30 - Coração Dividido

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O maior medo que Mitsuki sentiu em toda sua vida, foi sem dúvidas o medo de falhar como mãe. Não aquele medo de não saber como cuidar de um filhote doente, de não saber trocar as fraldas ou se não seria boa em lhe ensinar o caminho certo de se tornar uma boa pessoa, ensinar que ser um alfa não significava tudo. Era aquele medo de ser incapaz de fazer qualquer coisa pelo seu filho. Assim como sua própria mãe havia sido; incapaz de ajudar suas filhas no momento em que elas mais precisaram.

E mesmo que Katsuki já houvesse crescido e se tornado alguém independente, capaz de se cuidar sozinho, aquele medo ainda era algo presente.
Talvez fosse por isso que Mitsuki se sentia como se o seu instinto materno percorresse por suas veias, alimentando seu corpo com a adrenalina de fazer o que julgava ser o correto.  Mitsuki ainda se lembrava como foi ter aquela mesma sensação pela primeira vez, cerca de 8 anos atrás, quando simplesmente invadiu a casa da mãe de Shinsou; se envolvendo em uma briga com troca de tapas com a mesma, descontando as agressões que Shinsou vinha sofrendo durante aquela semana. E Mitsuki teria levado toda aquela situação a justiça, teria pedido pela guarda definitiva de Shinsou e o adotado legalmente, se não fosse por Hayato, tio de Shinsou, que fez ameaças de levar o garoto para o outro lado do país caso ela tentasse alguma coisa.

Babaquice do caralho. Deveria ter lhe acertado uns tapas também.

E assim como 8 anos antes, Mitsuki não ficaria parada de braços cruzados vendo outra injustiça sendo cometida bem abaixo de seu nariz.
Mituski pegou a chave do carro e desceu a escada correndo, seguindo em direção à cozinha, onde encontrou Shinsou, cantarolando alguma coisa enquanto procurava algo para comer antes de ter que sair para ir para a escola.

— Esquece a escola, você vem comigo! — disse, o arrastando para fora da cozinha.

Shinsou estreitou os olhos, olhando-a de cima a baixo, estranhando dois detalhes em seu comportamento. Primeiro que Mitsuki era extremamente rigorosa em relação a escola, ou seja, os meninos só poderiam faltar se estivessem morrendo, o que com certeza não era seu caso; e segundo, que Mitsuki estava vestida com roupas simples — uma calça jeans escura, blusa branca de botões, com as mangas dobradas até os cotovelos e tênis — simples até de mais para alguém que usava salto alto até mesmo para ir a feira aos domingos. Aquilo não significava boa coisa.

— E onde estamos indo?

— Você vai me ajudar com uma coisa. — disse, como se aquilo fosse o bastante.

E Shinsou não teve outra escolha, se não ser segui-la. 

🦊🐺

— Isso é sério? — perguntou Shinsou, um pouco alto de mais devido o choque, encarando a casa a sua frente — O Katsuki sabe disso?

— Ele vai descobrir de um jeito ou de outro. — respondeu Mitsuki, caminhando em direção à porta.

— Por que porra vocês tem que ser tão impulsivos? — resmungou para sí mesmo.

Shinsou começou a ficar nervoso ao parar ao lado de Mitsuki; repassando em sua mente os melhores momentos que vivenciou ao lado de Sero, o que lhe servia como uma distração, como se tivesse assistindo os melhores momentos  de sua vida antes de morrer. Um grande exagero, como certeza, mas não podia deixar de achar o contrário, visto que Mitsuki estava esmurrando com toda sua força, a porta da casa de Kirishima.

— Estou indo! — gritou a mulher do outro lado da porta.

Mitsuki não parou de bater até que a porta fosse aberta, revelando uma mulher um pouco mais baixa que sí, com o cabelo ruivo amarrado em um coque todo bagunçado e ainda usando um vestido para dormir. Ela tinha uma aparência cansada e olheiras abaixo dos olhos rubros.

The Love We Share - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora