54. Church

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Enrolo o braço à volta da cintura de Aimee e dou-lhe um simples beijo na bochecha para que começasse a despertar. Também eu tinha acabado de acordar após colmatar a dor de cabeça que havia criado com a discussão com Safaa. Toda a conversa que tivemos anteriormente mexeu demasiado com o meu estado psicológico. Puxei momentos anteriormente vividos com o meu pai felizes enquanto éramos uma família para, inevitavelmente, sentir a dor de uma criança após saber que o pai o abandonou sem uma única explicação. Essa criança era eu. Aimee mexeu-se e abriu lentamente os olhos, virada para mim. No seu rosto refletiu-se preocupação imediata.

- Desculpa, não era suposto ter adormecido. – Encarou o seu relógio de pulso e mordeu o lábio, nervosa. Sorri com o seu gesto. – Já conversaste com a Safaa?

- Já. A minha mãe vai passar-se quando souber o que aconteceu. – Transmito. – A Safaa recusa-se a falar connosco. Acusou-nos de mentir descaradamente e com razão. – Suspirei. – Não vai ser assim tão fácil remover o seu pensamento.

Aimee suspira e senta-se na cama com as pernas cruzadas ao chinês. Os seus braços dirigiram-se ao meu corpo e apertaram-me contra o seu peito. Os seus lábios beijaram suavemente a pele do meu pescoço, deixando-me arrepiado. Deixou-se ficar nesta posição durante uns bons dois minutos, com a necessidade de me transmitir mensagens de força e coragem para prosseguir neste caminho sem fim. Neste momento, Aimee era sem dúvida a minha âncora. Somente ela era capaz de me deixar mais calmo, esquecer que há cerca de umas horas estive para soquear o idiota que insiste em assombrar a minha família.

- Estou a sentir muitas energias negativas, amor. – Admitiu. – Não gosto nada de te ver assim em baixo. A Safaa estava a precisar de um abre olhos como este, saber que a vida não é um mar de rosas e que, a pessoa por quem ela esperava, não é alguém favorável para a sua vida. Quando a tua mãe chegar, pode ser que arranje uma forma de conversar com a filha, a revolta um dia vai passar. Ela não pode culpar-vos por quererem o seu bem.

- Essa é a questão. Ela não nos perdoa por isso mesmo, porque lhe mentimos e não contámos logo a verdade como fiz com a Whaliyha. Também é diferente, ela conheceu o pai enquanto a Safaa não. Aquele homem só a reconheceu porque andava connosco, se ela passasse por ele, nem imaginava que era a sua filha, por amor de Deus... - Resmungo.

- Eu não vou mentir-te. Um dia em conversa com a tua irmã, ela perguntou-me o porquê de tu não gostares que ela falasse com o vosso pai e aí tive de lhe explicar que eram apenas preocupações de irmão mais velho e que no fundo, o senhor podia até ser simpático, mas nunca fiando. – Fechei os olhos enquanto ouvia as suas palavras. Já desisti de dissuadir a ideia de Aimee de que o meu pai é uma pessoa altamente e que devia dar-lhe uma oportunidade, só me custa que ela tenha passado essa mesma ideia para a minha irmã mais nova. – Desculpa. Eu não devia tê-lo feito.

- Tudo bem. Já foi há algum tempo, mas por favor, neste assunto não te metas mais. – Peço. Aimee solta-se do nosso aperto e olha-me nos olhos. – A tua conversa com a minha irmã é um dos meus menores problemas. Está ultrapassado.

- Sim, eu prometo que não vou meter-me neste assunto de família. – Sorriu. – Contudo, acho que estou no direito de pedir que tenhas calma e que mesmo a falar com a tua mãe, expliques tudo detalhadamente. As mães encontram sempre uma forma de tentar amenizar as situações.

- Desculpa por isto. Devíamos estar a aproveitar para passear lá fora e namorar, no entanto, estamos aqui enfiados no meu quarto a conversar sobre os meus constantes dilemas de vida. Eu sei que não deve ser fácil estar no teu lugar. É por isso que gosto de ti, és capaz de aceitar-me como sou. – Sorri.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora