The Love We Share - Livro 1

34- Pequeno Gafanhoto

       
  ↬ Três dias antes - Segunda-feira ↫

O líquido amarelado descia por sua garganta de uma maneira quase que violenta, queimando todo o seu interior devido o alto teor de álcool que possuía naquele whisky escocês. Entretanto, a suavidade agridoce da baunilha que pinicava suas papilas gustativas juntamente do sabor de mel que mais parecia dançar em seu paladar, fazia valer a pena cada nota gasta naquela garrafa.

E assim como ocorria desde a semana anterior, Aoyama estava sozinho em seu escritório; usando roupas simples e confortáveis — o que significava que não existia nenhuma pretensão de sair de casa — com um copo de whisky pela metade em sua mão, deitado com postura desajeitada em sua poltrona chesterfield de couro marrom avermelhado, posta próxima a janela; o olhar vago e perdido preso no gelo que derretia dentro do copo, perdido em pensamentos, enquanto uma música clássica desfocada tocava em um volume ambiente.

Aoyama já não tinha mais certeza do que fazer, e aquilo o corria por dentro.

Ou a verdade era que não sabia exatamente o que fazer. Chisaki Kai ainda estava em sua casa, em um dos quartos de hóspede, apesar de estar sendo vigiado a todo momento por seus seguranças para impedi-lo de fugir. Enquanto Kirishima Isao estava sendo mantido preso em seu porão.

E o fato era que Aoyama tinha sonhado com aquele momento por anos; sonhado em por um fim naquela angústia que o atormentava desde a adolescência, quando teve de presenciar Tokoyami levando um tiro em seu lugar. Acabar com aqueles pensamentos que  atormentava sua mente sempre que tinha que sair de seu lugar seguro para  fazer os seus negócios; pensamentos esses que eram quase que paranoicos, de que algo iria dar muito errado caso aquela raposa continuasse a se meter em seu caminho. Uma coisa era uma tentativa frustrada de um possível sequestro orquestrado por uma gangue meia boca daquela cidade onde cresceu, outra era o mesmo membro daquela gangue meia boca ter crescido e ganhado confiança para estar em Londres e fazer um verdadeiro caos.

Aoyama tinha plena consciência de que Isao era alguém incapaz de se subestimar.
A raposa poderia muito bem tentar uma aproximação ou uma aliança com os peixes grandes que produziam as drogas de seus negócios fora da cidade e simplesmente ferrar com tudo, destruir anos do que sua família conquistou. E Aoyama não poderia arriscar que Isao se aliasse à alguém com ainda mais poder e influência que Chisaki; e não poderia arriscar que Tokoyami estivesse na mira de uma arma, ou que o lobo preto recebesse o projétil por sí para lhe proteger. Não queria arriscar passar por aquilo, não outra vez.

Isao era um problema; alguém que eventualmente viria a se tornar um perigo.

Isao era um problema que precisava ser eliminado.

Mas quando aquele dia finalmente chegou, não havia nem mesmo descido até o porão, não o torturou como gostaria — afinal, Isao poderia ter algumas informações que pudessem lhe servir de algum modo — e nem mesmo simplesmente o matou com suas próprias mãos como disse que faria.

As vezes quando se consegue o que tanto se deseja, o efeito esperado pode ser completamente diferente.

E ainda tinha que lidar com Nakajima Kenichi, — o seu sem igual lobo de rastreio, e aquele em quem mais confiava depois de Tokoyami — que não dava notícias e não retornava para a casa da família Aoyama já havia alguns dias.

Kenichi era leal a família Aoyama a mais de trinta anos; nunca questionou a razão de suas missões e sempre retornou com bons resultados. Porém, Aoyama não conseguia parar de pensar no que poderia ter acarretado para que Kenichi fizesse o que fez: ocultar informações sobre o filho de Bakugo Masaru — seu contador particular —  ter um relacionamento com Kirishima Eijiro, e ter informado o garoto Bakugo sobre o paradeiro de Eijiro, quando nem o próprio Aoyama sabia. Claro, o plano inicial era soltar Eijiro de qualquer forma, afinal, o garoto era apenas uma isca para atrair Isao até o local da emboscada.