The Love We Share - Livro 1

16 - Memórias

↬ Primeiro encontro ↫

Aquela não havia sido a primeira vez que Tokoyami Fumikage havia sido encarado de cima, enquanto estava jogado no chão daquela rua suja, após mais uma vez ser agredido por ter feito um péssimo trabalho ou por ter insultado algum cliente; sendo obrigado a ouvir todas aquelas palavras cruéis de que ele não passava de um lixo tão inútil quanto a mãe era. Mas naquele dia algo havia sido diferente. Enquanto sem forças nos braços tentava se levantar, seus olhos se encontraram com um incomum par de olhos lilases de um garotinho loiro com a idade aproximada a sua, e que diferente de sí, ele estava bem vestido com um conjunto social e suspensórios; parado ao lado de alguns homens em frente ao bar do lado; mas diferente do velho gordo e dono do bordel, ao qual era forçado a trabalhar após a morte de sua mãe e para que pudesse ter onde viver; aquele garoto que não passava de um simples humano, incapaz de emitir feromônios ou ter a força de uma sub espécie, lhe olhava com certa superioridade, como se estivesse diante da coisa mais ridícula e patética ao qual já havia visto na vida. Lhe perguntando silenciosamente se ele não iria fazer nada a respeito daquilo. E uma coisa Tokoyami havia tido certeza, se aquele garoto fosse um híbrido — e se aquela espécie existisse — com certeza ele seria uma cobra, do tipo que sempre está com fome e pronta para matar sua próxima presa. 

— ... E vá lavar a droga dos banheiros. — o dono do bordel ainda gritava, mesmo que sua mente e ouvidos simplesmente não tivessem mais lhe dando as devidas atenções. 

Tokoyami grunhiu de dor, caindo no chão mais uma vez ao ser chutado na barriga e um esfregão sendo jogado sobre sí. 

O pequeno lobo preto que mal emitia feromônios devida a sua pouca idade, mordeu o lábio inferior com raiva; a presa perfurando o lábio bem desenhado e fazendo um corte. O gosto de ferro do sangue sendo o único sabor de algo que havia sentido naquele dia. Então Tokoyami se agarrou ao cabo de madeira do esfregão, pedindo para que Deus ou até mesmo que o próprio demônio lhe desse forças, pois iria matar a maldito que lhe maltratava e que era unicamente o único responsável pela morte de sua mãe; era culpa dele e apenas dele, que forçou sua mãe a receber todas as noites todo tipo de clientes, sendo submetida a fazer coisas que sua mente ainda inocente era incapaz de imaginar. E sem saber quem era seu pai e sem ter para onde ir, só lhe restara viver ali. 

Tokoyami se levantou, cerrando o punho da mão que estava livre e apertando o cabo do esfregão com a outra. O dono do bordel lhe virara as costas, caminhando de volta para dentro do estabelecimento. 

— Você é o único que deveria morrer. — gritou, avançando e acertando o cabo do esfregão contra a cabeça do sujeito, partido o cabo ao meio. 

O homem cambaleou, rosnando xingamentos e se virou, acertando um soco no rosto do garoto que voltou ao chão. Tokoyami fechou os olhos e sorriu, se lembrando da mãe; os longos cabelos tão pretos quanto os seus, do sorriso gentil e das noites em que ela lhe contava histórias sobre sua terra natal e como um dia eles voltariam para lá. 

— Mamãe.. — pensou — Finalmente vamos para Kyoto. 

— Você deveria saber como se trata uma criança. — ouviu um homem dizer com um sotaque forte e carregado em suas palavras. Certamente ele era de outro país. 

Tokoyami abriu os olhos e inclinou a cabeça para trás, vendo que se tratava de um dos humanos que estava no bar ao lado. Ele era alto, cabelo longo e loiro, usava um terno vinho e luvas pretas, e em sua mão, estava uma arma. O garotinho estava ao seu lado, agachado com os olhos fortemente fechados e as mãos tampando os ouvidos. Tokoyami não entendia o porquê dele estar daquele jeito; até que ouviu o som de um disparo. Zumbindo em sua cabeça como se tivesse levado uma forte pancada. O homem se aproximou, abaixando-se ao seu lado e lhe tocou gentilmente no ombro; ele disse algo, mas não conseguiu ouvir. Sentiu seu corpo sendo erguido e um cheiro agradável que lhe transmitiu cuidado e conforto. Seus olhos se abriram em uma pequena fresta, o suficiente para ver o dono do bordel, jogado no chão e com sangue manchando o chão. Seus olhos voltaram a se fechar, se entregando ao cansaço e a fome. E então finalmente desmaiou.