40. Mad

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Não queria que o meu dia tivesse terminado da forma mais sombria. As lágrimas que transbordavam o rosto da minha mãe, fazia com que o meu coração se contorcesse da maneira mais delicada e lenta, de forma a sufocar cada vez mais a minha dor. Ela não merecia. Eu não merecia. A nossa família não merecia uma crueldade como estas. Peter Johnson, o polícia que tratou do depoimento da minha mãe, arranca o seu corpo da cadeira e avança até à porta, sem um último Adeus. É como se todas as palavras que a minha tivera dito, saíssem pelo ouvido contrário ao que entrou, a uma velocidade exorbitante. Cheguei a pensar que as palavras carinhosas com que uma mãe fala de um filho, fizesse chegar algum tipo de sentimento positivo às autoridades, mas nem assim. Patrícia estava completamente despedaçada e dói. Dói muito.

Depois dos, aproximadamente, trinta e cinco minutos de palavra puxa palavra, abandonámos o local, sem qualquer tipo de confianças. Nervoso como estava, era capaz de dizer algo que eu não devia. O silêncio é o meu melhor amigo em casos como estes. Foi complicado ajudar a minha mãe a descer as escadas, o segurança que, por incrível que pareça, era pertencente à polícia, foi quem me ajudara numa tarefa árdua como esta. Agradeci-lhe, mas sem sorrisos. Sem confianças. Os olhos encarnados da minha mãe fixaram-me pela primeira vez depois de todo o reboliço. Um "desculpa" foi expulso dos seus lábios, deixando-me sem palavras, sem uma única reação. Sentia o meu peito arder.

Sentia-me triste pelos polícias me terem culpabilizado pela ocasião e a minha mãe sabia disso. Sabia que, de certa forma, a culpa era minha, mas não pretendia julgar-me de forma alguma. Tentou jogar as suas cartas finais para a mesa, contudo, a sua tentativa foi falhada como todas as outras. Nem tudo parecia mal, já que tínhamos por lá passado, deram-nos a carta do tribunal em mãos, o que deixou-nos ainda mais apreensivos. Esperava que não fosse tão rápido, sendo assim, é altura de contactar rapidamente o advogado para que nos pudesse revelar o que fazer ou o que dizer.

O dia 10 de Janeiro iria ser marcado pelo dia em que teria as minhas irmãs para sempre ou o dia em que as perdia para sempre. Não sei se o "para sempre" não serão palavras demasiado fortes, só não consigo arranjar uma maneira de não as ter por largos anos. Whaliyha está muito mais perto da maioridade do que Safaa. A minha pequenina jamais poderia ficar sozinha.

Chegámos a casa, o silêncio ainda permanecia. Queria falar com a minha mãe, todavia a coragem faltava. As suas mãos sobre a cadeira iniciaram uma pequena viagem até ao sofá, na qual tive o dever da ajudar a sentar-se no mesmo sem que se magoasse. Hoje não teria nenhuma consulta de fisioterapia, o que indicava que não seria um dia que se pudesse soltar ou distrair-se por um bocado. Agradeceu-me e beijou a minha bochecha docemente. Talvez para não me fazer sentir tão mal.

- Eu só queria dizer-te que peço imensas desculpas. Eu sei que sou o culpado de tudo isto ter acontecido e não há dor maior que essa, te garanto. Eu ser responsável pelas minhas irmãs estarem longe... Como é que isso pode acontecer? Eu adoro aquelas miúdas! – Comento. A minha mãe sorri ligeiramente.

- Há coisas que não conseguimos prever, filho. Erraste, sim erraste, mas juntos vamos conseguir ultrapassar isto, eu prometo. – Sorriu. – Eu não estou triste contigo, estou triste por não ter conseguido dar um passo em frente nesta que é a nossa luta.

- Não perdi a esperança. – Sorri. – O meu aniversário ainda vai ser passado com elas, cá em casa, unidos.

- Eu sei que vai. – Sorriu-me. O meu coração voltou a bloquear com a sua alegria e força de vontade momentânea. Acredito vivamente que nem tudo está perdido. O advogado que a família de Aimee me arranjou parece ser competente, o que não significa nada quando eu deixei duas menores em casa sozinhas. Talvez ele consiga remediar a situação, uma vez que agora está sempre alguém em casa, nem que seja o paspalho do meu pai no meio da rua.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora