48 - Plano de vingança

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A doce risada de Jirou era um som que preenchia todo o quarto, mas aquele era um som ao qual Denki não conseguia ouvir. E Neito, que desfilava pelo quarto usando uma combinação ridícula de roupas estampadas e acessórios, para Denki, aquilo não passava de uma imagem distante e distorcida.

Perdido nos próprios pensamentos, Denki sabia que não estava sendo muito justo com Neito; que ele deveria estar ao seu lado o apoiando, assim como Jirou estava fazendo. Deveria estar o encorajando para aquele encontro, lhe dando algumas dicas sobre como se comportar para não o chamar atenção desnecessária.

Mas Denki simplesmente não conseguia. Não com aquela sensação de que algo estava muito errado.

Por Deus, se ele pudesse, ele simplesmente trancaria o irmão dentro de casa.

Mas aquilo seria exagero, e uma parte de Denki sabia disso; que esse desejo se dava ao simples fato de que era porque ele fora quem nasceu primeiro. O gêmeo considerado como o irmão mais velho. Aquele cujo instinto de proteção era voltado principalmente para o irmão.

Entretanto, não era como se algo tão pequeno como aquilo, realmente o incomodasse. Afinal, Denki tinha certeza que já se preocupava com irmão, desde que ambos compartilharam do mesmo ventre.

Porque diferente de Denki, que nasceu saudável, Neito literalmente morreu por um minuto durante o parto; sufocado com o próprio cordão umbilical, que havia se enrolado em seu pescoço.

E talvez fosse por essa razão que os instintos de Denki se afloraram cedo de mais; fazendo com que ele fosse mais protetivo e cuidadoso com o mais novo, mesmo quando ambos ainda eram filhotes. Sempre o incluindo em sua rotina para mantê-lo por perto ou que para pelo menos fizesse alguns amigos; visto que Neito sempre preferiu ficar sozinho brincando com suas tintas.

E Denki odiava vê-lo sempre sozinho.

Mas isso foi algo que mudou no início da adolescência. Quando as pessoas passaram a desejar serem fisgadas por aquele par de olhos azuis; tendo seus corpos nús pincelados em telas brancas.

Todos queriam apenas uma chance.

Homens ou mulheres, todos queriam ir para a cama com Neito.

E diante de uma aventura ou outra, Denki quase se sentiu aliviado quando Neito conheceu Kendou e eles passaram a se relacionar. Kendou era uma raposa vermelha adorável, lhe daria uma ótima parceira, apesar de serem de espécies distintas. Mas isso foi até Neito conhecer Tetsu, e Tetsu conhecer Kendou, e os três passarem a se relacionar juntos.

— É só um lance que nós temos, não é nada sério. — Neito sempre lhe dizia.

Bem, Denki nunca se importou com quem o irmão saciava seus desejos sexuais, sua preocupação sempre foi Neito se envolver com algum maluco que pudesse lhe fazer algum mal.

Seu estômago se revirava só em imaginar.

Mas lá estava Neito, em um relacionamento sem definições com Tetsu e com outro lobo beta, que por sinal tinha o cabelo ridículo de duas cores. Qual era o problema dele afinal?

— O que acha baby? — perguntou Jirou, lhe tirando de seus pensamentos. Ela tinha um sorriso tão lindo no rosto, que Denki se lamentou por não estar realmente ouvindo.

Entretanto, Denki encarou Neito; que o olhava com certa expectativa e com um pequeno sorriso no rosto, como se estivesse aguardando por sua aprovação para algo. Mas Neito só estava nervoso.

E Denki se sentiu estupido, por não dar atenção ao que realmente importava.

— Eu acho que você está se preocupando de mais. — ele disse, soltando um suspiro — É só um encontro, não uma declaração de guerra contra o governo.

The Love We Share - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora