43 - Nada importava

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Era necessário apenas um simples movimento, um ato que qualquer ser humano bem capacitado com suas funções motoras, era capaz de realizar.

Ele precisava apenas esticar a sua mão, para então fechar aquela maldita torneira que gotejava incessantemente; formando pequenas ondas, que fazia a água da banheira começar a transbordar pelas laterais e se derramar sobre o chão.

Mas Aoyama simplesmente não se importava.

Assim como também não se importava com o cheiro do cigarro, que ainda paraiva no ar e suprimia o doce aroma dos sais de rosas que geralmente gostava de usava em seus banhos para relaxar. Ou com as cinzas do cigarro, que se quebrou sozinha, devida a ausência de qualquer movimentação no objeto fumante, e caiu sobre a água ao qual já estava fria. E tampouco poderia se importar por estar com o corpo submerso enquanto ainda usava suas roupas e seus caros sapatos italianos.

Tal como Aoyama nem mesmo se importava com o fato de que aquela água fria, estava manchada pelo vermelho do sangue.

Mas como poderia se importar? Quando nem mesmo se lembrava de como havia chegado até ali.

Com o barulho de uma voz gritando, e que vinha do corredor do lado de fora de seu quarto, Aoyama piscou seus olhos algumas vezes, como se estivesse finalmente voltando para a sua realidade; sendo capaz  de escutar qualquer outro som, que não fosse o do gotejar daquela torneira.

Entretanto, Aoyama não emitiu nenhum tipo de reação, nem mesmo se assustou; quando chutaram a porta de seu banheiro com tamanha força, que a desprendeu completamente de suas dobradiças. Aoyama apenas arqueou suavemente suas sobrancelhas, olhando com um pouco de surpresa Tokoyami invadindo o seu banheiro.

E o lobo preto não esperou nem mesmo um segundo a mais para poder recuperar o fôlego, simplesmente jogando no chão o seu revolver que tinha em mãos, e caminhou em passos largos e rápidos até onde seu chefe se encontrava; entrando na banheira e o puxando para sí em um abraço apertado ao que dizia:

— Graças a Deus... você está vivo!

Ao que suspirou, se sentindo um pouco mais aliviado; Tokoyami segurou Aoyama pelos ombros e o afastou de sí, o analisando com mais cuidado e com atenção. Além do rosto pálido, e de ter sido parcialmente lavado, Aoyama ainda tinha alguns respingos de sangue espalhados por sua face, algumas gotas de água se misturava ao sangue e escorria por seu pescoço, formando um rastro que sujava ainda mais a gola de sua camisa branca. E o sangue que manchava a água, possivelmente era o sangue que outra hora estivera por seus braços e mãos.

E não, Tokoyami não ficou nem um pouco tranquilo por saber que aquele sangue não pertencia a Aoayma, e que apesar de conhecer aquele padrão e saber como todo aquele sangue havia parado ali, ele precisava perguntar:

— Yu.. o quê você fez? — a preocupação na sua voz era evidente.

Mas ao contrário do que se era esperado, Aoyama sorriu pequeno, reagindo pela primeira vez ao olhá-lo nos olhos; levando ambas as mãos em formato de concha para em volta da boca, — e só então, Tokoyami notou as juntas vermelhas e inchadas em ambas as mãos do loiro — e  como se fosse lhe contar um segredo, ele sussurrou.

— Eu matei ele.

Tokoyami não se surpreendeu com aquela confissão, mas sim com o seu comportamento.

Ao longo dos anos em que passaram a estabelecer novas regras e a implantar o tráfico de drogas em determinadas regiões, juntamente com a expansão de territórios para outros países, Aoyama não somente já havia visto de tudo, como também feito de tudo para conseguir o que bem queria. Eles ainda eram crianças, quando viram homens morrerem em sua frente pela primeira vez, e mal haviam se tornado adultos quando aprenderam sobre os meios de tirar a vida de alguém.

The Love We Share - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora