Challenge {z.m}

34. Disgrace

O tempo de espera foi curto desde que o Doutor Thompson saiu junto da minha presença até Aimee voltar a aparecer, silenciosa e com mistério inserido nos seus lábios. A sua expressão era neutra, pensativa não me permitindo perceber se a visita à minha mãe teria corrido da melhor maneira. Espero não ter apressado demasiado as coisas ou que ela pense coisas erradas a meu respeito. Ainda na ausência de vozes e apenas escutando as palavras recheadas de medo ou de alegria de pessoas que tal como eu, há algumas horas atrás, esperavam notícias de familiares ou amigos ou até mesmo dos enfermeiros atarefados que percorriam os corredores exaustivamente, que saímos do centro hospital e caminhámos até à paragem de autocarros mais próxima, visto que iria deixar Aimee primeiro a casa.

O autocarro 304, com destino a Salts Mills demorou cerca de dez minutos a chegar, apinhado de gente por ser um dia útil e numa hora de ponta. Foi nesse contexto e já sentados que Aimee pronunciou a sua primeira palavra após a visita.

- Gostei imenso que me tivesses dado a oportunidade de conhecer a grande vencedora que é a tua mãe. Estou a ser sincera quando digo que fiquei extremamente feliz com a tua atitude, eu não esperava ser recebida tão bem, afinal não tinha tido qualquer tipo de contacto com a senhora. Recebeu-me bem, puxou imenso assunto coisa que eu nunca pensei ser possível acontecer. Os minutos que estive com ela fizeram-me refletir sobre imensa coisa, sabias? – Aimee sorriu. – Eu agora percebo quando falas tão ternamente da tua mãe, como ela se tratasse da única mulher presente aqui.

- Não é por ser minha mãe, mas posso dizer que ela é mesmo uma pessoa extraordinária. – Fico também feliz que Aimee tenha gostado tanto da minha mãe como eu gosto dela. – Do que falaram? Se é que se possa saber, na verdade.

- Múltiplos assuntos, Zayn. Maioritariamente sobre ti e sobre as tuas irmãs. Não gostei de ter omitido o facto de não estares a tomar conta delas mas acho que não deveria ser meu cargo avisar do que se sucedeu inconscientemente. Foi fácil desviar o assunto, contudo o pensamento fica.

- Eu sei. Mais que isso... Estou preocupado com o que vai acontecer a seguir. O Doutor Thompson disse-me que terei de arranjar formas de explicar o que foi o inferno da minha vida até agora sem que lhe possa magoar mais ou que faça agravar o seu estado de saúde precário. – O meu tom resumiu-se a tristeza, principalmente quando ainda tenho a árdua tarefa de dizer que andar, não vai ser uma atividade inconsciente que a minha mãe poderá fazer nos próximos tempos. Pela conversa, Aimee ainda não se apercebeu do sucedido.

- Sabes que não posso ajudar-te nesse âmbito. Só tu conheces a tua mãe e sabes como acalmá-la, eventualmente. – Detesto quando a rapariga morena tem toda a razão. As suas palavras em vez de acolhedoras, fazem-me repensar em diferentes palavras de abordar os assuntos. – Não sabia que tinhas vindo cá no Natal... Eu sabia que me estavas a esconder algo.

- Desculpa. É complicado para mim. – Engulo em seco pela sua mais recente descoberta.

É claro que a minha mãe não iria compactuar com a minha mentira, uma vez que nem ela sabia de como ocorrera o meu Natal e, mais uma vez, não sabia que estava afastado tanto de Safaa como de Whaliyha, algo que a pouco e pouco vou recuperando. Certamente que seduzir a assistente social não seria uma boa ideia, apesar da senhora apresentar boas qualidades físicas que um homem , que sou, também gosta de apreciar. Contudo, o desprezo que sinto pela mulher loira faz-me perder quaisquer pensamentos mais positivos acerca dela. Quem me tira o mais importante da minha vida, jamais será bem recebido.

- Quantas mais vezes tenho de te dizer que estou aqui para ti, independentemente do que aconteça? Eu tenho o direito de saber o que se passa na tua vida, a partir do momento em que me deixaste entrar nela. Não é necessário passares por todo o sofrimento sozinho. Eu estou aqui para ti, da mesma maneira que terás as tuas irmãs ou alguém da tua família.