50. Don't mess with me.

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Encaro com um sorriso as pessoas que contribuem para a boa composição da mesa. A minha mãe decidiu fazer o jantar para comemorar a boa nova, algo semelhante a uma petiscada em palácio real, um quanto mais pobre e familiar. Não neguei, pelo contrário, apesar de estar ainda constrangido com a ideia de que serei pai brevemente, ofereci-lhe a minha ajuda. Ela aceitou e beijou a minha bochecha delicadamente. Fui adiantando alguns patés e a tábua da pouca variedade de queijos que havia no frigorífico.

- Bem, não sei a que se deve tanta festividade, mas estou a gostar imenso do que vejo. – Whaliyha exclama assim que chega da escola, acompanhada pela sua irmã. Aproximou-se de mim e beijou a minha bochecha, tal como à minha namorada e mãe.

- Contamos tudo ao jantar. – Patrícia adiantou e piscou-me o olho sorrateiramente. Retribui-lhe um sorriso ainda que o nervosismo o tenha acompanhado sem o meu consentimento. – Por agora podem pousar as vossas tralhas no quarto e ajudar-nos.

Safaa não disse uma única palavra, nem nos cumprimentou. Fiquei com a sensação de que a minha irmã mais nova não estava nos seus melhores dias e sinto muito que algo ou alguém lhe esteja a afetar de uma maneira tão forte, de modo a que sua personalidade tão forte e característica seja alterada num ápice. Encarei a mais recente grávida da família e limitei-me a ficar no mesmo lugar, não queria que nenhuma delas suspeitasse da notícia. Não sabia muito bem como abordar o assunto com elas, contudo, acho que me irão apoiar e até ficar super entusiasmadas com a ideia de que terão um bebé para ajudar a cuidar e, principalmente, serem tias.

- Boa. Meter mais curiosidade, portanto... - Palavreou. Aimee soltou uma gargalhada delicada com a tentativa de persuasão de Whaliyha. Já havia notado que a cunhada sabia de algo e que não estava apta para entrar no mesmo jogo que ela. Lançou a mala para cima do sofá e continuou o mesmo caminho: para a cozinha.

Voltei a olhar para a minha pequenina. Os seus olhos estavam brilhantes demais, o que me entristecia. Não consigo ignorar a tristeza que passa no olhar da minha irmã. Juntei os meus lábios perto da orelha de Aimee e exclamei um pequeno aviso de que voltaria rápido. Demos um pequeno beijo e rapidamente me dirigi a Safaa. Segurei-lhe a mala carregadíssima de livros e restantes materiais escolares e prosseguimos até ao seu quarto. Primeiramente pensei que se havia passado aqui uma rave ou algo do género, depois lembrei-me que se tratam de duas raparigas nada organizadas, daí a razão do quarto estar uma bagunça enorme que, mais tarde, iria custar-lhes tanto a limpar.

- Mana, estás triste? – Sento-me na ponta da sua cama e olho para si fixamente. Quero que ela seja completamente honesta comigo e só fazendo pressão consigo o que quero dela. Calquei a mão sob o édredon e esperei que Safaa se sentasse ao meu lado.

- Dói muito dizer isto, eu sei que tu não queres que eu fale com ele. – Balbucia. – O senhor que está à porta chamou pelo nome, não sei como é que ele o descobriu...

- Esse senhor fez-te mal? – Corto o seu discurso antes que ouvisse algo que não era do meu agrado. – Diz-me a verdade! – Ordeno. Sinto-me nervoso, muito furioso mesmo por esta situação. Esperava que a sua tristeza não passasse de mais uma briga entre amigas por causa dos pseudo namorados de infância ou mexericos.

- Não. – Abanou a cabeça freneticamente. – Pelo contrário. Ele só queria falar comigo, foi muito simpático. A Whaliyha agarrou no meu braço, magoou-me! Não vejo mal em falar com um senhor que não quer o meu mal.

- Ouve meu amor, há certas e determinadas pessoas que nos desejam o nosso mal, tratando-nos bem e fazendo-nos acreditar neles, inocentes. Nós não sabemos de quem ele se trata e pode ser perigoso. – Sorri. – Não sabes se terá algum objeto escondido para te magoar, se te levará para um sítio tão longe e nunca mais nos ver. – Arrasto.

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