The Love We Share - Livro 1

38 - O pior cenário possível

Era mais ou menos começo de outubro, se dando início ao frio do outono; com as folhas das árvores começando a amarelar e a cair, encobrindo as ruas com aquele tom alaranjado. Shinsou se recordava do frio gostoso que fazia naquele dia, do moletom roxo que usava; o seu casaco favorito. Como também se recordava que havia feito 10 anos aquele ano; que se sentava ao lado da janela e ficava se distraindo com qualquer movimentação que acontecia do lado de fora da mesma, principalmente durante as aulas de matemática. Shinsou nunca havia gostado de números, eles sempre se confundiam em sua cabeça.

Naquele dia as aulas haviam sido encerradas mais cedo, e Bakugo, que naquele ano estava em uma turma diferente por ser mais avançado, entrou em sua sala como o furacão que era; esbarrando e tropeçando nas mesas, carregando um grande sorriso no rosto. E claro, atraindo a atenção das garotas, que cochichavam e soltavam risadinhas entre sí.

— Ei Shinsou, vamos pro fliperama!! — disse  com a voz elevada e um brilho nos olhos; sua cauda balançava tão rápido em empolgação,  que batia contra a cadeira atrás de sí, fazendo um barulho alto — Ouvi dos outros garotos que saiu o novo jogo do All Might. Não é incrível?

— Wow, não brinca! — um sorriso se formou em seu rosto; animado com a ideia de passar um tempo se divertindo com o melhor amigo.

Mas seu sorriso logo se desfez.

Shinsou vasculhou a própria mochila, pegando de lá uma bolsinha cinza e redonda, onde guardava seu dinheiro. Ali havia algumas poucas moedas, o suficiente apenas para comprar o macarrão instantâneo que iria jantar naquela noite. Dinheiro esse que havia sobrado da pouca mesada que havia recebido do tio no mês anterior, já que sua mãe simplesmente não se importava com nada.

— Ah.. eu.. eu não posso ir. — murmurou, sem olhar para Bakugo.

— Vamos, eu vou comprar as fichas. — Shinsou iria retrucar alguma outra desculpa, talvez que deixassem para outro dia. Mas Bakugo era muito insistente quando queria algo, e então ele simplesmente o segurou pela mão, o arrastando para fora da sala.

E aquele detalhe ainda era bem marcante na personalidade de Bakugo.

*

Os garotos saíram do fliperama pouco depois das duas da tarde, — quando as fichas para os jogos finalmente havia acabado — seguindo caminho para a loja de conveniência que ficava a caminho de casa. Ainda em completo êxtase com o novo jogo de combate do All Might; sorrindo animados e ansiosos para voltarem ao fliperama outra vez e baterem o próprio recorde.

— Oh, verdade, você disse que tinha conseguido a edição cinquenta e sete do Eraserhead. — comentou Bakugo, enquanto comia um salgadinho e olhava as revistas em quadrinho perto do caixa, onde Shinsou pagava pelo seu macarrão instantâneo.

— Meu tio que me deu. — sorriu convencido, se juntando ao amigo — Posso te emprestar... se admitir que o Eraserhead é o melhor.

— Não.. Minha mãe disse que é feio mentir. — rebateu rindo.

Shinsou se recordava de que eles seguiram pela rua, em meio a uma discussão boba sobre qual super herói era o melhor, enquanto dividiam o pacote de salgadinho.

Em algum momento, quando estavam na frente de sua casa, Bakugo lhe entregou o pacote de salgadinho para que o segurasse, enquanto procurava por algo dentro da mochila, provavelmente um desenho, Shinsou não tinha certeza, por não se recordar exatamente desse detalhe. Mas ele lembrava do seu sorriso se desfazendo, do seu bom humor de um dia divertido sendo substituído pelo medo e o receio do que poderia acontecer; e se lembrava de ficar  completamente paralisado ao ver sua mãe saindo pelo portão.