3. Family conflicts

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{Zayn On}

Uma mulher pálida deitada sobre a cama de um hospital era a imagem da minha mãe que eu nunca pensei em assistir. O cheiro fulminava pelo ar, deixando um aspeto ao quarto ainda pior do que eu idealizava. Felizmente nunca tive necessidade de entrar num equipamento destes até agora. Sinto muito que isto esteja a acontecer, não só por mim mas também pelo sofrimento que a minha mãe está a ter.

- Olá mãe. – Digo mal entro dentro da sala com um cheiro horrível a desinfetante. Recebo o sinal da minha mãe a apertar-me a mão e um dos seus olhos revirar. Ela está a querer abrir os olhos, ignorando a dor que isso possa causar. - Não precisas, não te esforces. – Deslizo o meu polegar sob a pele das suas mãos. Estão ambas secas e não consigo se quer disfarçar um sorriso. Eu não estou bem. Eu não estou mesmo nada bem.

- Co-com… – Os seus lábios entreabrem-se e murmuram coisas impercetíveis. – Estás?

- Estamos todos bem. Quer dizer, mais ou menos. – Admito, os seus olhos estão um pouco mais despertos desde que cheguei aqui. – A Safaa queria muito vir mas nenhuma delas pode, é para maiores de dezoito anos.

- Eu… - A minha mãe começa e vejo-a a cansar-se demasiado. Talvez eu esteja aqui a pressioná-la demais e não quero isso de todo. Seguro a sua mão bem mais firme que anteriormente, aproveitando cada minuto restante aqui. – Vou voltar.

- Sim. Tu vais mãe. Eu gosto muito de ti e estamos todos cheios de saudades tuas. – Sorrio e beijo a sua mão enquanto esta está apertada na minha. Vejo um sorriso aparecer nos seus lábios secos – e como ele é um dos mais bonitos - quando o faço. Eu não irei contar há minha mãe que quase me mato a trabalhar para conseguir tomar conta das minhas duas irmãs e sustentar os seus pedidos e desejos, e ainda para pagar alguns dos medicamentos para a resolução do seu problema de saúde.

- Eu agora tenho de ir mas amanhã estarei aqui de novo contigo, está bem? – Vejo-a a assentir calmamente. – Descansa para ficares melhor depressa. – Sorrio e levanto-me da cadeira, beijando a sua testa. Custa-me ir embora e deixá-la aqui sozinha novamente, mas a verdade é que as visitas não podem durar mais que meia hora.

Desvio-me e o contato das nossas mãos perde-se conforme me afasto mais até à saída. A máscara de oxigénio volta a ser colocada pela enfermeira e os seus olhos voltam a ser fechados sorrateiramente. Eu espero mesmo que ela faça o que prometeu, é uma mulher jovem de mais para ter um fim como este e eu – provavelmente – não iria aguentar a dor a triplicar. Não me imagino a cuidar sozinho de duas miúdas pré adolescentes. Acabo por sair do recinto hospitalar e pego na minha bicicleta. Comecei a pedalar até onde se encontrava a minha casa, passando pelas ruas habituais desde há quinze dias para trás. O jardim está demasiado verde e espero que em breve possa trazer cá as minhas irmãs, assim como os outros espaços que qualquer criança gostaria de ir. Falando nelas – as crianças -, estas percorrem o descampado enquanto me movo lentamente pelo bairro. Estas gritam, falam demasiado alto mas ainda assim, divertem-se a brincar às escondidas e as meninas a saltarem à corda. É adorável.

Cheguei a passar num café simples em tons de verdes escuros e castanhos, reparando no bom ambiente que no interior havia. Uma janela grande dava visão de tudo o que lá se passava e eu pude ver o recinto cheio e uma cara que me era conhecida. Estava lá a rapariga com quem esbarrei esta manhã a beber ao que parece um café. E agora que me lembro, eu não fui de todo muito simpático com ela hoje mas não importa, não tenho tenções de o ser com nenhum deles naquele sítio. Continuei o meu caminho em silêncio e passados mais alguns minutos consegui – finalmente – chegar ao sítio pretendido. O senhor e a senhora Rogers – um casal de idosos com uma idade bem avançada, mas ainda assim simpáticos e bastante curiosos - estão sentados sob dois bancos feitos a madeira junto ao seu casebre, a mulher que está a fazer malha olha-me desconfortável e eu apenas consigo dizer-lhes um Olá meio que tristonho ainda que distante. Foram eles que de alguma maneira conseguiram ajudar a minha mãe primeiramente e eu fico-lhes muito grato.

Challenge {z.m}Onde histórias criam vida. Descubra agora