The Love We Share - Livro 1

36 - Margaridas, Alisso e Cacau

Dentre de todas as espécies de raposa, os fenecos eram os que possuíam uma característica simplesmente única. E isso não se dava ao fato de que suas longas orelhas eram capazes de armazenar o calor do sol para que pudessem se aquecer durante a noite fria; ou que suas patas são peludas para que possam caminhar tranquilamente em terreno quente. Fenecos eram peculiares pelos seus instintos de sobrevivência, por não precisarem de muito para se alimentar e por viverem em tocas; tocas essas que podiam chegar até seis metros de profundidade. Fosse para proteger seus filhotes ou apenas para se esconder de possíveis ameaças.

E mesmo para um híbrido, aquele instinto de sobrevivência prevalecia. Se esconder era sobreviver. E sendo um híbrido de raposa feneco, Neito bem que desejava poder se esconder na mais profunda toca que fosse capaz de cavar usando suas próprias mãos.

Não que estivesse correndo algum tipo de perigo que colocasse sua vida em risco; a menos que pudesse considerar o presidente do seu clube de artes visuais como uma ameaça eminente, por estar a dias lhe pressionando para entregar o quanto antes, o seu projeto final para ser apresentado naquele último semestre. Projeto esse que seria apresentado em uma espécie de exposição para toda a escola, juntamente dos demais clubes artísticos. E Neito queria se esconder em uma toca, fugir de tais responsabilidades até que tudo aquilo acabasse. Pois assim como todo bom artista em ascensão, Neito não fazia a menor ideia do que poderia fazer.

— Por que não pede para a Kendo posar de novo? — Denki sugeriu, enquanto o acompanhava pelo centro da cidade — Aquele quadro que você fez da última vez ficou muito bom.

Neito ponderou por um momento, fitando o céu claro ao pensar no quadro em questão. Era um quadro simples; Kendo de pé sobre a grama em um campo aberto, com o corpo levemente inclinado para frente, o longo cabelo vermelho caindo em suas costas e usando apenas uma saia longa de renda branca. O braço direito estava erguido a sua frente, com a lateral do braço cobrindo o seio descoberto. A sua frente, como se flutuasse, havia uma raposa vermelha. Era como se Kendo estivesse tentando tocar no animal, como em um primeiro encontro entre o homem e um animal. Um  "Encontro de almas" , assim como havia nomeado a obra. Aquele era um dos melhores trabalhos que já havia feito.

— Não posso usar o mesmo modelo mais de uma vez. — respondeu Neito, suspirando desanimado.  — O quê eu faço? O que eu faço?

— Que tal paisagem? — sugeriu novamente, realmente pensativo sobre o assunto — Você pode fazer um quadro da praia.

E Neito o encarou como a expressão mais enojada que conseguia fazer.

— Tá zoando com a minha cara? — contestou — Eu não passei anos estudando anatomia para pintar uma paisagem!

— Então faz um quadro disso aqui, babacão. — resmungou irritado, mostrando o dedo médio.

— A mamãe iria adorar ver isso. — o respondeu, com um sorriso, sem se incomodar com a ofensa. — Mas como eu sou o seu super irmãozão, não vou contar que você tem sido malvado comigo.

— Que seja. — suspirou, sem forças para discutir, mesmo que odiasse ser tratado como um irmão mais novo, e tudo por causa de quatro minutos de diferença. — Vou indo para a estação, a Kyo já deve está me esperando.

— Espera! — pediu, segurando no braço de Denki antes que ele se afastasse —  Avisou a mamãe que está indo para Osaka com a Jirou? E que está abandonando o seu pobre irmão, deixando que ele fique triste e solitário, jogado as traças em pleno sábado?

— Avisei.. e não começa com o drama, a Jirou te chamou pra ir também, já que vai ser o aniversário de casamento dos avós dela.

— Esqueceu que a tia pianista vai está lá? Aquela mulher me odeia.