conquistarmos aquilo que tanto queríamos amar.

Já eram quase onze da manhã e ainda esperava impaciente na minha cadeira. Já tinha lido à vontade vinte páginas, o que me deixava constrangida. Poderia ter marcado a consulta num dia em que os velhotes não vinham cá medir tensões, buscar medicação para aviar ou simplesmente para meter a conversa em dia. Não os julgo, quando chegamos a uma certa idade, sentimos falta de carinho e esse carinho pode ser substituído por palavras sábias de quem lhes dá mais atenção. Espero um dia ter essa sorte ou simplesmente não me abandonarem como a tantos acontece.

Passados dez minutos, nem tanto, chamaram o meu nome pela coluna que estava exposta no canto da sala, mesmo em cima de onde estava sentada, o que me fez ficar ainda mais nervosa. Conhecia aquela voz perfeitamente. E ele sabia perfeitamente a paciente que tinha, só vinha às consultas de rotina quando se sentia mal e as coisas não estavam no seu perfeito lugar. Entrei na sala número dois, aquela que me fora transmitida, e logo dei de caras com o senhor Hamilton, na casa dos cinquentas. Cabelo grisalho, barba desajeitada e ainda por fazer, os seus olhos característicos tão verdes como os meus e a sua roupa descontraída por baixo de uma bata branca. Ainda não tinha mudado nada passados ano e meio, provavelmente. Não punha cá os pés desde que tive a primeira crise de sinusite.

- Bom dia Sr. Hamilton. – Cumprimentei o meu velho conhecido com um aperto de mão leve.

- Bom dia Aimee, deixe-me adivinhar. Algo se passa de errado consigo para ter a honra da sua companhia. – Soltou uma gargalhada. Encolhi os ombros aborrecida e juntei-me ao seu riso, sabendo que era verdade o que dizia. – Diga-me, o que se está a passar consigo?

- Olhe, deixe-me que lhe diga, eu sinto-me realmente um farrapo. Sinto fortes dores de cabeça constantemente, até fui a um oftalmologista na ideia de que tinha a vista cansada e precisava de uns óculos, mas nada disso, disseram-me que nessa condição estava tudo dentro dos possíveis. Sinto náuseas constantes e tonturas. Para além do mais, não aguento comida no estômago há cerca de dois dias. Não sei o que se está a passar. A verdade é que sinto fome e não consigo comer somente porque passados segundos estou de joelhos em frente à sanita. – Reviro os olhos.

Hamilton apontava cada queixa na minha ficha de inscrição. A sua letra era perfeitamente desenhada apesar de escrever grande parte das vezes com abreviaturas para facilitar e aproveitar melhor o tempo da consulta.

- Fez análises recentemente? – Questiona-me. Assenti.

- Fiz. Fui buscá-las ontem à tarde. – Rebusquei na minha mala e tirei o grande envelope branco que ocupava grande parte da mesma e entreguei ao médico.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora