2. Work

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{Aimee On}

O despertador tocava, como em todos os dias, às sete horas da manhã. Logo o meu corpo se ergueu apenas num movimento rápido, levando de imediato as minhas mãos contra os meus olhos. Estou com preguiça, ainda mais que nos outros dias. Do que vale estar acordada até às tantas a ver um filme engraçado, quando depois mal me aguento em pé no dia seguinte? Tudo perde a graça. Assim que passou a meia hora de tolerância, saí do meu conforto. Sinto as minhas pernas demasiado fracas e reparo nisso quando ambas raspam uma na outra. Deixo um suspiro escapar pelos meus lábios. Se não fosse hoje um dia útil da semana, provavelmente ficaria o dia completo na cama.

Quando chego à casa de banho, o frio trespassa o meu corpo denunciado a falta de aquecimento central nesta divisão. Averiguando a situação desta forma, podia simplesmente pedir ao inquilino da frente para me puder arranjar o aparelho de alguma forma. Ligo a água temperada e espero que esta aqueça o suficiente para que possa atingir o meu corpo, enquanto isso, fui despindo peça a peça até ficar como havia vindo ao mundo. Tive a oportunidade de me observar ao pequeno espelho antes de entrar dentro da cabine. Nada de especial, apenas a mesma rapariga de cabelos pretos e olhos verdes, com umas novas gordurinhas e uma expressão cansada, como sempre. Nada que me possa prejudicar no futuro.

Logo, após terminar, embrulhei-me numa toalha simples cor de laranja e enxuguei o meu corpo até este estar formulado para que o possa preencher. E assim o fiz. Caminhei até a um espaço cujas paredes estavam pinceladas de um branco meio gasto e com alguns quadros de família e bandas preferidas, relativamente grande para uma pessoa só. Com outra toalha a enxugar os meus cabelos, abri as duas portas do meu armário. Passei um cabide e o outfit não era o ideal para hoje. Outro e mais outro, e a sorte parecia não estar no meu lado hoje. Para acumular, sinto-me um pouco em baixo. Preciso realmente de um dinheiro extra. Desde que tomei a grande decisão de sair de casa dos meus pais aos meus vinte anos, que tenho começado a ultrapassar algumas dificuldades financeiras. Isto fez-me, de certa forma, crescer. Crescer no modo que aprendi a controlar moderadamente o meu salário e as minhas prioridades. Apesar de sentir-me sozinha por vezes, ter o meu pequeno lar e a minha total liberdade compensa quaisquer momentos de solidão.

Acabando os meus pensamentos em grande, peguei numas leggins pretas lisas e em uma camisola branca com uns detalhes coloridos que davam uma certa graça à peça. Calcei também umas botas de cano alto castanhas escuras para tentar, de alguma forma, combinar com os bonequinhos da camisola. Nada de muito avantajado, o que me faz sentir simples possível e sobretudo, ótima. Retiro a toalha da cabeça e penso duas ou até mais vezes se hei-de deixar o meu cabelo secar ao natural ou pegar rapidamente num secador e prevenir uma mera constipação assim que sair para a rua. Apto pelo perigo e deixo que o meu cabelo caía pelos meus ombros, revelando a formulação de alguns canudos que já são habituais enquanto a secagem precoce inicia. Não me esquecendo de um utensílio fundamental, seguro em dois elásticos de diferentes cores e rodo-os no meu pulso. Mais tarde, provavelmente seriam úteis quando me fartasse do modo como a minha franja comprida caía para o meu rosto.

Desviei-me desta extensão e segurei a minha mala preta do dia-a-dia, tirando de lá o meu telemóvel. Noto que tenho uma mensagem da rapariga que considero a minha companhia mais próxima, alcunhada de Mermaid. Todavia não me parece nada de importante, se não presumivelmente teria me ligado. Saiu de casa assim que meti a minha pêra bem madura na boca e a trinquei. Trabalho, aqui vamos nós. Percorri as ruas que todas as manhãs me estavam destinadas e parei somente em um mísero café para beber o meu confortável e prazeroso galão bem quentinho.

O dia não era dos mais quentes, e o facto, é que neste país raro é o dia em que o Sol nos presenteia com o seu sorriso brilhante. Crianças passavam, felizes, com os seus pais ou irmãos pelo alcatrão sujo do bairro enquanto caminhavam sorrateiramente até à entrada da escola que ficava a poucos metros do café. Daí a ter a grande preciosidade de ver esta alegria e agitação pelas janelas grandes de vidro. Sorrio e penso no quão grande deve estar o meu pequeno irmãozinho. A verdade é que, por mais novo que Bryan seja e também irritante por vezes, as saudades apertam. Tanto deles como do resto da minha família.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora