37 - Inimigo invisível

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Sentado em sua cadeira no escritório, Aoyama suspirou, expelindo a fumaça do cigarro que estava preso entre seus lábios; sem se importar com as cinzas que caiam sobre sua camisa social preta. Seus olhos estavam atentos na tela do computador a sua frente, lendo e relendo várias vezes aquelas mesmas palavras ao qual foram  escritas por um jornalista. Era como se Aoyama estivesse preso em um looping de questionamentos; se perguntando cada vez mais que porra era aquela que ele estava lendo.

"Duas toneladas de drogas são encontradas em armazém."  

"Organização criminosa especializada em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, atuava em pelo menos cinco estados."  

"A polícia  ainda suspeita de um  possível envolvimento com a prostituição. "  

"Ao todo, 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Entre as apreensões estão carros de luxo, joias e pelo menos 50 milhões de dólares. "

"Chisaki Kai será transferido para o presídio de Tóquio, onde aguardará pelo seu julgamento."

Não seria surpresa alguma que uma matéria como aquela seria publicada após a prisão de Chisaki; revelando seus esquemas de tráfico, o envolvimento da empresa de sua família com a lavagem de dinheiro, e qualquer outro possível crime que Chisaki vinha cometendo para continuar esbanjando de uma vida luxuosa.

Mas para Aoyama, uma peça muito crucial estava faltando para aquela história fazer sentido.

A começar, se aquela investigação envolvia uma organização criminosa, porque apenas Chisaki fora preso? O fato de uma organização criminosa atuar em pelo menos cinco estados, significava que essa organização não era recente e nem mesmo pequena, o que deixava mais que óbvio que Chisaki não poderia ser a cabeça por de trás de todo e qualquer esquema; visto que de acordo com as informações obtidas diretamente com Miruko, havia apenas dois anos que Chisaki estava envolvido com o tráfico de drogas. Nem mesmo a yakuza conseguia expandir seus  territórios e dominar grandes áreas em tão pouco tempo.
E o que era aquele possível envolvimento com a prostituição? Aoyama o conhecia tempo o suficiente para saber que Chisaki não  comandaria algo como aquilo; que ele não era tão desesperado a ponto de se rebaixar e comandar um bordel, afinal, até para quem era criminoso, existia um limite.

Leves batidas na porta o tirou de seus pensamentos; dando uma última tragada no cigarro ao que Tokoyami adentrou na sala, carregando uma bandeja com café, torradas e frutas.

— Você precisa comer. — disse Tokoyami, se aproximando e colocando a bandeja sobre a mesa; logo contornando a mesma para abrir as cortinas e janelas  — Ou coma pelo menos as frutas e depois vá tomar um banho, sua cara tá péssima! Hoje é dia de coleta e precisamos ir conferir a mercadoria que será enviada pra França, e pela tarde temos...

— Ei Fumi, — o interrompeu, girando a cadeira para ficar de frente para ele — quanto gastamos com a produção da nossa cocaína?

Tokoyami franziu o cenho, confuso com aquela pergunta, afinal, Aoyama analisava  cuidadosamente o quanto gastava com a produção e principalmente o quanto ganhava com o lucro. Mas responder era melhor do que questionar.

— Cerca de vinte milhões.

— E quanto seria se comprássemos a droga já pronta e diretamente de um fornecedor?

— Depende da quantidade. Se for a mesma quantidade que produzimos, provavelmente gostaríamos o triplo.

— Isso não faz sentido. — resmungou, se levantando da cadeira e andando de um lado para o outro — O Kai estava praticamente falido antes de irmos para a França. Ele não tinha dinheiro para investir em materiais para produção de drogas, muito menos para pagar pela mão de obra. — suspirou, encarando Tokoyami — E comprar diretamente de um fornecedor, iria lhe custar muito mais.

The Love We Share - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora